Capítulo 10

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A luz do sol se infiltra pelas frestas da cortina, desenhando padrões suaves em meu rosto. Abro os olhos lentamente, relutante em enfrentar mais um dia. O quarto, antes um refúgio de conforto e sonhos adolescentes, agora parece uma prisão de memórias e arrependimentos.

Respiro fundo, sentindo o peso familiar da tristeza se instalar em meu peito. É como se uma nuvem cinzenta tivesse tomado residência permanente dentro de mim, obscurecendo qualquer vislumbre de alegria que outrora existia.

Diego.

Seu nome ecoa em minha mente, uma ferida que se recusa a cicatrizar. Fecho os olhos novamente, deixando as lágrimas escorrerem silenciosamente pelo meu rosto. Como pode a ausência de alguém ser tão palpável? É como se ele tivesse levado uma parte de mim quando partiu, deixando para trás apenas um vazio doloroso.

Lembro-me do seu sorriso, do som da sua risada, do calor do seu abraço. Memórias que antes traziam conforto agora são facas afiadas, cortando fundo em meu coração já dilacerado. Queria poder voltar no tempo, dizer todas as coisas que ficaram por dizer, fazer todas as coisas que ficaram por fazer.

Forço-me a sentar na cama, meus movimentos lentos e pesados. O espelho na parede reflete uma versão de mim que mal reconheço. Olhos inchados, cabelos desgrenhados, uma sombra do que eu costumava ser. Quem é essa garota que me olha de volta? Onde está a Agatha que sorria sem esforço, que encarava o mundo com otimismo e esperança?

Meu celular vibra na mesa de cabeceira, arrancando-me momentaneamente de meus pensamentos sombrios. É uma mensagem de Maria Antônia. Leio suas palavras, sentindo uma mistura de alívio e apreensão.

"Claro, pode vir à tarde," respondo, meus dedos tremendo levemente sobre o teclado.

Maria Antônia. Uma grande amiga. Às vezes me pergunto se ela realmente me entende. Parte de mim quer gritar, derramar toda a dor e confusão que tenho guardado. Outra parte teme que, se eu começar, nunca mais vou parar.

Levanto-me, arrastando-me até o banheiro. A rotina matinal é um exercício de pura força de vontade. Cada movimento, cada gesto, parece exigir uma energia que não tenho mais. Escovo os dentes, evitando meu próprio olhar no espelho. Não posso encarar o vazio que vejo refletido.

Sob o chuveiro, deixo a água quente cair sobre mim, esperando que de alguma forma ela possa lavar a dor, a culpa, o arrependimento. Mas eles permanecem, tão implacáveis quanto o dia em que Diego nos deixou.

Diego. Por que você fez isso? Por que nos deixou? Por que me deixou?

As perguntas giram em minha mente, um carrossel interminável de "e se" e "por quês" que nunca encontram respostas. Sinto as lágrimas se misturarem à água do chuveiro, agradecida por este momento de fraqueza privada.

Lembro-me da última vez que o vi. Seu sorriso parecia um pouco forçado, seus olhos carregavam uma tristeza que eu não consegui compreender na época. Havia tantos sinais, tantas pistas. Por que eu não percebi? Por que não fiz mais? A culpa me consome, uma companheira constante em meus dias sombrios.

Saio do chuveiro, enrolando-me na toalha como se fosse um escudo contra o mundo. Escolho roupas confortáveis, optando por tons neutros que refletem meu estado de espírito. Não me importo mais em parecer bonita ou atraente. Para quê? Para quem?

Desço as escadas, os sons da casa vazia ecoando ao meu redor. Meus pais já saíram para trabalhar, deixando para trás um bilhete preocupado na geladeira. "Coma algo, querida. Nós te amamos." Suas palavras de carinho só aumentam minha culpa. Eles estão tão preocupados, tão impotentes diante da minha dor. Queria poder ser forte por eles, mostrar-lhes que estou melhorando. Mas a verdade é que não sei se algum dia vou melhorar.

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