Entre Dever e Desejo

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Eleanor

*

Cansada. Essa era a palavra que me definia enquanto ouvia o interminável discurso do Visconde Osmar Milland. Ele era alto, bem-apessoado e, de fato, tinha uma condição financeira invejável. Mas nenhum desses atributos compensava o fato de ele falar apenas sobre si mesmo. Como alguém consegue ser tão autocentrado?, pensei, forçando um sorriso enquanto abanava meu leque, tentando ao máximo disfarçar o tédio crescente.

- E você, milorde, costuma viajar com frequência? - Perguntou minha mãe, sua voz doce e intencionalmente encorajadora. Ela estava travando sua batalha pessoal para me ver casada, e eu sabia que enxergava o visconde como o próximo peão no tabuleiro.

- Oh, sim, claro! Viajar é a minha maior paixão. Adoro conhecer novos lugares. - Ele respondeu, lançando-me um olhar direto, como se esperasse minha aprovação imediata.

E claro, falar sobre si mesmo também - pensei, com sarcasmo.

- Parece ótimo, não é, Eleanor? - Minha mãe me lançou um olhar de expectativa, seus olhos implorando para que eu cooperasse.

- Bem, eu... não sei, mamãe. - Abanei o leque novamente, criando um distanciamento enquanto escolhia cuidadosamente as palavras. - Eu detesto viajar, na verdade. Sempre fico enjoada, principalmente de barco. E sem falar nas doenças que podemos contrair em outros países. - Meus lábios se curvaram em um sorriso forçado enquanto observava a expressão do visconde congelar.

O silêncio no salão foi palpável. O visconde olhou para mim, atordoado, claramente despreparado para o que considerava um desafio inesperado. Minha mãe prendeu a respiração.

- Isso seria... um pouco inconveniente, claro. - Ele disse, tentando salvar a situação, mas sua confiança já estava esvaindo-se.

- Quantos filhos o senhor deseja ter, milorde? - Minha mãe, na tentativa de retomar o controle da conversa, lançou outra pergunta.

- Ah, eu adoraria ter pelo menos três filhos. Todos homens, é claro. - Ao ouvir aquilo, senti o desconforto me dominar, mas não pela quantidade de filhos.

- O senhor fala como se a mulher pudesse controlar isso. - Respondi, minha voz carregada de impaciência. - Acha que pode intervir no que virá? - Perguntei, erguendo a sobrancelha e o queixo, desafiando-o a continuar.

O visconde gaguejou, evidentemente surpreso com minha resposta.

- Eu... eu sei que não podemos, senhorita, mas é que...

- É que o senhor é homem e acha que tem o direito de exigir algo que nós, mulheres, não podemos controlar. - Completei, cortando sua desculpa antes que ele conseguisse formular uma defesa.

- Eleanor, já chega. - Minha mãe interveio, sua voz firme. Eu me calei, mas sabia que já era tarde demais. O visconde se levantou apressadamente, murmurou uma despedida e saiu pela mesma porta por onde entrou.

- Mas será possível?! - Exclamou minha mãe, raivosa, ao se levantar bruscamente do sofá. - É o terceiro só esta semana!

- Não tenho culpa se eles não sabem pensar antes de abrir a boca. - Retruquei, cruzando os braços, enquanto via minha mãe massagear a testa, claramente frustrada.

Intrigas de Amor - Jungkook Onde histórias criam vida. Descubra agora