O tempo é como um rio que jamais cessa de fluir

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Ling se deitou em sua cama, o corpo ainda formigando da intensidade do dia. Suas mãos ainda podiam sentir o toque de Orm, e sua mente estava cheia das lembranças dos momentos que passaram juntas. Fechou os olhos, desejando que o sono a levasse, mas tudo o que conseguia era reviver cada detalhe: os olhares, os sorrisos cúmplices, o toque suave de Orm em sua pele. Aqueles momentos roubados nas clareiras afastadas a faziam questionar sua realidade e seus deveres e por mais que refletisse, seus pensamentos voltavam sempre para o mesmo lugar... A princesa Orm. Sempre Orm.

"É como se, a cada pensamento e dúvida, eu fosse empurrada ainda mais para o abismo que é ela — seus olhos, seus toques, seus sorrisos, tudo nela me envolve e me arrasta sem que eu consiga resistir.?" Pensava Ling, virando-se na cama, buscando o conforto do travesseiro. O sentimento que nutria por Orm era inegável, mas o peso do que isso significava estava cada vez mais evidente. Fechou os olhos com força, tentando espantar os pensamentos. Sabia que, no fundo, seu coração já havia escolhido. Mas o futuro... o futuro ainda a assustava.

Na manhã seguinte, Ling acordou de sobressalto. A luz suave da manhã já iluminava seu quarto, e ela percebeu que havia dormido além do horário habitual. "Estou atrasada", pensou, levantando-se rapidamente e vestindo-se com a pressa de quem já sabia que o dia não traria boas notícias.

Desceu as escadas em direção ao salão principal, onde sabia que seus pais estariam tomando o café da manhã. Ao se aproximar, percebeu que algo estava diferente. O ar estava pesado, e a tensão entre os guardas à porta das acomodações principais não passou despercebida. A princesa os observou rapidamente, tentando entender o motivo daquilo, mas nenhum deles ousava encará-la.

Ao entrar no salão, encontrou o Rei Wei e a Rainha Mei já sentados à mesa, ambos com expressões sérias. Sua mãe a olhou de relance, mas não disse nada de imediato, o que fez Ling sentir um leve calafrio subir pela espinha. Embora sua mãe raramente lhe oferecesse olhares carinhosos, naquele momento, Ling percebeu que algo estava fora do normal.

— Bom dia, filha — disse o rei, sem olhar diretamente para Ling, seus olhos fixos em um ponto distante.

— Bom dia, pai. Mãe — respondeu Ling, tentando parecer casual, embora sentisse a tensão que permeava o ambiente.

Sentou-se à mesa, e o silêncio que se seguiu a incomodou mais do que qualquer palavra poderia ter feito. Havia algo no ar, algo que estava sendo cuidadosamente evitado. Seus pais sempre foram transparentes, mas naquele momento, a cautela em seus gestos era visível, quase sufocante. Enquanto seus olhos vagavam pela sala, uma sensação crescente de pavor tomou conta de seu peito.

E se algum guarda tivesse a visto nas fronteiras com Orm?

A simples ideia fez seu coração acelerar. Ela se perguntou se esse silêncio, essa tensão no ar, tinha a ver com isso.

Será que alguém sabia? Será que estavam apenas esperando o momento certo para confrontá-la?

— Aconteceu... algo? — perguntou Ling, hesitante, enquanto o chá descia com dificuldade por sua garganta. Seu olhar inquieto alternava entre o rei e a rainha, buscando respostas no silêncio pesado que pairava entre eles.

A Rainha Mei suspirou, colocando a xícara de chá sobre a mesa com mais força do que o necessário.

— Haverá uma reunião de emergência com os conselheiros esta tarde — disse ela, sem olhar para Ling. — Parece que alianças estão sendo formadas entre alguns reinos vizinhos, e um guarda traiu um dos nossos aliados. Isso pode recair sobre nós.

Ling sentiu o sangue congelar. Traição? O que estava acontecendo nos reinos vizinhos? Sua mente começou a girar, tentando fazer conexões, tentando entender como isso poderia afetar Xiyu... ou até mesmo Drakora. Ela precisava saber mais, mas seus pais não pareciam dispostos a compartilhar tudo.

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