A casa estava silenciosa, o tipo de silêncio que faz o som do eco preencher os espaços vazios. Maraisa andava pelo corredor, o olhar distante. Tudo parecia ter parado desde que Marília saiu por aquela porta. Mas, mesmo com a ausência física dela, a presença de Marília estava impregnada em cada detalhe. Maraisa podia sentir isso em cada passo.Ela se jogou no sofá, o som de seu corpo afundando no estofado ecoou pela sala vazia. Fechou os olhos, tentando bloquear as lembranças, mas foi inútil. O cheiro de Marília ainda estava ali, impregnado nos travesseiros, nas roupas que ela usava, nos lençóis da cama bagunçada.
"Você levou tudo, mas deixou a saudade", murmurou Maraisa para si mesma, com uma amargura crescente no peito. Ela se levantou, começou a andar pela casa, cada canto relembrando momentos que elas compartilharam.
No quarto, as gavetas que Marília usava estavam vazias, mas Maraisa podia jurar que ainda sentia o toque suave das mãos dela enquanto organizava suas roupas. Os cabides, agora sem as camisas que Marília gostava, pareciam pendurados no vazio.
Ela se aproximou da cama, que ainda estava desfeita desde a última vez que Marília dormiu ali. O lençol, desordenado, parecia gritar sua ausência. Maraisa suspirou e se jogou na cama, abraçando o travesseiro como se ele pudesse trazer Marília de volta.
"Tem certeza que você levou tudo?", sussurrou, encarando o teto. A pergunta flutuou no ar. Ela sabia que Marília havia levado suas coisas, mas não conseguia entender como alguém podia partir e deixar tanta coisa para trás. Era como se cada objeto da casa tivesse a marca dela.
Ela se levantou novamente e foi até o banheiro. O vidro do box ainda estava embaçado do último banho. Como um reflexo involuntário, Maraisa passou a mão no vidro e ali, como se fosse um hábito, desenhou um coração com uma flecha atravessada. Era algo que Marília sempre fazia. Todo banho era a mesma coisa: ela embaçava o vidro e desenhava aquele símbolo de amor bobo, mas que sempre arrancava um sorriso de Maraisa.
Agora, aquele desenho parecia tão vazio, sem significado, como se o coração que sempre estivera lá tivesse perdido o brilho. Maraisa suspirou, passando a mão sobre o desenho, apagando-o lentamente, mas a sensação de perda só crescia.
"Eu te vejo em tudo, Marília", murmurou, virando-se para o quarto. "Nos cabides, nas gavetas, até na cama bagunçada... Como você pode não estar aqui, mas estar em todo lugar ao mesmo tempo?"
Ela voltou para a sala, o olhar perdido enquanto tentava encontrar algo que preenchesse o vazio. Passou pela mesa de cabeceira e parou ao ver o livro preferido de Marília. O livro estava ali, como se Marília fosse voltar a qualquer momento para terminá-lo.
"Até o criado mudo sente sua falta", riu amargamente. Maraisa se aproximou e pegou o livro, sentindo o cheiro das páginas. Não era apenas o cheiro do papel, mas o cheiro de Marília, algo tão sutil que fazia seu coração doer ainda mais.
Ela se sentou, abraçando o livro contra o peito, tentando afastar a saudade. Mas era impossível. O eco de Marília estava em cada parte daquela casa. Maraisa queria esquecer, queria seguir em frente, mas como fazer isso quando a pessoa que ela amava parecia ter deixado pedaços de si espalhados em cada canto?
"Você esqueceu de levar a saudade, Marília", sussurrou, encarando a porta da frente como se, de algum jeito, Marília pudesse voltar a qualquer momento e desfazer aquele vazio insuportável.
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História das músicas- Malila
Fiksi PenggemarMúsicas são histórias, então por quê não as deixamos viver?