Quatro.

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                            🦊 HADASSA 🦊

O sol brilhava sobre a orla de Copacabana, refletindo nas águas tranquilas e enchendo a atmosfera com vivacidade. O murmúrio constante das ondas ao fundo misturava-se ao burburinho das pessoas caminhando pelo calçadão. Dentro da loja de lingerie, o ar era perfumado com fragrâncias florais e repleto de cores que faziam minha cabeça rodar de tão espalhafatosas.

Hayla, com seus olhos faiscantes de curiosidade, deslizava pelos corredores, tocando delicadamente os tecidos macios e examinando os detalhes minuciosos de cada peça. Sua predileção por cores acesas era evidente; tudo que ela escolhia estava na paleta do rosa, com detalhes em rendas brancas ou douradas. Cada sutiã, cada calcinha refletia sua personalidade efusiva e alegre.

Ao seu lado, eu a fitava com meu olhar crítico. Sempre preferi os tons de preto e vermelho, cores que, para mim, são melhores que as outras. Era intrigante como, apesar de sermos gêmeas, nossas preferências e estilos podiam ser tão distintos. Enquanto Hayla se perdia nas prateleiras cor-de-rosa, eu me dirigia diretamente para as peças de seda preta e cetim vermelho.

Hadassa: Leva esta aqui, Hayla. Olha a pimentinha balançando na direção do rabo. — Encontro uma calcinha fina de renda vermelha com uma pimenta pendurada na parte de trás. Decidida a mexer com Hayla, balanço a peça no ar, chamando a sua atenção. — Atrevida. — Rio alto, me divertindo com sua reação espantosa ao ver a vulgaridade da lingerie.

Um mês antes de embarcarmos de Portugal para o Brasil, eu havia feito uma grande doação. Quase todas as minhas roupas ficaram para trás, entregues a instituições de caridade. Sabia que queria renovar meu guarda-roupa no Rio de Janeiro, buscando coisas que refletissem melhor o espírito desta cidade.

Hayla, por outro lado, não conseguia se desapegar de suas roupas. Ela tem o espírito de uma patricinha nata, apegada não só às pessoas, mas também a cada vestido, cada sapato e cada acessório de grife caro. Trouxe quase tudo na mudança, enchendo malas e mais malas com suas preciosidades. Eu admirava sua capacidade de apego, mesmo que eu mesma fosse o oposto.

Sutz: Menina, cala a boca. A vendedora está te olhando feio. — Abaixa minha mão, deferindo um tapa, seus dentes cerrados ao falar.

Hadassa: Não posso retribuir, pois a minha é linda. — Balanço os ombros, voltando a lingerie para o lugar.

Hayla: Você é deselegante. — Reprime uma careta, franzindo o nariz e arqueando as sobrancelhas.

Hadassa: Estou te ajudando, anã. Estás escolhendo umas peças muito delicadas. Na hora do sexo, os homens não vão querer saber de delicadeza. — Desdenho com as mãos livres no ar.

Hayla: Eu sou virgem, então estou no lucro porque não vou precisar usar no sexo. — Sem perder a compostura, repousa as mãos nos quadris, erguendo seu queixo pontudinho.

Hadassa: Usa para tirar fotos covardes na frente do espelho. — Encaro-a com saliência.

Sutz: Hadassa, hoje tu tá com uma boquinha, hein. — Me repreende, negando em desaprovação.

Sutz: Gostou, mãe? O preenchimento está desinchando. — Formo um bico com os lábios ainda grandes.

Hayla: Se eu fosse ti, tirava isso. Está muito esquisito. — Olha de relance para minha mãe, voltando a atenção para mim e rindo em deboche.

Hadassa: Você também precisa trocar seu cérebro por um mais inteligente e nem por isso eu fico falando. — Retruco com sarcasmo, pois o que ela dá eu devolvo em dobro.

Sutz: Irei fingir que não conheço vocês. Fiquem aí se matando sozinhas, só não derrubem a loja, senão vão ter que limpar o chão pra pagar. Ratas. — Suspira fundo e nos fita como se nunca tivesse nos visto, dando passos para trás lentamente, toda palhaça.

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