Capítulo 3

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Maya acordou cedo na manhã seguinte, como sempre fazia. Sua rotina era uma engrenagem bem ajustada, onde cada movimento, cada ação, tinha seu lugar específico. Após o café da manhã, que consistia em uma dose precisa de café preto e uma torrada integral com abacate, ela se sentou em sua mesa de trabalho. Como publicitária, Maya vivia cercada por prazos, clientes exigentes e campanhas que precisavam ser perfeitas. Ela prosperava sob pressão, sentindo-se no controle quando podia revisar cada detalhe até estar satisfeita.

Hoje, no entanto, havia uma distração que ela não conseguia afastar. Enquanto revisava o layout de uma campanha, a imagem de Giovanna continuava invadindo sua mente. Aquela mulher desorganizada e irritantemente relaxada havia conseguido, de algum modo, entrar em seus pensamentos. Maya balançou a cabeça, tentando se concentrar novamente.

— Concentre-se, Maya — murmurou para si mesma, voltando os olhos para a tela do computador. Ela digitou rapidamente, ajustando as cores e fontes do anúncio, buscando a perfeição que sempre almejava.

Mas o ritmo de trabalho não foi suficiente para afastar as lembranças do dia anterior. Toda vez que terminava uma tarefa e sua mente vagava, ela se via relembrando a troca de farpas com Giovanna, a tensão silenciosa no banco do parque, e o desconforto que sentiu ao perceber os olhares inquisitivos da vizinha.

Enquanto isso, o dia de Giovanna estava sendo muito diferente. Veterinária em uma clínica local, Giovanna enfrentava uma rotina muito mais imprevisível. Sua manhã começou com um filhote de gato que havia engolido um brinquedo de plástico e precisava de uma cirurgia urgente.

Ela corria de um lado para o outro, sempre com um sorriso nos lábios, mesmo quando a situação era crítica. A clínica estava sempre um pouco caótica, com telefonemas constantes, animais sendo trazidos para emergências e clientes entrando e saindo. Mas Giovanna adorava isso. Ela prosperava na incerteza, na necessidade de pensar rápido, de se adaptar às circunstâncias que mudavam constantemente.

No meio da manhã, enquanto esperava os resultados de um exame, Giovanna teve um breve momento de pausa. Pegou o celular para verificar as mensagens, mas em vez disso, se pegou olhando para o fundo de tela, uma foto de Ozzy brincando em um campo. Ela sorriu, mas então sua mente a levou de volta a Maya. O encontro no parque, a tensão no elevador, e a frieza na forma como Maya lidava com tudo, estavam mais presentes do que gostaria de admitir.

— O que será que passa pela cabeça daquela mulher? — murmurou para si mesma, enquanto se levantava para atender outro paciente. Havia algo em Maya que a intrigava, uma complexidade que ela não conseguia decifrar, e isso a incomodava. Giovanna não estava acostumada a ser deixada no escuro sobre as pessoas ao seu redor. Ela gostava de entender, de sentir que podia ler as pessoas. Mas com Maya, era como se estivesse olhando para um muro de concreto.

Enquanto o dia de trabalho seguia, ambas as mulheres mergulharam em seus respectivos mundos, completamente diferentes um do outro. Maya passou a tarde em reuniões virtuais, debatendo estratégias com clientes e equipe, ajustando cada detalhe das campanhas que coordenava. Cada palavra, cada imagem era revisada para garantir que nada saísse do controle. Ela mantinha uma lista detalhada de tarefas, onde cada item era cuidadosamente riscado assim que concluído. Às vezes, sentia que essa rotina meticulosa era o que a mantinha sã em um mundo caótico, onde tudo ao seu redor parecia ameaçar sua paz mental. Mas hoje, a sensação de controle era menos satisfatória do que de costume.

Em meio a uma das reuniões, enquanto discutia os conceitos visuais para uma nova campanha, Maya se pegou pensando em como alguém como Giovanna lidaria com aquele tipo de pressão. "Ela provavelmente jogaria tudo para o alto e diria para seguirem o fluxo," pensou Maya com um toque de ironia. Mas o pensamento trouxe um leve sorriso aos seus lábios, algo que ela rapidamente disfarçou, voltando sua atenção ao projeto.

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