Capítulo 11

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O caminho de volta para casa após a conversa com Maria Antônia parece interminável. Cada passo ecoa as palavras dela, ricocheteando dentro do meu crânio como balas perdidas. Fim do mundo. Guerra entre vivos e mortos. Escolher um lado. As frases se misturam, se confundem, formando um turbilhão de pensamentos que ameaça me engolir.

As ruas de São Paulo, normalmente um caos de sons e movimentos, parecem estranhamente silenciosas. Ou talvez seja apenas minha percepção, distorcida pelo peso das revelações de Maria. Passo por pessoas apressadas, carros buzinando, a vida seguindo seu curso normal. Como podem todos estar tão alheios ao que está acontecendo? Como podem não sentir que o mundo está à beira do caos?

Quando finalmente chego em casa, ignoro as perguntas preocupadas da minha mãe e me tranco no quarto. O silêncio do cômodo é ensurdecedor, amplificando o caos em minha mente. Me jogo na cama, encarando o teto como se ele pudesse oferecer as respostas que tanto busco.

"Thomas?" A voz da minha mãe vem abafada através da porta. "Está tudo bem, querido?"

"Tudo ótimo, mãe." respondo, a mentira saindo facilmente. Quantos segredos mais terei que guardar?

Ouço seus passos se afastando, hesitantes. Mais uma coisa para me sentir culpado.

O que Maria quis dizer com tudo aquilo? Parte de mim quer acreditar que é tudo uma elaborada mentira, mais um dos jogos cruéis dela. Mas a outra parte, a parte que viu Diego, que sentiu o mundo espiritual... essa parte sabe que há mais verdade nas palavras dela do que gostaria de admitir.

Fecho os olhos, respirando fundo. Sei o que preciso fazer. É arriscado, é assustador, mas é a única maneira de começar a desvendar esse mistério. Preciso voltar ao mundo espiritual. Preciso encontrar Diego.

Relaxo meu corpo, deixando minha mente vagar. O processo é mais fácil agora, quase natural. Sinto aquela familiar sensação de desprendimento e, quando abro os olhos, estou flutuando sobre meu próprio corpo.

Para minha surpresa, não estou sozinho. Diego está lá, encostado na parede do meu quarto, seus olhos fixos em mim. Há algo diferente nele, uma tensão que não estava presente antes.

"Diego." digo, minha voz saindo como um sussurro etéreo. "Eu precisava falar com você."

Ele se desencosta da parede, seu olhar intenso. "Eu sei. Ouvi sua conversa com a Maria."

Sinto uma onda de choque me atravessar. "Você... ouviu? Como?"

Diego dá de ombros, um gesto estranhamente humano para um espírito. "As regras são diferentes aqui, Thomas. Eu posso... sentir quando alguém fala sobre mim. Especialmente você e a Maria."

Há uma nota amarga em sua voz quando ele menciona o nome dela. Lembro-me da nossa última conversa, da tensão entre nós. Há tanto que quero dizer, tantas perguntas que quero fazer. Mas agora não é o momento.

"Diego, o que Maria disse... sobre o fim do mundo, sobre uma guerra entre vivos e mortos. É verdade?"

Ele hesita, passando a mão pelos cabelos em um gesto de frustração. "Eu... não sei, Thomas. Há coisas acontecendo aqui, coisas que não entendo completamente. Mas sei que não é tão simples quanto ela faz parecer."

Sinto uma onda de frustração me invadir. "Então o que é? O que está realmente acontecendo?"

Diego se aproxima, seus olhos fixos nos meus. "Olha, Thomas, eu sei que as coisas estão... complicadas entre nós. Mas precisamos deixar isso de lado agora. Há algo maior em jogo."

Assinto, engolindo o nó na minha garganta. "Você tem razão. Mas por onde começamos?"

De repente, uma lembrança surge em minha mente. "Espera... lembra daquela confraternização na mansão dos Castelli? Eu vi Carlos Mancini lá."

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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