Desde que me lembro, minha vida tem sido uma sequência interminável de dias iguais, enclausurado nesta torre com minha mãe. Cada amanhecer é marcado pela mesma rotina, um ciclo repetitivo que não muda nunca.
Os primeiros raios de sol entram pela janela, e eu me levanto para enfrentar mais um dia de monotonia. Leio os mesmos livros, toco as mesmas peças no piano, escrevo poemas e rascunhos que nunca serão lidos por ninguém além de mim.
Reorganizo os móveis da torre, sempre em busca de uma nova disposição que, no fundo, muda apenas a forma como as sombras se projetam nas paredes. Minha única janela para o mundo exterior é grande, mas a vista é limitada - uma paisagem que parece estar eternamente congelada no tempo, assim como minha própria vida.
Desde os meus seis anos, sonho com o dia em que minha mãe me permita sair dessa torre. Às vezes, imagino uma viagem rápida para explorar o mundo lá fora, mesmo que apenas para sentir o vento no meu rosto e ver as cores da primavera que parecem tão distantes. Mas, para ela, a torre é um abrigo necessário, um lugar seguro que nunca deve ser deixado.
Hoje, estava mais uma vez reorganizando os móveis no meu quarto, uma tarefa que se tornou quase meditativa para mim. Enquanto arrumava as gavetas da cômoda ao lado da minha cama, meus dedos tocaram algo inesperado: uma foto antiga, empoeirada, que eu havia guardado em um dos compartimentos.
Na foto, eu estou com outro bebê. Não era uma imagem de um estranho, mas alguém que, pela primeira vez, me fez sentir um vazio profundo. Quando perguntei à minha mãe sobre quem era o bebê ao meu lado, ela me respondeu com uma frieza que me cortou o coração:
– Era seu irmão mais velho, Sirius. Ele nasceu um ano antes de você, mas morreu por problemas de saúde.
Essas palavras ecoaram em minha mente, e a tristeza me envolveu como um manto pesado. Eu sempre imaginei como seria ter um irmão ao meu lado, alguém com quem compartilhar as horas longas da torre, alguém para brincar e rir junto.
A ideia de que ele nunca esteve realmente ao meu lado, de que a única evidência de sua existência é aquela foto empoeirada, me deixou com um sentimento de perda que nunca conheci antes. Mantenho a foto guardada perto de mim, um lembrete silencioso do que nunca será.
Voltei a organizar minhas gavetas enquanto o tempo passava, aguardando a chegada de minha mãe. É a semana de compras, o período em que ela sai todos os dias para buscar o que precisamos na aldeia próxima.
A tarefa é cansativa, e leva cerca de sete dias para conseguir tudo, porque ela carrega as compras em uma cesta que nunca parece ser grande o suficiente. Durante sua ausência, a torre fica silenciosa, e eu me concentro em minhas tarefas, aguardando ansiosamente o momento em que ela retorna.
Este domingo, no entanto, será especial: meu aniversário de 17 anos. Planejo conversar com minha mãe dois dias antes para discutir uma coisa que gostaria de ganhar de presente. Espero que, pelo menos por um momento, ela veja além de sua própria rigidez e ouça meu pedido. Talvez, se eu conseguir expressar o que realmente desejo, ela permita um vislumbre do mundo que está além dessas paredes.
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**Sirius POV**
Já se passaram 16 anos desde que meu irmãozinho foi sequestrado e levado de nós. A dor da perda nunca diminuiu, e mesmo após todo esse tempo, nossa família continua sentindo profundamente a ausência dele.
Eu me lembro do dia em que o vi pela primeira vez como se fosse ontem. Seus pequenos olhinhos se encontraram com os meus, e, quando fiz uma careta para ele, ele sorriu para mim com uma pureza que só uma criança poderia ter. Naquele instante, eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. Jurei protegê-lo para sempre, mesmo sabendo que a responsabilidade era grande para alguém tão jovem. Mas, pouco depois, ele foi levado para longe, arrancado de nossas vidas de forma brutal e inexplicável.
As buscas por ele continuam sem descanso. No entanto, apesar dos esforços e das pistas falsas, não houve nenhum avanço significativo. A dor e a esperança estão entrelaçadas em meu coração. Não vou desistir de procurar até encontrá-lo. Acredito firmemente que ele está vivo, vivendo em algum lugar com uma família que acredita ser a sua verdadeira. A busca é minha missão, e, enquanto houver um fio de esperança, eu continuarei a lutar.
Faltava oito dias para seu aniversário de 17 anos, em todos os anos que se sucederam a seu desaparecimento temos feito algo em sua homenagem, também sendo uma forma de o ajudarmos a encontrar o caminho de volta para casa.
No dia do seu aniversário acendemos lanternas voadoras em formato de estrelas no céu, e todo o reino colabora com isso, então a noite o céu fica completamente iluminado disso, e abraço minha mãe e meu pai enquanto observamos elas e alimentamos a esperança de um nos reencontrarmos.
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Belle Étoile - Starchaser
FanfictionEm um reino distante, Regulus Black e seu irmão Sirius vivem confinados em uma torre isolada, mantidos em cativeiro por sua mãe, a temida Walburga Black. Com o passar dos anos, Regulus nutre uma profunda tristeza pela ausência de Sirius. À medida qu...