Capítulo 25

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Já fazia algumas semanas que o clima entre Maya e Giovanna estava leve e agradável. As duas se aproximaram bastante, mas ainda sem rotular o que tinham. Maya gostava dessa sensação de descoberta, dessa proximidade que não precisava de explicações. Giovanna também parecia estar aproveitando, e as trocas de olhares e sorrisos eram frequentes.

Em um certo dia, Maya decidiu visitar Giovanna na clínica. Estava passando em frente a uma confeitaria e lembrou-se que Giovanna adorava chocolates. Com uma caixa nas mãos, decidiu surpreender a loira no meio do expediente. Ela gostava desses gestos inesperados, e sabia que, por mais que não falassem sobre seus sentimentos, os pequenos detalhes diziam muito.

Ao chegar à clínica, Maya abriu a porta com um sorriso, mas sua expressão mudou ao ver Giovanna conversando com outra mulher. A mulher era ruiva, com cabelos longos e lisos, usava uma roupa justa e elegante, e estava perigosamente próxima de Giovanna, tocando-lhe o braço enquanto falava. Maya sentiu um incômodo imediato. "Quem é essa?" Ela se perguntou, mas decidiu se aproximar para descobrir.

— Oi, Gio — disse Maya, sua voz carregando uma leve tensão, apesar do sorriso que tentou manter.

Giovanna virou-se rapidamente, surpresa ao ver Maya ali, e seu sorriso apareceu, mas não foi o suficiente para dissipar a atmosfera estranha.

— Maya! Eu não sabia que você viria. . . — começou Giovanna, tentando soar casual, mas havia um tom de nervosismo na sua fala.

Antes que qualquer uma pudesse dizer mais, a ruiva olhou para Maya com um sorriso provocador.

— Ah, você deve ser a Maya. Sou Kiara, ex da Giovanna — disse a mulher, sem rodeios, o que pegou Maya de surpresa.

— Ex? — Maya repetiu, surpresa, enquanto olhava de Kiara para Giovanna.

Giovanna passou a mão pela testa, claramente incomodada com a direção da conversa. — Kiara e eu tivemos um relacionamento há muito tempo. Ela só veio aqui para conversar um pouco. Não é nada. . .

— Nada? — Kiara interrompeu, sorrindo de lado. — Nós estávamos apenas relembrando algumas coisas, sabe? Velhos tempos, sabe?

Maya sentiu o estômago embrulhar. Ela não sabia se era ciúme ou o desconforto de ver outra pessoa tão próxima de Giovanna, mas definitivamente não gostou do tom de Kiara. A forma como ela tocava Giovanna e olhava para Maya com aquele ar de provocação parecia ter sido calculada para mexer com ela.

— Relembrando os velhos tempos, é? — Maya repetiu, sua voz carregando uma acidez que ela raramente demonstrava.

— Não é como parece, Maya — disse Giovanna, agora visivelmente desconfortável. Ela deu um passo para trás, afastando-se sutilmente de Kiara, e tentou explicar. — Kiara só apareceu de surpresa. Não há mais nada entre nós.

Kiara riu suavemente, um som que fez Maya sentir o estômago apertar ainda mais.

— Claro, Gio. Estamos apenas. . . relembrando. — O olhar de Kiara fixou-se em Maya por um momento, como se estivesse avaliando suas reações.

Maya apertou os lábios, tentando manter a calma, mas o desconforto era evidente. Ela olhou para Giovanna, e a situação parecia insuportável. Ela tinha ido ali para um gesto simples e afetuoso, mas agora sentia-se deslocada e talvez até desconsiderada.

— Bom, eu só trouxe isso pra você — disse Maya, estendendo a caixa de chocolates com as mãos trêmulas.

Giovanna pegou a caixa, mas antes que pudesse dizer algo, Maya continuou:

— Acho que vocês têm muito o que conversar. Vou deixar vocês à vontade. — E com isso, ela se virou para sair antes que qualquer emoção ficasse mais aparente.

Giovanna deu um passo à frente, tentando chamar Maya de volta. — Maya, espera. . . não é o que você está pensando!

Mas Maya não se virou. Ela saiu da clínica, com o coração apertado e a mente cheia de dúvidas. O que era aquilo que sentia? Ciúmes? Raiva? Medo? Ela não sabia, mas a presença de Kiara ali, com toda aquela confiança, tinha deixado tudo ainda mais confuso.

Dentro da clínica, Giovanna olhou para Kiara, irritada.

— Você não precisava fazer isso, Kiara. — A loira cruzou os braços, agora muito mais séria.

Kiara sorriu, sem mostrar remorso.

— Ah, Gio, só estava me divertindo. Parece que ela se importa mais do que você pensa. — E com isso, Kiara deu de ombros e começou a sair.

Giovanna suspirou, frustrada, enquanto via a ex ir embora. Ela sabia que precisava falar com Maya, mas agora tinha certeza de que as coisas estavam mais complicadas do que antes.

Giovanna não perdeu mais tempo. Assim que viu Maya sair da clínica, seu coração disparou. Ela sabia que não podia deixar aquilo acabar assim. Kiara tinha se aproveitado da situação e, mesmo que não houvesse mais nada entre as duas, Maya claramente não entendia da mesma forma. Giovanna precisava consertar as coisas.

Correndo pela calçada, ela avistou Maya prestes a entrar no carro. Antes que a mulher pudesse fechar a porta, Giovanna segurou seu braço com firmeza, mas com cuidado, tentando evitar que ela fosse embora sem ouvir o que tinha a dizer.

— Maya, espera! — disse Giovanna, sua voz cheia de urgência.

Maya virou-se abruptamente, os olhos semicerrados de frustração. Ela olhou para a mão de Giovanna segurando seu braço e sua expressão endureceu.

— Me solta, Giovanna — disse Maya, sua voz baixa e firme.

— Maya, por favor, me escuta! Não é o que você está pensando. Kiara apareceu de repente, eu não. . . — Giovanna tentava explicar, mas Maya a interrompeu, a voz agora mais amarga.

— Não precisa me explicar nada, Giovanna. — Maya puxou o braço, mas Giovanna não soltou. — Nós duas somos só amigas, certo? Só amigas.

A última palavra saiu com uma força que Maya nem sabia que tinha. Ela queria parecer indiferente, como se a situação não a tivesse afetado, mas a forma como Giovanna ainda a segurava pelo braço e olhava diretamente em seus olhos estava desmoronando a fachada de controle que Maya tentava manter.

— Amigas? — Giovanna repetiu, incrédula. Ela balançou a cabeça, claramente frustrada. — Maya, você realmente acha que somos só amigas?

Maya manteve o olhar firme, mas algo em sua expressão vacilou por um segundo. — O que mais seríamos?

— Eu quero ser muito mais do que sua amiga. — Giovanna respirou fundo, tentando organizar as palavras que estavam presas dentro de si há tanto tempo. — Eu quero você. Como minha namorada. Como. . . como tudo. Eu quero te levar pra jantar, te fazer rir todos os dias, te ver todas as manhãs ao acordar. Quero você na minha vida. E um dia. . . um dia, eu quero você como minha esposa.

O silêncio entre elas ficou pesado. As palavras de Giovanna ecoavam no ar, carregadas de sinceridade e sentimento. Maya sentiu algo quebrar dentro dela. Todos os seus muros, todo o controle que sempre se orgulhara de ter, pareciam insignificantes diante daquelas palavras.

Uma única lágrima escapou de seus olhos. Maya tentou se manter forte, mas aquela confissão atingira um ponto vulnerável demais. Ela não sabia o que dizer, como reagir. Era como se tudo que ela temia e desejava estivesse acontecendo ao mesmo tempo, e a mistura de sentimentos era demais para processar.

Ela deu um passo para trás, soltando-se do toque de Giovanna, que ainda olhava para ela com esperança.

— Eu. . . eu preciso ir — disse Maya, sua voz mal saindo.

Sem esperar por uma resposta, Maya entrou no carro, fechou a porta e deu partida. Giovanna ficou ali, parada, observando o carro se afastar. O peito dela doía, mas ela sabia que havia dito o que precisava. O resto. . . o resto agora estava nas mãos de Maya.

Enquanto Maya dirigia de volta para casa, seu coração estava em tumulto. As palavras de Giovanna ecoavam em sua mente repetidamente, e a lágrima que escapou não foi a única.

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