grey weather

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Aquele não tinha sido um bom dia. Lucas havia sido suspenso por 1 dia do colégio. Motivo? Mandou um professor tomar no cu. Não que aquela atitude fosse correta, mas ser assediado durante o período inteiro pelo seu professor de educação física transfobico mexeu com a paciência dele.

Era um pouco depois da hora do almoço quando Vi precisou sair do trabalho de defensora para buscar o garoto no colégio. Ele usava o uniforme de ginástica, visivelmente irritado por ter levado suspensão, a primeira em sua vida.

"Você sabe que não é assim que se resolvem as coisas, não é mesmo?"- Vi perguntou, com os olhos vidrados no volante.

"Sei"- Lucas respondeu.

"Então por que você falou aquilo? Seu professor é um cuzão, mas você não pode se rebaixar ao nível dele"- Vi disse.

"Eu não sei, eu só fiquei tão cheio que não pensei duas vezes antes de mandar ele tomar no cu"-  Lucas disse, suspirando fundo.

Vi notou que o garoto estava chateado com a situação. Não adiantaria reclamar com ele, que é a real vítima de tudo isso.

"Nós vamos resolver isso, tá bom? Eu vou falar com Cait e não vamos deixar ele sair impune"- Vi disse, ainda com os olhos no volante.

O garoto apenas assentiu e continuou olhando para a janela, encostado na porta do carro. Vi conhecia seu irmão e sabia que ele estava muito chateado para falar qualquer outra coisa.

Quando chegarem em casa, o clima permaneceu triste e calado, assim como no carro. Lucas apenas se deitou em sua cama, não ligou seu videogame ou pegou sua bola de futebol para jogar no quintal. E o dia se seguiu cinza, calado.

Mesmo quando Cait chegou do trabalho, o clima continuou cinza. O jantar foi calado, a comida parecia sem gosto e só se escutava o barulho dos garfos e facas batendo no prato. Ele não queria falar, se culpava pelo o acontecido. A comida descia rasgando pela garganta, assim como a culpa.

Depois do jantar, nada mudou. O garoto subiu de volta ao seu quarto, usando as mesmas roupas de ginástica de mais cedo. Vi sentia seu coração esmagado pela dor de seu irmão. Ela queria apenas o enrolar em um cobertor quentinho e protegê-lo do mundo.

Já não tinha sido a primeira vez que o professor de educação física implicava com Lucas, mas a diretoria nunca levou as denúncias para a frente, sempre deixavam esfriar. Talvez Vi fizesse coisa pior do que mandar o professor tomar no cu, ninguém podia mexer com o diabinho dela.

Naquele momento ela precisava cuidar do seu diabinho, mais do que nunca. Ele estava tão deprimido, se sentindo culpado por tudo. E ela sabia que ele precisava da ajuda dela, mas que não admitiria.

Caitlyn estava lavando a louça, Vi, por trás, abraça sua namorada, beijando seu pescoço. Então, encosta a cabeça no ombro dela.

"Não é justo que ele passe por isso, ele é só um garoto"- Vi disse.

"Sei bem disso, e vamos resolver. Vou conversar com minha mãe para ver o que ela recomenda fazer. Talvez o conselho ajude"- Caitlyn respondeu.

"Eu quero animar ele, fui escrota em repreender em vez de acolher. Ele apenas se defendeu, como eu vazia quando tinha idade dele"- Vi disse.

"Eu sei, meu amor, você tava sem cabeça para lidar com isso, mexeram com seu irmão e isso te pegou. Agora tente mostrar que você está disposta a acolher ele, você viu como ele mal falou no jantar"- Caitlyn disse.

"Eu percebi, ele não fez nada desde que chegou do colégio. Apenas dormiu. Nem trocou a roupa de ginástica. Estou preocupada dele ter tido alguma crise e ter escondido da gente. Você sabe o quanto somos autodestrutivos"- Vi disse, suspirando fundo.

"Acho que ele precisou de um tempo para processar tudo o que aconteceu, assim como você. Ele é adolescente, Vi. Nem tudo ele vai querer falar para nós. Mas dê uma checada nele, talvez ele só esteja esperando você para conversar"- Caitlyn disse, enquanto lavava uma das louças.

"Tem razão, Cupcake. Vou falar com ele"- Vi disse, logo em seguida beijando o pescoço de Caitlyn.

Vi se solta do abraço de Caitlyn e sobe as escadas. No corredor, ela quase tropeça em algo e percebe que é um dos tênis do diabinho. Ela guarda o tênis na sapateira do banheiro. Quando olha para a banheira, é como se uma lâmpada se acendeu em sua cabeça.

Quinze minutos depois, ela bate na porta do quarto de Lucas, perguntando se poderia entrar.

"Pode entrar"- Respondeu o garoto.

"Ei irmãozinho"- Vi disse, entrando no quarto.

Ela entra no quarto e senta na ponta da cama, ao lado de seu irmão, que estava sentado abraçado a seu cachorro de pelúcia.

"Queria ver você"- Vi disse, olhando para o garoto.

"Aqui estou"- Respondeu o garoto.

Ela ri e dá um empurrãozinho no ombro dele.

"Sei que hoje não foi um dia legal para você. Imagino que essa sua cabecinha tá cheia de tempestades"- Ela disse, apontando pra testa de Lucas.

"Tá foda, honestamente. A escola não faz porra nenhuma em relação à isso, é como se eu fosse um animal selvagem"- Lucas disse, suspirando fundo.

"Deve ser foda, diabinho. Quando eu e Cait sofremos homofobia no trabalho foi a mesma coisa. A única vontade que eu tive foi de socar o cara, mas precisei me conter"- Vi disse.

"É foda, e se nós defendermos saimos como errados da história"- O garoto retruca.

"Nós somos a minoria, infelizmente. Se pisarmos na bola, somos os primeiros à serem culpados. A vida é injusta, garoto, mas tem algumas coisas que podemos fazer para que ela seja um pouco menos difícil"- Vi disse, suspirando.

"É, mas continua uma merda"- Ele respondeu.

"É, continua uma merda, mas continua uma merda menor e menos estressante. Se estamos fortes, é mais fácil encarar. Não é fácil ser forte, mas tentar já é um bom começo"

"Você tem razão"- Lucas respondeu.

"Eu sempre tenho"- Vi ri.

O garoto ri, sentindo o peso de suas costas se aliviando.

"Eu preparei um banho especial para você, porque cara... você tá precisando"

"Cala a boca"- Ele ri.

Vi chega perto do garoto e dá um abraço, gentilmente fazendo círculos em suas costas.

"Você sabe que sempre pode contar com sua irmã mais velha, não é mesmo?"- Vi perguntou.

"Claro que sei, você sempre me diz isso"- Lucas respondeu.

"Ótimo, que bom que sabe"- Ela sorri. "Agora vamos, você precisa de um banho"- Ela disse, guiando o garoto até o banheiro.

Os dois entram no banheiro do corredor, revelando o "banho especial" que Vi havia preparado. A banheira estava cheia de bolhas, a água estava tingida de azul, uma bomba de banho de futebol ao lado da banheira. Na bancada, um reprodutor de galáxia apontado para o teto, assim como um roupão pendurado.

"Você preparou o banho igual quando eu era criança"- Disse o garoto.

"Você precisava relaxar hoje, achei que merecia"- Vi sorriu. "Aproveita, diabinho, você teve um dia puxado hoje".

Lucas assente com a cabeça, que tem um sorriso de sua irmã em resposta.

"Agora vou te deixar sozinho para aproveitar. Bom banho, campeão"- Vi disse.

Vi acendeu o reprodutor e antes de sair, desligou as luzes, criando uma atmosfera aconchegante no banheiro.

Ela sorriu enquanto descia as escadas, sabendo que ela faria até o impossível para proteger seu irmão mais novo.

Sister's Little Devil (Arcane Modern AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora