No dia do seu casamento

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Marília estava sentada no banco de um bar vazio. Era cedo demais para qualquer outra pessoa estar ali, mas ela não tinha conseguido dormir a noite toda. Os pensamentos a atormentavam, girando em torno de uma única imagem: Maraisa vestida de branco, pronta para casar com outra pessoa.

Ela esfregou as mãos no rosto, tentando afastar a sensação de desespero que se enraizava no seu peito. Já tinha passado em mais de três bares naquela madrugada, buscando algo que pudesse tirá-la do pesadelo que vivia. Mas nada conseguia aliviar a dor que queimava em seu coração.

"O café mais amargo que você tiver", pediu ao barman, que a observava com olhos curiosos. Marília não se importava com os olhares. Nada importava naquele momento.

O casamento de Maraisa estava marcado para daqui a algumas horas, e Marília sabia que não conseguiria ficar sentada, assistindo àquilo. Ela se beliscava, esperando acordar, mas não era um sonho. Era real. A pessoa que ela mais amava estava prestes a se casar com outra.

"Eu não vou permitir", sussurrou para si mesma, decidida. Não fazia sentido deixar aquilo acontecer. Maraisa podia tentar esconder seus sentimentos, podia fingir que amava outra pessoa, mas Marília sabia a verdade. Ela era a pessoa que Maraisa realmente amava, era a ela que chamava nas noites mais solitárias, nos momentos de felicidade e também nos de tristeza. Marília era a constante em sua vida, e agora, mais do que nunca, ela precisava lembrá-la disso.

A manhã estava começando a clarear quando Marília finalmente tomou sua decisão. Ela jogou algumas notas no balcão, levantou-se com determinação e saiu do bar. O vestido branco de Maraisa não seria manchado pela mentira que estava prestes a acontecer.

Horas depois, a igreja estava cheia. Convidados bem vestidos, flores cuidadosamente arranjadas, o murmúrio de pessoas animadas para testemunhar o casamento. Maraisa estava no altar, o sorriso que exibia não alcançava seus olhos. Ela tentava disfarçar o aperto em seu peito, sabendo que estava cometendo o maior erro de sua vida, mas era tarde demais... ou pelo menos, ela achava que era.

A cerimônia começou, o murmúrio silenciou e o padre começou a falar. Tudo parecia seguir o script perfeitamente, até que as portas da igreja se abriram com um estrondo.

Marília entrou correndo.

O som dos passos ecoou pela igreja, e os convidados se viraram, surpresos. Os olhos de Maraisa se arregalaram ao ver Marília parada no corredor, ofegante, o olhar fixo nela. Tudo ao redor delas sumiu. As flores, os convidados, o noivo... nada mais importava.

— Para com isso, Maraisa! — Marília gritou, a voz falhando levemente com a intensidade das emoções que a dominavam. — Você sabe que essa não é a verdade. Você não pode mentir pra você mesma.

O noivo, perplexo, tentou intervir, mas Marília o ignorou. Ela caminhou até o altar, sem desviar os olhos de Maraisa.

— Joga essa aliança fora — continuou Marília, sua voz agora mais baixa, mais íntima. — Eu sei bem quem você ama. É a mim que você chama nas noites frias, na saúde, na tristeza, e... na alegria e na cama.

Maraisa sentiu o ar faltar. O nó em sua garganta a impedia de falar, mas ela sabia que Marília estava certa. Seu corpo inteiro tremia. Marília estava diante dela, a verdade crua escancarada entre as duas. Como ela poderia continuar com aquela farsa?

— Por que você está fazendo isso? — Maraisa perguntou, sua voz saindo fraca.

— Porque você merece a verdade, e eu também. — Marília deu mais um passo, a poucos centímetros de Maraisa agora. — Olha pra mim, Maraisa. Eu sei que você me ama. Não adianta tentar esconder isso atrás de uma cerimônia. E eu... — Marília fez uma pausa, o olhar firme. — Eu não vou deixar você fugir do que sente.

A igreja estava silenciosa. Todos esperavam o próximo movimento. Maraisa olhou para o anel em seu dedo, aquela aliança que de repente parecia tão pesada. Ela sabia o que precisava fazer, mas o medo a paralisava. No entanto, o olhar de Marília, cheio de confiança e paixão, a encorajou.

Com um suspiro profundo, Maraisa tirou a aliança do dedo e a deixou cair no chão. O som do metal batendo no mármore ecoou pela igreja, e foi como se um peso imenso tivesse sido tirado de seus ombros.

Marília deu um passo à frente, pegando a mão de Maraisa e a puxando para si.

— Eu não vou deixar você ir — sussurrou Marília, olhando diretamente em seus olhos. — Na saúde, na tristeza, na alegria... e na cama.

Um sorriso fraco surgiu nos lábios de Maraisa, e ela assentiu, finalmente permitindo que seus sentimentos tomassem conta. Ela estava cansada de fugir. Cansada de mentir para si mesma.

E assim, diante de todos os convidados, diante de uma cerimônia interrompida, Marília e Maraisa se abraçaram, com a certeza de que, naquele momento, estavam exatamente onde deveriam estar.

História das músicas- MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora