10 de setembro. Era uma data que costumava ter um significado especial. A cada ano, elas planejavam algo diferente, sempre juntas. Marília olhou para o celular, ainda nas primeiras horas da noite, mas o peso do dia já havia caído sobre seus ombros. Ela sempre foi pontual com suas felicitações, com suas demonstrações de afeto, mas naquele ano... tudo estava diferente.
A noite anterior havia sido um desafio. Ela se forçara a dormir cedo, tentando evitar o dia, tentando não pensar em como tudo deveria ser diferente. Mas o peso da data era inevitável. "A gente tinha um plano pra esse dia do ano", pensou, mordendo o lábio inferior enquanto segurava o telefone, indecisa entre ligar ou não.
Do outro lado da cidade, Maraisa estava cercada por amigos e familiares. A festa não era grandiosa, mas as pessoas mais importantes estavam ali, rindo e conversando. Ela sorria, mas algo em seu olhar parecia distante, perdido em algum ponto da sala. O telefone ao seu lado permanecia em silêncio, sem qualquer notificação de quem ela realmente esperava ouvir. Seu coração apertava sempre que olhava para o relógio. O tempo parecia se arrastar.
Marília, por fim, não conseguiu segurar mais. Pegou o telefone e discou o número que conhecia tão bem. Cada toque que ecoava na linha parecia mais pesado do que o anterior, até que a voz suave de Maraisa atendeu.
— Alô? — A voz do outro lado soou leve, mas havia uma cautela escondida ali.
— Oi, Maraisa. — A voz de Marília saiu quase trêmula. — Eu... só liguei pra te dar parabéns.
Do outro lado, houve uma pequena pausa. Maraisa sorriu suavemente, mas era um sorriso misturado com dor, uma tentativa de manter as aparências, mesmo com o nó que se formava em sua garganta.
— Obrigada, Marília. Fico feliz que tenha lembrado.
"Como poderia esquecer?", pensou Marília, embora não dissesse em voz alta. O silêncio entre elas começou a pesar, a ausência do que poderia ter sido quase palpável. Marília finalmente rompeu o vazio.
— Quero que você fique bem... mesmo longe de mim. — A frase saiu mais rápida do que ela pretendia, e ela fechou os olhos, como se esperasse que o impacto de suas palavras não fosse tão doloroso.
— Eu tô bem — respondeu Maraisa com firmeza, embora ambas soubessem que aquilo não era totalmente verdade. — Espero que você também esteja.
Marília riu, mas era um riso amargo, quase incrédulo. O tipo de riso que surge quando a verdade dói mais do que as palavras podem expressar.
— Você sabe que eu não tô. — Ela deu uma pausa longa, o coração batendo acelerado, mas, ao mesmo tempo, oprimido. — E o seu presente, o único que eu posso te dar, é dizer que ninguém, absolutamente ninguém, consegue ocupar o seu lugar. Olha o que eu fiz, Maraisa. — A voz de Marília ficou baixa, quase um sussurro. — Parabéns pra mim.
Maraisa fechou os olhos, deixando as palavras afundarem. Havia um milhão de coisas que ela poderia dizer, que queria dizer. Mas ela não disse nenhuma delas. Em vez disso, sua mão apertou o telefone com mais força, as unhas cravando-se na palma.
— A gente tinha um plano pra essa data do ano, lembra? — Marília continuou, sua voz agora mais rouca, carregada de emoção. — Seria eu que estaria do seu lado. Se eu não tivesse errado tanto. Se eu não tivesse demorado tanto.
Houve outro longo silêncio. Maraisa sabia que era verdade. Elas tinham um plano, uma promessa, mas o tempo, os erros e as escolhas erradas as distanciaram. E agora, no dia que deveria ser de celebração, tudo parecia um lembrete doloroso do que nunca aconteceu.
— Marília... — Maraisa começou, mas as palavras falharam. Ela queria dizer que a perdoava, que talvez o tempo ainda pudesse curar. Mas, ao mesmo tempo, sabia que as cicatrizes eram profundas demais para simplesmente desaparecer.
— Eu só queria te ligar e dizer isso. — Marília cortou. — Que você é insubstituível. Eu só demorei demais pra perceber. Então, parabéns, Maraisa. E... parabéns pra mim também. Por tudo que eu perdi.
A despedida estava subentendida nas palavras. Maraisa fechou os olhos, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. Do outro lado da linha, Marília esperou um momento, e, quando o silêncio ficou insuportável, finalmente desligou.
Maraisa ficou parada, segurando o telefone, enquanto a festa continuava ao seu redor. O sorriso que ela mantinha até aquele momento desapareceu completamente, e uma única lágrima escorreu por seu rosto. As palavras de Marília ecoavam em sua mente, mas o que mais doía era saber que, por mais que ambas quisessem voltar no tempo, o tempo havia seguido em frente.
E com ele, elas também precisavam seguir.
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História das músicas- Malila
Fiksi PenggemarMúsicas são histórias, então por quê não as deixamos viver?