Vai mata-lo?

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A dor de cabeça me invadiu de forma avassaladora, como se mil martelos estivessem batendo dentro do meu crânio. Abri os olhos lentamente, atordoada, e me deparei deitada em uma cama estranha.

O quarto estava mergulhado na escuridão, e por um momento, pensei que ainda estivesse sonhando. Forcei a visão e consegui distinguir uma poltrona não muito longe.

— Tem alguém aqui? — perguntei, minha voz saindo mais fraca do que eu esperava. Ninguém respondeu.

O silêncio era sufocante, e o medo começou a se apoderar de mim. A última lembrança clara que eu tinha era de Mendonça, mas depois disso, tudo se apagava. Onde eu estava? E por que?

De repente, uma voz feminina irrompeu na escuridão, cortando o silêncio como uma faca:

— Em 1990, seu pai se envolveu com Antônio, o braço direito de Mendonça. Antônio nunca foi de confiança, mas Mendonça acreditava que todo mundo merecia uma segunda chance. Eu, no entanto, sempre soube que Antônio não devia nem ter nascido.

A voz desconhecida carregava um tom amargo e sério. Fiquei em silêncio, atenta a cada palavra.

— Em 17 de agosto de 1990, Antônio tentou matar Mendonça durante um jantar de negócios. Pagou para que alguém atirasse nele, mas, graças a Deus, os seguranças agiram rápido e o tiro falhou. Sempre avisei Mendonça sobre Antônio, mas ele nunca me ouviu... até que, em 1999, Antônio finalmente conseguiu. O atirador disparou cinco tiros em Mendonça, todos na perna esquerda. Conseguimos levá-lo ao hospital a tempo, mas foi tarde demais para a perna. Tiveram que amputá-la.

Ela fez uma pausa, como se quisesse que a gravidade da história me atingisse em cheio. Meu coração estava disparado.

— Não foi só isso. Depois, houve outro ataque, dessa vez contra Érica, mas falharam de novo. Foi quando Mendonça decidiu que era hora de se aposentar e entregar o controle para sua filha, Marília. É aí que entra o seu pai. Talvez você esteja se perguntando: "O que ele tem a ver com isso?". Bem, seu pai foi o homem que disparou os tiros contra Mendonça e Érica.

— Mendonça fez Marília jurar que, mais cedo ou mais tarde, ela derramaria o sangue de todos que merecessem.

— Maiara, seu pai não é tão santo quanto você pensa. Agora você sabe a verdade.

Senti um frio na espinha. Eu sabia que meu pai não era um homem perfeito, mas essa parte da história, essa conexão com Marília e com Mendonça, ninguém jamais havia me contado. Era como se, a cada novo dia, um pedaço oculto da minha vida viesse à tona.

Meu coração batia forte. Não sabia mais em quem confiar. Quem eram realmente meus pais?

— Quem é você? — perguntei, tentando identificar a silhueta da mulher na escuridão.

Ela deu um passo à frente, o suficiente para que eu pudesse vislumbrar seus traços.

— Érica Dias Mendonça, mãe de Marília e esposa de Mário — disse, com uma frieza cortante. Então, virou-se em direção à porta, mas antes de sair, me olhou por cima do ombro com um sorriso gelado. — E só um aviso: se eu pegar você transando com a minha filha nesse quarto, que é o meu, eu te mato.

Ela saiu e fechou a porta atrás de si. Percebi que a porta não havia sido trancada.

Por alguns minutos, fiquei ali, imóvel, tentando processar tudo o que havia acabado de ouvir. Minha mente estava em caos. Tudo o que eu queria era sumir, fugir desse mundo que parecia cada vez mais insano.

Com cuidado, me levantei da cama e caminhei em direção à janela. Ao abrir uma pequena fresta da cortina, a luz do sol invadiu o quarto, iluminando parte do ambiente sombrio. Abri a porta de vidro e fui até a sacada. Ao olhar para baixo, vi que não era tão alto. Eu poderia pular.

Vidas Cruzadas Pela DorOnde histórias criam vida. Descubra agora