Capítulo 2: O Começo de Tudo

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Kate Narrando

A vida nunca foi fácil para mim. Desde muito nova, aprendi que as coisas nem sempre saem como planejamos e que às vezes o destino nos joga desafios que mal sabemos como lidar. Meu nome é Katherine Ferreira Santos, mas todos me chamam de Kate. Tenho 23 anos e estou cursando pedagogia, mas antes disso, já vivi experiências que moldaram quem sou hoje.

Eu tinha apenas 14 anos quando tudo começou a mudar. Minha mãe, Roberta Ferreira, tinha acabado de dar à luz meu irmão, Romeu Ferreira dos Santos. Ele era uma benção em nossas vidas, mas nosso pai... bem, ele não soube lidar com a chegada de um novo filho. Era um homem agressivo, amargurado, e o álcool o transformava em alguém ainda mais perigoso. Era como viver com um estranho dentro de casa, sempre andando na ponta dos pés, temendo o próximo ataque de fúria.

Tudo piorou quando, dias depois do nascimento de Romeu, meu pai causou um acidente de carro. Estava dirigindo bêbado, como sempre, e dessa vez ele não só tirou a própria vida, mas também a de uma família inocente que estava na estrada. Foi um choque para todos nós. Apesar de tudo, ele era meu pai, e sua morte deixou um vazio... mas foi o impacto daquele acidente que realmente mexeu comigo.

Enquanto tudo isso acontecia, minha mãe afundava cada vez mais em uma depressão profunda. A morte do meu pai, por mais horrível que ele tenha sido, e o peso de cuidar de Romeu sozinha a destruíram por dentro. Com a situação em casa ficando insustentável, não tivemos escolha a não ser voltar a morar com meus avós, Dona Maria e Seu Rafa. Eles nos acolheram de braços abertos, mas a verdade é que a grana era curta.

Foi um período difícil. Minha mãe mal saía da cama, e eu tinha que ser forte por ela e por Romeu. Trabalhei desde cedo para ajudar nas contas. Fazia de tudo: babá, faxineira, vendedora. Qualquer coisa que nos desse o mínimo de sustento. Mas, apesar de tudo, nunca deixei de estudar. Sempre fui muito aplicada, mesmo que a vida me puxasse em todas as direções. Meus avós sempre me incentivaram a continuar, dizendo que a educação seria meu passaporte para um futuro melhor. Eu acreditava nisso.

Ver o estrago que o meu pai causou me fez decidir que eu queria salvar vidas. Não podia aceitar que pessoas inocentes pagassem o preço pelos erros de outros. Foi assim que, aos 20 anos, eu decidi entrar para o SAMU. Queria fazer a diferença, ser aquela que chegaria a tempo de impedir tragédias. E por um tempo, aquilo me deu propósito. Eu estava onde sentia que deveria estar, mesmo que, por dentro, o peso fosse quase insuportável.

Mas tudo mudou durante um chamado de emergência. Uma colisão terrível, corpos espalhados pela estrada. Foi demais para mim. Eu tentei salvar uma criança, mas ela não resistiu. Aquilo me destruiu. Toda a motivação que eu tinha se transformou em medo, em impotência. Foi então que percebi que, apesar do meu desejo de salvar vidas, aquele ambiente não era para mim. O trauma era grande demais.

Voltei para casa depois daquele acidente com a certeza de que precisava mudar de caminho. Foi nesse momento que descobri minha verdadeira paixão: cuidar de crianças. Talvez tenha sido o desejo de proteger as vidas que eu não pude salvar, mas de alguma forma, o trabalho com crianças me trouxe paz. A energia, a inocência, a esperança que elas carregam me ajudaram a encontrar algo que eu nem sabia que estava procurando.

Aos poucos, as coisas foram se ajeitando. Romeu crescia saudável, e eu fui encontrando meu caminho. Entrar na faculdade de pedagogia foi um dos maiores orgulhos da minha vida. Eu sabia que estava no rumo certo, que cuidar de crianças era minha vocação. Agora, com 23 anos, apesar de tudo que já vivi, sinto que estou exatamente onde deveria estar. Claro, a vida nunca para de nos surpreender, e quem sabe o que está por vir?

Um novo desafio, talvez. Uma nova vida que vai cruzar o meu caminho e, com isso, mudar tudo de novo.

Uma mãe perfeita para minha filhaOnde histórias criam vida. Descubra agora