Três.

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                            🏹 HAYLA 🏹

Entre as várias dificuldades da vida, como perder entes queridos ou até mesmo situações mais fúteis, como quebrar um acrigel recém-feito, uma das experiências mais desconfortantes é ser acordada cedo pela voz da Hadassa. Ela é uma pessoa notoriamente teimosa, que não para até que me veja abrindo os olhos. A voz dela, possivelmente aguda e insistente, ressoa em seus ouvidos, tornando a ideia de um despertar tranquilo quase impossível.

Hadassa: Levanta logo, Hayla. Eu tenho que te mostrar uma coisa. — Seu dedo vai de encontro ao meu ouvido, cutucando. Eu tento afastar, mas ela permanece, porém, dessa vez me sacudindo.

Hayla: Depois eu que sou a chata. Tô cansada do treino de ontem, me deixa dormir e só me acorda se o hotel estiver pegando fogo. — Finalmente abro os olhos, confusa e irritada, piscando contra a luz do sol quente. Após eu bocejar e proferir essas palavras, ela caminha até o armário, buscando por algo que me faz franzir o cenho. — O que você está procurando?

Hadassa: O álcool pra ir até a cozinha pegar o isqueiro e tacar fogo no hotel para você acordar. — Seus dedos finalmente tocam o frasco de álcool, puxando-o para fora do armário.

Hayla: Ai que louca! Já tô com o olho aberto. Coloca isso no lugar, pelo amor de Deus. — Me sento desengonçadamente na cama, meu quadril afundando no colchão e meu pescoço completamente duro devido ao jeito que dormi. Sinto uma pinicação na pele, passando a unha para aliviar.

Hadassa: Por que seu peito tá vermelho? — Devolve o frasco para o armário e retorna para se sentar ao meu lado.

Hayla: Deve ser minha alergia que amanheceu atacada. — Abaixo os olhos e vislumbro meu peito. Lá, na pele pálida, uma erupção avermelhada começava a se formar. A área levemente inchada, e a coceira se tornava mais intensa à medida que eu observava. — Tá doendo um pouquinho, mas já já passa.

Hadassa: Tomou seus remédios? — Questiona denotando preocupação.

Eu suspiro profundamente, os ombros caindo em resignação. Desde bem novinha sou diagnosticada com isso, que leva quase todos os meus dias de sossego embora.

Ter alergia emocional é como estar em uma montanha-russa constante de emoções. Qualquer pequena coisa pode desencadear uma reação e um caos dentro de mim. Quando fico ansiosa, estressada ou até mesmo muito feliz, minha pele reage de maneira extrema. A vinda para o Brasil pode ter mexido com todos os meus sentimentos, foram semanas de muita agitação, ansiedade e medo.

É sempre assim, de repente, sinto uma coceira e, logo, minha pele começa a inchar e a ficar vermelha. Às vezes, fica tão ruim que parece que minha pele vai me engolir. É assustador e grotesco, porque nunca sei exatamente quando vai acontecer ou o quão severa será a reação.

Viver dessa forma me faz ter que ser muito cuidadosa com minhas emoções, mesmo que elas sejam frágeis como uma porcelana. Tento manter a calma e evitar situações que possam me estressar, mas nem sempre é possível. É uma luta para equilibrar minha mente e meu corpo. E quase sempre perco essa batalha...

Hayla: Ontem sim, hoje ainda não. — Mordo a boca, exaurida. Querendo ou não, é muito chato ter que depender de medicamentos para controlar o que sinto. Pareço um robô.

Hadassa: Então levanta pra tomar. — Ordena apreensiva, seu olhar passeando pelo colo inchado do meu peito.

Olho para ela com um sorriso suave se formando no canto dos meus lábios. Minha irmã pode parecer bruta e quase nunca demonstrar seus sentimentos, mas ela é uma verdadeira leoa quando se trata de me proteger.

Ela se preocupa com o meu bem-estar o tempo todo, mesmo que não mostre claramente. Seu jeito de cuidar de mim pode ser áspero, mas sempre me deixa completamente boba. O ato de ser cuidada me encanta, faz com que eu me sinta protegida; afinal, quem não gosta?

Ambição 2Onde histórias criam vida. Descubra agora