cap3

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Algumas semanas se passaram desde que eu e Nomar começamos a trabalhar no frigorífico. No início, as dores eram insuportáveis, mas com o tempo, fomos nos acostumando com a rotina árdua. Eu fiz muitas amizades por lá, e isso me ajudou a enfrentar os dias difíceis com um sorriso no rosto.

No entanto, tudo mudou quando Nomar recebeu uma proposta para trabalhar no PCC. Embora fosse uma oportunidade incrível para ele, senti que algo estava se quebrando entre nós. Nossos horários não batiam mais, e as conversas que antes fluíam naturalmente tornaram-se raras e breves. A cada dia que passava, parecia que estávamos nos afastando um pouco mais.

Com essa distância crescente, comecei a explorar novas conexões no trabalho. Descobri um lugar que chamei de "cantinho do abate", um espaço onde eu podia me refugiar da pressão do dia a dia. Ali, cercada por risadas e novos amigos, encontrei uma forma de aliviar o peso da rotina cansativa. Comecei a passar tempo com alguns meninos do trabalho, e esses momentos de descontração trouxeram um novo brilho aos meus dias.

Mas, apesar da diversão, havia um vazio crescente dentro de mim. Cada risada compartilhada no "cantinho do abate" me lembrava da falta que Nomar fazia em minha vida. As lembranças dos nossos momentos juntos — das pausas para o café e das conversas sob as estrelas — ecoavam em minha mente como um lembrete constante do que estávamos perdendo.

Enquanto eu tentava me divertir e aproveitar as novas amizades, não conseguia ignorar a saudade de Nomar. A verdade é que eu estava presa entre a busca por novas experiências e o desejo profundo de resgatar nossa conexão. Eu sabia que precisava encontrar um equilíbrio entre essas novas relações e o laço especial que ainda nutria com ele.
A vida no frigorífico era uma rotina que eu já conhecia de cor. Os dias eram longos e cansativos, mas os intervalos eram o nosso pequeno refúgio. Foi nesse espaço que conheci Lucas, um menino que iluminou meus dias com seu jeito leve e descontraído. Começamos a passar os intervalos juntos, rindo e compartilhando histórias, enquanto Nomar observava de longe.

Certa noite, enquanto estávamos todos na calçada em frente à empresa, Nomar começou a reclamar do trabalho. Era algo habitual para ele, uma maneira de aliviar a pressão. Mas naquela noite, eu estava tão absorta na conversa com Lucas que deixei as palavras de Nomar passarem despercebidas. Quando percebi que ele havia se calado e se afastado, um aperto no meu peito me fez entender que algo não estava certo.

Nomar entrou na empresa sem olhar para trás, e eu senti uma onda de culpa me invadir. Por que eu não havia prestado atenção? Eu só queria ser diferente, queria poder mudar o rumo daquela situação. O desejo de ir atrás dele cresceu dentro de mim, mas sabia que naquele momento a raiva e a frustração falariam mais alto. Decidi dar um tempo para ele.

Mas esse tempo se transformou em um mês — um mês interminável e doloroso. A cada dia que passava no frigorífico, a ausência de Nomar se tornava mais evidente. Ele não estava mais presente nas nossas conversas; o clima leve que antes reinava havia se dissipado, substituído por um silêncio pesado.

As interações com Lucas começaram a perder o brilho. Embora ele fosse uma boa companhia, eu sentia que nada conseguia preencher o vazio deixado por Nomar. Cada risada compartilhada com Lucas era acompanhada por uma pontada de tristeza; eu estava presa entre dois mundos: a alegria momentânea e a dor da ausência do meu amigo.

A cada intervalo em que esperava ver Nomar entrar ou ouvir sua voz familiar, meu coração se apertava mais forte. As memórias das nossas conversas sobre sonhos e desafios ecoavam na minha mente como um lembrete constante do que havia perdido. O silêncio se tornara ensurdecedor.

Eu queria ser corajosa o suficiente para ir até ele e pedir desculpas, mas algo me impedia. O medo de estragar ainda mais as coisas me paralisava. Em vez disso, eu me afundava em pensamentos sobre como poderia ter agido de maneira diferente — como deveria ter ouvido suas reclamações com mais atenção e cuidado.

Com o passar dos dias, percebi que precisava enfrentar essa situação. O silêncio entre nós não era apenas desconfortável; era doloroso. Meu coração clamava por reconciliação e compreensão.

Em uma noite fria e silenciosa, tomei a decisão de procurar Nomar. As palavras ainda estavam presas na minha garganta, mas sabia que precisava tentar. O medo do desconhecido não poderia ser maior do que meu desejo de consertar o que havia quebrado.

between scars and promisesOnde histórias criam vida. Descubra agora