Um Ponto sem Retorno

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Depois de se despedirem na cachoeira e retornarem aos seus respectivos palácios, as duas princesas não podiam parar de reviver cada momento daquele encontro, especialmente o beijo trocado.

Orm, normalmente tão segura e determinada, agora se encontrava perdida em pensamentos, com o coração acelerado e a mente cheia de questionamentos. Cada toque, cada olhar de Ling ainda a acompanhava, como uma chama suave, mas constante, que não permitia que ela desviasse a atenção de nada mais.

Enquanto cavalgava de volta a Drakora, Orm olhava para o horizonte, mas sua mente estava distante, fixada em Ling. Seu pai sempre exigira o máximo dela. O Rei Rurik a treinava desde muito jovem para ser uma guerreira implacável, alguém que não mostraria fraqueza diante de nada nem ninguém. "Força e controle, Orm. Nunca deixe suas emoções te enfraquecerem," ele dizia, repetindo as palavras como um mantra a cada sessão de treino. Orm lembrava-se de seu suor escorrendo pela testa enquanto segurava sua espada com firmeza, e de como os olhos rígidos de seu pai a observavam, sem nunca deixar transparecer orgulho ou aprovação.

Mas naquele momento, todos os ensinamentos rígidos do pai pareciam insignificantes diante do que sentira ao lado de Ling. Orm havia passado sua vida inteira treinando para combates e possíveis guerras, mas ao estar com Ling, percebeu que existiam batalhas internas, emocionais, que ela nunca imaginara ter que enfrentar e que pareciam ser muito mais difíceis. A lembrança do toque de Ling em seus cabelos, da suavidade do beijo, fazia com que seu coração disparasse novamente. Orm se sentia confusa, como se estivesse pisando em um terreno novo e desconhecido.

— O que está acontecendo comigo? — murmurou Orm para si mesma, apertando as rédeas do cavalo. — Eu deveria focar em meus deveres, nas alianças, no meu destino com Sven.

Mas cada vez que ela tentava afastar os pensamentos sobre Ling, eles voltavam com ainda mais força. Ela nunca havia se permitido sentir algo assim. Nunca havia sido vulnerável. Mas agora, ao pensar no riso de Ling, na forma como ela a fez se sentir viva, Orm sabia que estava em um ponto sem retorno.

Do outro lado, Ling cavalgava em direção ao palácio de Xiyu, com uma calma aparente, mas com uma tempestade de emoções fervilhando por dentro. Sempre fora ensinada a ser a princesa ideal: educada, sábia, calma. Sua vida havia sido construída ao redor de livros, ensinamentos e deveres sociais. Ela era vista como a perfeita herdeira de Xiyu, sempre auxiliando nas escolas do reino, ensinando as crianças sobre história, música e arte.

No entanto, desde o primeiro encontro com Orm, Ling sentia algo que nunca havia experimentado antes. E aquele beijo na cachoeira foi o ápice de tudo o que ela estava fugindo e tentando evitar, mas ao mesmo tempo ansiava por entender. "Como posso estar sentindo isso por alguém como Orm?" pensava ela, tentando racionalizar seus sentimentos. Era um misto de fascínio e medo, pois Orm representava tudo o que era diferente em sua vida. Orm era forte, destemida, impetuosa... E aquilo a atraía profundamente, ao mesmo tempo que a aterrorizava.

— Eu nunca senti isso por ninguém... — Ling murmurou para si mesma enquanto descia do cavalo no estábulo do castelo. — Por que ela mexe tanto comigo?

Sentia o peso das expectativas de sua família, especialmente do pai, que desejava vê-la em um casamento político que fortalecesse Xiyu. Mas e se ela não quisesse isso? E se seus sentimentos por Orm fossem mais profundos do que ela estava disposta a admitir? E se ela decidisse lutar por seus sentimentos? Naquela noite, deitada em sua cama, Ling revivia o beijo, o toque dos lábios de Orm e o olhar intenso que as duas compartilharam. Sua mente estava em conflito. Era algo perigoso, mas ao mesmo tempo inevitável.

Na manhã seguinte, ambas as princesas acordaram ainda com os eventos da tarde anterior em mente. Orm, ao abrir os olhos, sabia que não conseguiria se concentrar em mais nada até ver Ling novamente. Então, tomou uma decisão ousada: iria atrás dela.

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