Dois.

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                                  RARO

Me sento à cabeceira da mesa de conferências, rodeado por um ambiente de luxo e sofisticação que só o Copacabana Palace pode oferecer. A sala é enorme, com grandes janelas que esbanjam uma vista impressionante da praia de Copacabana, e o cômodo é iluminado por uma luz natural suave do fim de tarde que entra pelas cortinas de linho branco.

À minha frente, Murilo se posiciona, demonstrando confiança no papo que estou dando. ML é um dos meus de confiança, seguido pelo Pb e Perigo, que são quase como dois filhos para mim. Presenciei esses menor crescendo e subindo na gestão, abracei a postura e os tornei um dos meus assim que vi o potencial.

ML: Coronel dispia pra cá quando? Já bateu a cota dele em Portugal. — Une as sobrancelhas ao me indagar sobre o trato do Terceiro Comando.

Nosso combinado foi eu vir primeiro com minha família e o Coronel depois, justamente para não centralizar muita movimentação de uma vez só. Meu maior foco quando retornei para o Rio foi estabelecer minhas filhas e minha mulher em um local seguro, trazendo-as para o Copacabana Palace e fazendo questão de pagar a estadia todo mês e redobrar as seguranças.

As meninas têm a lógica de que não sou santo, não estão cientes de tudo que faço, mas sabem que não me envolvo com coisas legais. Deixei elas sabendo apenas até onde eu queria para que não ficassem no total escuro, afirmando diversas vezes antes de vir para cá que não era para soltarem meu nome à toa, tanto para manter minha identidade quanto para preservar a delas e a da mãe.

São minhas maiores riquezas, minhas três joias raras. Cuido mermo, e o que eu puder proporcionar para mantê-las bem eu farei! Não é por acaso que carrego dois H cravados em pedras de diamante, pendendo de um cordão de ouro em meu peito. Esses H são muito mais do que meros adornos; eles são símbolos profundos e preciosos que refletem a essência e a importância de algo verdadeiramente significativo; minhas filhas!

Estou no Rio há menos de uma semana e, para mim, não mudou tanto, embora eu sentisse falta pra caralho de passar a maior parte do tempo na Zona Norte. Agora minha ida para lá tem sido mais frequente, porém não posso dar o mole de deixá-los descobrir o que conquistei de longe.

Vila do João e Morro do Dendê estavam sob meu domínio. Em menos de cinco anos consegui levantar lucros em Portugal para trocar pelas comunidades. Aos poucos reconstruí o que destruíram e trepei aquela parada com mais de duzentos bicos em cada esquina.

Entretanto, meu nome não estava envolvido em nada, pois coloquei um cara para ficar a frente de tudo, se passando como chefe em meu lugar. Eu gerenciava toda a VJ e o Morro do Dendê, mas ninguém além da minoria tinha ciência disso; estava oculto em sete chaves.

Conquistei essas duas comunidades e permaneci em Portugal por mais de dez anos. Aprendi com o tempo a não agir desesperadamente, e não é porque minha firma está milionária e finalmente dei a volta por cima que iria retornar na sede de esfregar na cara dos marrecos do Comando Vermelho a minha vitória.

Ainda tenho muito chão para trilhar até esse dia do teti a teti rolar, e saberei esperar cada segundo...

Raro: Embarca hoje. Vai ser até melhor assim, porque eu posso colocá-lo no Dendê e deixar o Peixão na VJ.

ML: Tu foi rato mermo, hein? Reergueu teu nome e tá chefiando tudo na surdina, colocando o dos outros na reta do teu. — Aponta com um sorriso malicioso.

Raro: Tenho que ser estratégico, jogador. Ainda não é o momento de deixarem saber que retornei ao Brasil, muito menos que estou com duas comunidades no pente. — Entrelaço os dedos, repousando sobre a mesa.

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