Amanhecer de Incertezas

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A porta da estrebaria fechou-se suavemente com o som do passo leve de Lingling desaparecendo no horizonte. Orm, agora sozinha, permaneceu deitada na cama improvisada de feno, ainda sentindo o latejar da ferida em seu ombro. Cada movimento lhe causava dor, mas havia outra sensação mais profunda, algo que a incomodava ainda mais que o ferimento físico. Ela fechou os olhos, tentando forçar seu corpo cansado a descansar.

Sua mente, no entanto, não a deixava em paz. Lingling a havia cuidado com uma ternura que Orm jamais esperaria de alguém de um reino inimigo. Durante toda sua vida, fora ensinada a ver os habitantes de Xiyu como traidores, como inimigos a serem derrotados. E, no entanto, lá estava a princesa de Xiyu, ajoelhada ao seu lado, cuidando de sua ferida, dando-lhe remédios e segurança, algo que ia contra tudo que Orm acreditava ser verdade sobre o povo de Lingling.

"Por que ela fez isso?" Orm se perguntava, sentindo um nó apertar em seu peito. "Por que não me deixou lá, na floresta, à mercê do que quer que viesse?"

Orm sempre fora uma guerreira, uma líder em formação. Aprendera desde cedo a esconder sua vulnerabilidade, a não mostrar fraqueza. Mas naquele momento, ao ser cuidada por Lingling, sentiu algo diferente, uma vulnerabilidade que não era puramente física.

Havia algo na forma como Lingling a tocava, na maneira suave e decidida com que falava, que causava uma confusão dentro dela.

"Ela é apenas uma inimiga..." Orm tentava racionalizar, mas sabia que aquilo não era verdade. O que estava começando a crescer dentro de si era algo mais complicado, algo que a própria Orm não estava preparada para enfrentar. Fechando os olhos, sua mente vagava entre o agradecimento e a frustração. "Maldita seja, por que preciso pensar tanto nela?"

Tentando afastar esses pensamentos, Orm se lembrou de seus pais. Sua mãe, Rainha Koy, certamente já deveria estar preocupada com seu desaparecimento. O Rei Rurik, rígido e impassível como sempre, estaria aguardando respostas, preocupado não tanto por sua segurança, mas pelas implicações que qualquer erro de sua parte traria para Drakora. Orm sentia-se presa entre as expectativas de seus pais e os seus próprios pensamentos conflitantes.

"Eles não podem descobrir onde estive", pensou, mais uma vez, tentando silenciar a dor em seu ombro e no coração. "Se soubessem que fui resgatada por uma princesa de Xiyu... não, não posso permitir que isso chegue a eles."

O sono finalmente a tomou, com os pensamentos emaranhados entre o dever para com seu reino e a misteriosa presença de Lingling. O nome da princesa de Xiyu ecoava em sua mente enquanto adormecia, um sussurro persistente que ela não conseguia afastar.

Ao amanhecer, os primeiros raios de sol iluminaram a estrebaria, entrando pelas frestas da madeira. Orm, sentindo o corpo dolorido, levantou-se devagar. A dor ainda latejava em seu ombro, mas estava decidida. "Eu tenho que voltar", pensou, ignorando o incômodo que a ferida lhe causava. Ela sabia que não poderia permanecer ali por mais tempo.

Com esforço, subiu em seu cavalo. Seu corpo reclamava a cada movimento, mas ela não se permitiria fraquejar. Enquanto cavalgava pela floresta, Orm se pegou pensando em Lingling mais uma vez. A suavidade da voz da princesa, a serenidade de seus movimentos enquanto a ajudava... tudo isso fazia Orm se sentir desconcertada.

"Como pode alguém de Xiyu ser tão diferente do que me ensinaram?", questionava-se. Cada passo do cavalo ecoava em sincronia com os pensamentos que tentava controlar, mas que pareciam incontroláveis.

Orm sabia que aquela não seria a última vez que encontraria Lingling. O destino parecia estar brincando com elas, colocando-as uma na frente da outra repetidamente. "Não pode ser coincidência", ela pensou, tentando encontrar algum sentido para o que estava acontecendo. "Ela não é apenas uma princesa inimiga, mas por que sinto isso? Por que estou... interessada?"

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