Podem me achar estranha por querer escrever em um diário que muitos considerariam bobo, mas eu prefiro mil vezes confiar e desabafar aqui do que entregar meus segredos a qualquer ser humano. Deixe-me me apresentar, diário: eu sou Smile. E antes que pergunte, não, eu não sou humana. Os seres vivos que conheço me veem como uma emoção personificada... a emoção da alegria, para ser exata. Sempre estou sorrindo e forçando uma aparência de que tudo está bem, com pensamentos positivos e uma fachada de perfeição. Por isso, deram-me o nome de Smile. Porque, não importa o que aconteça ou a expressão que eu esteja usando, o meu sorriso está sempre lá, mas... esse sorriso, na verdade, é um disfarce. É um sorriso falso.
Já faz um mês que eu cheguei a este mundo e, sendo completamente honesta, eu não gosto dele nem um pouco. Na verdade, nem tive a chance de conhecê-lo direito. Mal pisei aqui e já encontrei a Mary, que me odeia. "Quem é Mary?" você pergunta. Ela é minha hospedeira, e tem cabelos e olhos castanho-claros. O cabelo dela é longo, mas ela sempre o usa preso. Eu sou, em certo sentido, uma versão dela, com algumas diferenças – como uma tonalidade de pele mais escura e olhos amarelos, ao contrário dos dela.
Mary tem 16 anos, é inteligente e, para complicar ainda mais, é uma órfã. Ela vive com seu irmãozinho mais novo, que eu simplesmente detesto. (Sério, eu realmente não gosto de crianças 🙄). E antes que você me pergunte, diário bobo, esse mundo é muito mais estranho do que parece. Além do irmãozinho, Mary também divide a casa com dois animais e não são apenas qualquer animais. São dois lobos, e com uma cor que desafia toda lógica: azul turquesa! AZUL TURQUESA! Você tem noção de como isso faz o mundo parecer ainda mais fora do comum?
Vou mudar um pouco de assunto... Antes de tudo isso, eu não me importava com a Mary. As coisas que ela fazia, as pessoas que conhecia... Em resumo, eu não me importava com ela ou com a sua segurança. Mas ontem, algo aconteceu que mudou tudo.
Eu estava na minha dimensão, como sempre, imersa na minha própria rotina, quando, de repente, algo começou a mudar. Senti uma falta de ar que, a princípio, foi apenas uma leve pressão no peito. Mas, em questão de minutos, a situação se agravou de forma aterrorizante.
Minha respiração se tornou cada vez mais difícil, a sensação era como se estivesse sufocando. Meu peito se apertava e o ar parecia escapar por entre os meus dedos. Fechei os olhos e desejei desesperadamente que aquilo acabasse, mas nada mudou. Quando finalmente os abri, minha dimensão estava pulsando de forma irregular, como se fosse um coração batendo com força.
A falta de ar era tão intensa que sentia como se meus pulmões estivessem em chamas. A dor e a dificuldade para respirar eram tão insuportáveis que comecei a me sentir tonta e fraca, meu corpo estava prestes a ceder. Foi um tormento interminável que parecia não ter fim.
Após o que me pareceu uma eternidade — cerca de sete minutos, talvez —, a respiração finalmente começou a se acalmar e a pulsação da minha dimensão cessou. Ainda tremendo, decidi sair de minha dimensão, movida por um pressentimento de que algo terrível estava acontecendo no mundo humano.
Quando emergi, a visão que tive me congelou de horror. Eu estava em uma área subaquática, como se estivesse no fundo do mar ou de uma piscina. Ao observar ao redor, meu coração parou quando vi a cena mais devastadora: a Mary estava ali, submersa, se afogando.
Agora tudo fazia sentido. A falta de ar que eu estava sentindo era um reflexo da aflição de Mary. Se isso já era o suficiente para me deixar em agonia, não consigo nem imaginar o que me aconteceria se ela...
Bem, voltando ao assunto, eu percebi que havia algo preso à canela dela, um obstáculo cruel que a impedia de emergir da água. A visão daquela cena me consumiu em uma onda de fúria. Meu sangue fervia de raiva, porque eu tinha certeza de que alguém havia feito isso com Mary intencionalmente, com um propósito maligno.
Assim que consegui trazê-la para a superfície, comecei a tentar reanimá-la. Pela primeira vez, uma sensação avassaladora de preocupação tomou conta de mim. E, junto com essa preocupação, uma raiva profunda e incontrolável pela pessoa que a havia ferido. Depois de um longo e angustiante intervalo, Mary finalmente despertou, e eu experimentei um alívio imenso. No entanto, ela ainda estava debilitada e vulnerável.
Quando Mary abriu os olhos e me viu, a surpresa foi evidente. Ela parecia confusa por me encontrar fora de minha dimensão. Tentou se levantar, mas eu a impedi, vendo que estava prestes a cair. Permaneci ao seu lado até que ela se estabilizasse e recuperasse suas forças.
Depois de testemunhar o que aconteceu ontem, uma verdade se cristalizou em minha mente, tão clara quanto a luz do dia: essa será a primeira e última vez que alguém vai machucar Mary. Não importa quem seja, eu não permitirei que ninguém, absolutamente ninguém, cause dor ou sofrimento a ela. Não enquanto eu estiver aqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
•°Diário Emocional°•
RandomEste diário pertence a uma emoção viva que vaga pelo mundo humano. Aqueles que a conhecem a chamam de Smile. Um reflexo da juventude, Smile é um clone de uma adolescente, carregando em si ecos do humano, mas com sutis e enigmáticas diferenças. Em ca...