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O Doutor foi o primeiro a colocar a cabeça para fora, deu um suspiro profundo e, já que isso não foi suficiente para se localizar, lambeu a ponta do dedo e apontou para o ar, seu tradicional ritual com a saliva, para entender se haviam chegado no lugar certo.

Logo, a cabeça de Teresa, também estava tentando passar pela fresta da porta da TARDIS que ele abriu, os dois se espremendo.

- Chegamos? - ela perguntou, os olhos brilhando com a ansiedade.

- Betânia, 34 d.C, final de março de acordo com o calendário romano. Era para termos pousado em Jerusalém.

- Você tem certeza de que sabe dirigir essa coisa? – ela o encarou atentamente – Parece eu quando preciso estacionar meu carro e não sei fazer baliza então paro há 10 quadras do local.

- A TARDIS me leva onde preciso ir. Nunca falhou antes – O Doutor afirmou e deu de ombros, mas ao ver o sorriso sutil da menina, o desafiando, desviou o olhar, finalmente admitindo – Algumas vezes ela falha, mas é para o bem maior. E podemos nos locomover para lá, sem problemas. Poucos quilômetros.

- Não vai ser necessário - Teresa se encolheu para dentro - ele estava por Betânia na casa de seus amigos antes da Páscoa. Estamos no lugar certinho para isso. Doutor? - ela parou, parecendo perceber alguma coisa. - Não posso andar por aí com meus jeans e jaqueta de couro. Se aquela horda de seguidores do Caifás me pega, me apedrejam - Ao ver a cara estática dele, ela tenta explicar - Caifás era o sumo sacerdote no templo. Aplicava as leis judaicas com rigidez.

- Eu sei quem é Caifás, Teresa. Posso não acreditar na história bíblica, mas não quer dizer que eu não a conheça. É importante para as civilizações.

- Ah certo - ela dá um sorriso envergonhado - Roupas?

- Só siga por aquele caminho - ele aponta para um dos corredores da TARDIS, e abra todas as portas a partir da 3° a esquerda que você encontrar. A TARDIS vai materializar o guarda-roupa.

- Fantástico - ela dá pulinhos de alegria enquanto se dirige até lá, murmurando consigo mesma sobre qual cor Jesus ia gostar mais.

O Doutor apenas balançou a cabeça, soltando uma risada fraca. Apesar de ele achar absurdo as ideias da menina, era impossível não ser contagiado pela maneira que ela falava sobre elas. Ele imaginou como seria, ter tanta fé a esse ponto. Como alguém que não acreditava em nada além do que poderia tocar, ver ou provar, o Doutor era muito firme nas suas convicções, mesmo já tendo sido surpreendido em suas viagens várias vezes. Mas a fé cristã era algo que não entrava na sua cabeça, porque exigia que se acreditasse em coisas que justamente não se podiam ver, provar nem tocar. E mesmo assim, os seguidores tinham uma paz que ele, em 900 anos de existência não conseguiu alcançar por aquilo que era palpável. Ele não os criticava, os invejava. Precisavam de coragem, em um nível que, mesmo tendo lutado em batalhas perigosas no espaço, enfrentado daleks, cybermans, anjos lamentadores, o mestre, o toymaker e desafiando a própria Proclamação das Sombras, ele não tinha.

Nem 5 minutos depois, Teresa entrou na sala de controle da TARDIS, vestindo uma túnica preta que se movia com graciosidade ao redor dela, um manto azul claro adornando seus ombros e um véu branco que acrescenta um toque ambiente a si. Ela dá uma rodadinha, se admirando.

- E então, o que você acha? – ela pergunta, rodopiando.

O Doutor se vira dos controles da TARDIS, observando Teresa com curiosidade. A roupa cai nela perfeitamente.

- Muito bem – ele responde com um sorriso amistoso – Estou admirado que conseguiu se vestir tão rápido.

- Usei uma fantasia como essa no acampamento da igreja nesse ano. Da primeira vez, sofri um pouco para entender como funcionava, mas com essa já me acertei – ela dá umas batidinhas no tecido da saia para garantir que está tudo nos conformes – Se eu tivesse um guarda-roupa como o da TARDIS na minha casa, eu me atrasaria bem menos. Todas as roupas que eu precisei estavam fáceis de encontrar, apesar da quantidade.

Uma discípula no caminho da TARDISOnde histórias criam vida. Descubra agora