Capítulo 1 - Zoe e Eu

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Fred Narrando

Eu me lembro como se fosse ontem. Aquele hospital, as luzes frias e a atmosfera carregada de tensão. Eu, Frederico Albuquerque de Almeida, aos 17 anos, estava sentado com as mãos trêmulas na pequena sala de espera. Não tinha ideia do que esperar, nem de como minha vida mudaria completamente em questão de minutos. A notícia de que eu seria pai havia sido um choque. Um garoto, quase sem entender a vida, agora teria que cuidar de outra. 

 Quando ouvi o choro de Zoe pela primeira vez, algo dentro de mim mudou. O peso da responsabilidade caiu sobre mim como uma avalanche, e de repente, toda a incerteza foi varrida por um sentimento inesperado: amor. Amor por aquele ser tão pequeno e frágil que agora dependia completamente de mim. Foi um momento doce e amargo, pois logo em seguida Sara Gomes Ferraz, a mãe de Zoe, que tinha apenas 16 anos, se virou para mim com os olhos cheios de lágrimas. "Fred, eu... eu não consigo. Não estou pronta pra ser mãe", ela disse com a voz vacilante. 

 Eu não sabia o que dizer. Estávamos ambos apavorados, mas, ao contrário de mim, Sara não sentia o mesmo impulso para enfrentar aquilo de frente. Ela olhou para Zoe, hesitou por um segundo e, em seguida, colocou a responsabilidade toda sobre os meus ombros. Era como se um mundo desmoronasse dentro de mim, mas ao mesmo tempo, algo me manteve de pé. Meu pai, Nilson Almeida, e minha mãe, Marina Albuquerque, me apoiaram incondicionalmente desde o começo. Sem eles, eu não teria conseguido. Eles seguraram minhas mãos, me deram força e me ajudaram a ser pai para Zoe, mesmo quando eu mal sabia cuidar de mim.

 Agora, aos 25 anos, eu olho para trás e vejo como tudo isso me moldou. Não foi fácil, mas cada decisão, cada sacrifício, me trouxe até aqui. Hoje, sou o fundador e CEO da Technology Prodigy, uma empresa multimilionária de tecnologia que nasceu do desejo de garantir o futuro da minha filha. Construí um império do zero, mas nenhum sucesso profissional se compara à tarefa de ser pai de Zoe. 

 Zoe... ah, Zoe. Com seus cinco anos, ela é energia pura. Uma criança doce, sim, mas também travessa como ninguém. Eu a amo mais do que qualquer coisa neste mundo, mas vou admitir: ela me dá trabalho. Especialmente quando se trata das babás. Nenhuma delas dura muito tempo, e agora, parece que perdi mais uma. 

 Estava revisando relatórios quando meu telefone tocou. Era minha mãe. 

 — Fred, precisamos de você em casa. Zelda está pedindo demissão. 

 — De novo? O que foi dessa vez? — perguntei, já prevendo a resposta. 

 — Zoe pregou mais uma peça nela, colocou tinta no cabelo da coitada enquanto ela dormia no sofá... — minha mãe suspirou do outro lado da linha. — Acho que dessa vez não tem volta.

 Soltei um longo suspiro. Sabia que isso ia acontecer eventualmente. Zelda era paciente, mas até ela tinha seus limites. Eu me despedi rapidamente do pessoal do escritório e corri para casa. 

 Quando cheguei, Zelda estava na porta, com as malas prontas. O cabelo dela, antes grisalho, agora tinha mechas roxas e verdes. Zoe, claro, estava no canto da sala, com um sorriso travesso, fingindo inocência. Eu tentei uma abordagem conciliadora. 

— Zelda, por favor, eu posso pagar um bônus, podemos resolver isso — sugeri, na esperança de mantê-la por perto. Ela balançou a cabeça, exasperada. 

 — Fred, querido, eu adoro Zoe, mas isso... — apontou para os cabelos tingidos — ...foi a gota d'água. Nem por todo o dinheiro do mundo eu ficaria aqui. 

 Olhei para Zelda, e apesar da situação, senti uma pontada de culpa. Ela tinha sido uma das melhores que já havíamos contratado. Mas Zoe... bem, Zoe era Zoe. 

 — Tenho certeza de que ela não fez por mal... — comecei, mas Zelda me interrompeu. 

 — Fred, eu sei. Ela é uma criança maravilhosa, mas é travessa demais para mim. Precisa de alguém com mais energia, mais paciência. Eu sinto muito, mas não posso mais fazer isso. Suspirei profundamente, sabendo que não havia muito o que fazer. 

 — Entendo, Zelda. De qualquer forma, obrigado por tudo. Por tudo o que fez por nós durante esse tempo — respondi, me esforçando para soar compreensivo, embora internamente estivesse frustrado. — Você sempre será bem-vinda aqui.

Ela sorriu levemente, tocando meu ombro com um gesto de carinho antes de pegar as malas e se virar para a porta. Minha mãe, que havia estado na sala em silêncio até então, se aproximou e me lançou um olhar de quem sabia que aquilo não seria fácil.

— Ela só precisa de alguém que entenda melhor o jeito dela, Fred. Talvez... — começou minha mãe, mas eu a interrompi, exausto.

— Mãe, eu sei. Mas onde eu vou encontrar alguém assim? Zoe já passou por tantas babás que eu estou começando a achar que o problema sou eu.

Marina sorriu de leve e balançou a cabeça.

— O problema não é você, Fred. Você faz o melhor que pode. Mas cuidar de uma empresa e de uma criança tão cheia de vida como Zoe... é muito para uma pessoa só. Você precisa de ajuda, e não só de alguém para manter as coisas em ordem. Precisa de alguém que realmente se conecte com ela.

Olhei para Zoe, que naquele momento tentava, sem sucesso, evitar meu olhar. Ela sabia que tinha passado dos limites dessa vez. Aproximei-me dela e me ajoelhei para ficar na sua altura.

— Zoe — comecei, com a voz suave, mas firme. — Você sabe que eu te amo, certo?

Ela assentiu, os olhos cheios de arrependimento.

— Então, por favor, me ajuda. As pessoas vêm aqui para cuidar de você porque eu não consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo. Eu preciso delas tanto quanto você precisa. Eu sei que você gosta de se divertir, mas... precisa ser mais gentil.

Ela olhou para mim, os olhos verdes — tão parecidos com os da mãe — cheios de culpa e compreensão.

— Desculpa, papai. Eu só queria brincar com ela. Eu não sabia que ela ia ficar tão brava... — sua voz saiu baixinha.

Suspirei novamente, passando a mão pelos meus cabelos. Aquilo me atingia de duas maneiras: o pai que entendia a vontade de brincar da filha e o empresário que estava vendo sua vida se complicar cada vez mais.

— Tudo bem, querida. Mas precisamos melhorar isso, certo?

Ela assentiu de novo, dessa vez com mais convicção. Eu sabia que ela tentaria, mas também sabia que Zoe era uma criança especial, com um espírito travesso e uma energia difícil de conter.

Minha mãe, sempre atenta, se aproximou de nós e colocou a mão no meu ombro.

— Vou ver se encontro alguém novo para ajudar. Talvez uma indicação de alguém da família. Vai ficar tudo bem, Fred. Você sempre deu conta, vai dar conta disso também.

Eu sorri, embora por dentro me sentisse mais exausto do que nunca. Entre minha filha, minha empresa e todas as responsabilidades que pairavam sobre meus ombros, o fardo estava ficando cada vez mais pesado. Mas havia uma verdade inescapável em tudo aquilo: por mais que o caos reinasse ao meu redor, Zoe era a razão de cada esforço. Ela era o motivo pelo qual eu construí o que construí, o motivo pelo qual eu me levantava todos os dias, apesar das dificuldades.

Deixei Zelda partir, sabendo que precisaria de um plano melhor. Um novo começo estava à nossa frente, e com sorte, eu encontraria alguém capaz de ajudar a equilibrar minha vida com Zoe e o caos que ela trazia consigo.

Eu só não imaginava que esse novo começo traria consigo muito mais do que eu esperava.

Uma mãe perfeita para minha filhaOnde histórias criam vida. Descubra agora