CAPITULO EXTRA: DESPEDIDA

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POV: Alice

Minha vida nunca foi fácil, mas ainda sim persistia em vivê-la, pois acreditava que um dia poderia melhorar, não poderia estar mais errada. Me casei cedo com o homem que moro hoje, no começo era tudo bom, ele me tratava bem, cuidava de mim, não tínhamos dinheiro, mas ainda, sim, era uma vida boa dentro do possível. Tivemos uma filha, linda, Beatriz, ela foi sem sombra de dúvidas a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, mas não parece ter sido o caso para meu marido.

Depois que dei a notícia de que estava gravida, ele mudou da água para o vinho, ou melhor, da água para cachaça. Ele começou a beber, chegar tarde em casa, gastar todo dinheiro suado que havíamos conseguido com bebidas, drogas e apostas. Quando o confrontei o porquê disso ele me bateu, quase perdi meu bebê, desde então isso virou recorrente, mas por um milagre eu consegui ter a Beatriz, quase morri no parto por estar fraca demais, mas ainda, sim, consegui.

Nada melhorou, ao contrário, piorou. Começamos a viver na miséria, passar fome, devido aos vícios dele, depois que Beatriz completou um ano ele começou finalmente a bater nela, sempre que ela chorava ou pedia alguma coisa, com o tempo ela parou de falar as poucas palavras que havia aprendido. Não havia muito que eu pudesse fazer, fazia todo o possível para proteger ela dele, mas eu era fraca e ele forte. O pior é que eu não tinha ninguém a quem recorrer, depois que casei meu pai que era o único a quem tinha morreu por um câncer no pulmão, já que ele fumava muito. E sim, eu já tentei fugir, mas ele sempre me encontrava e me espancava em seguida, então desisti de me salvar e voltei minhas energias em salvar minha filha, ela merece uma vida melhor que isso.

Um dia fui a uma área residencial para pessoas mais bem de vida, se é que me entendem, era um bairro nobre, havia vários carros e casas bonitas. Nesse dia encontrei uma mulher, loira e bonita, não consegui ver mais já que não me aproximei, ela estava ajudando uma criança que havia acabado de cair de bicicleta, ela a levantou e consolou a criança que chorava, não muito depois outra mulher linda de cabelos azuis, diferente, mas bonito, ela chegou perto da criança e a fez rir dizendo alguma coisa para ela, logo após acalmar a criança elas entraram num carro muito bonito e saíram. Depois disso voltei mais algumas vezes e sempre via a mulher loira com um sorriso no rosto e ocasionalmente via a de cabelos azuis também. Após duas semanas a olhando eu tomei uma decisão, deixaria a Bia sob seus cuidados, pois me parecia uma pessoa ótima, gentil e com uma vida infinitamente melhor que a minha, ela poderia dar uma vida digna para minha filha.

Na semana seguinte dei um jeito de trazer a Bia para mostrá-la à bela mulher loira e calhou da de azul estar la também em alguns dias. Sempre falava para Bia que aquelas pessoas eram boas e que não machucariam ela, até que finalmente chegou o dia de eu deixá-la. Escrevi uma carta num papel sujo que havia la em casa, minha letra e ortografia não eram das melhores, já que nunca estudei e só aprendi o básico. Expliquei por alto a situação na carta e a entreguei na mão da Bia.

Já na frente da casa da loira, coloquei a Bia sentadinha na escada e mais uma vez expliquei para ela.

— Olha, minha filha, a pessoa que mora aqui é ótima e legal, você vai morar com ela agora tá? — apesar de não ter tido resposta, sei que ela entendeu — você vai fiar aqui sentadinha e esperar ela vir te pegar, tá bom? Aqui, — entreguei a carta a ela — você vai entregar isso a ela quando ela sair, tá bom? — lágrimas desciam dos olhos das duas, limpei as lagrimas de seu choro silencioso, enquanto as minhas rolavam a solta, a abracei forte por alguns segundos — Eu te amo minha filha — e me levantei fui em direção à porta.

Olhei uma última vez para minha filha e vi seus olhinhos todo marejados, a dor que senti no parto ou das surras nem se comparam a que senti naquele momento. Apertei a campainha e saí em disparada enquanto Bia continuava sentada e posição fetal chorando, aquilo doeu muito, mas foi o melhor para ela. Me escondi atrás de uma lata de lixo próxima, esperando ela sair e não demora muito de acontecer. Ela procurou algo, em seguida olhou para o chão e viu a Bia, ela se agachou e tentou falar com a pequena, que lhe entregou a carta e a loira a leu. Ela procura em volta para ver se acha alguém e eu me escondo, em seguida pega a Bia e entra e essa foi a última vez que vi minha filha.

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