À Beira do Sonho e Desejo

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O sol mal havia nascido no horizonte, e os primeiros raios de luz tingiam o céu de laranja e dourado, iluminando suavemente as montanhas de Drakora. Orm aproveitava a tranquilidade das manhãs para cavalgadas solitárias pelos bosques ao redor do castelo.

Desde que sua recuperação da ferida havia sido concluída, seu pai, o Rei Rurik, afrouxara a pressão que sempre colocava sobre seus treinos incessantes.

Ele reconhecia que Orm, apesar de ser sua herdeira e guerreira exemplar, também precisava de momentos de descanso, e, por mais surpreendente que parecesse, isso aliviou um pouco da carga que sempre pesava sobre seus ombros.

Nas manhãs seguintes, Orm encontrava refúgio em suas longas cavalgadas, dizendo ao pai que estava treinando ao ar livre e explorando as fronteiras de Drakora. No entanto, a verdadeira razão de seus passeios era mais profunda, mais pessoal. Cada vez que cavalgava sozinha pelas matas, sua mente vagava para um único pensamento: Ling.

Desde o dia em que se beijaram, há semanas, Orm não a havia visto novamente. Sven, sempre um amigo leal, mencionara algumas vezes que as coisas estavam tensas entre o pai de Ling e o seu, devido ao acordo de casamento entre ela e Sven. Mas, para Orm, estar ao lado de Sven nos últimos dias era diferente.

Embora a amizade entre eles permanecesse sólida, havia uma inquietação dentro dela que tornava cada interação com ele mais difícil. A lembrança de Ling e o que sentira por ela a consumia de uma forma que ela não sabia explicar.

Orm percebeu que não podia mais ignorar o que estava acontecendo consigo mesma. Naquela manhã, enquanto cavalgava pelas colinas fronteiriças de seu reino, avistou uma cachoeira à distância. O som da água correndo trouxe de volta lembranças de seus sonhos, de Ling. Sem pensar muito, ela deixou seu cavalo seguir instintivamente em direção àquele lugar, como se algo além de sua vontade a estivesse guiando.

Quando se aproximou, algo dentro de Orm lhe dizia que aquele não era apenas um lugar qualquer. Era o destino que ela precisava encontrar. E, ao chegar mais perto da beira da cachoeira, seu coração quase parou ao avistar uma figura sentada do outro lado, perto da água. Seus cabelos escuros e molhados brilhavam sob o sol da manhã. Ling estava lá, com seus trajes de banho encharcados, aparentemente acabando de sair da água.

Orm parou por um momento, seu coração batendo forte em seu peito. A visão de Ling relembrava o sonho que tivera quando delirava de febre e ver a princesa ali despreocupada e serena, a fez congelar. Ela ficou ali, hipnotizada por alguns instantes, observando a leveza dos movimentos de Ling, a forma como ela parecia estar em completa paz com o ambiente ao seu redor.

Orm, porém, sentia tudo, menos paz.

Sem perceber, começou a andar em direção a ela. Ao se aproximar, sua voz saiu de forma involuntária, carregada de uma mistura de ironia, tristeza e um toque de vitimismo:

— Então, era aqui que você estava? E eu lá, esperando por você em Drakora... Você disse que voltaria. Mas acho que me enganei... — Orm falou, o tom provocativo e ao mesmo tempo ressentido.

Ling levantou o olhar imediatamente, surpresa por ouvir a voz de Orm. Quando seus olhos se encontraram, Ling riu suavemente, com uma descontração que deixou Orm fascinada. Ver Ling assim, solta, despreocupada, parecia quase um privilégio.

— Você realmente tem um jeito especial de dramatizar as coisas, não é? — disse Ling, com um sorriso no rosto, a leveza em sua voz ecoando pela beira da cachoeira.

Orm prendeu a respiração por um momento, encantada pela risada e pela atmosfera despreocupada de Ling. A expressão confiante que costumava carregar em seus ombros de guerreira começou a desmoronar à medida que ela amarrava a rédea de seu cavalo numa árvore próxima e se sentava ao lado de Ling na beira da água.

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