Antes que o tempo moldasse os desertos e os rios traçassem seus caminhos sinuosos pela terra, as estrelas já cantavam no vazio etéreo, susurrando segredos antigos que ecoavam em dimensões além da compreensão humana. Em uma noite marcada por um raro alinhamento celestial, uma comunidade reclusa de sábios astrônomos observava o céu com uma mistura de reverência e temor. Aquela noite, carregada de presságios e mistérios, seria lembrada nos anais de sua história não escrita como o Despertar das Estrelas.
Nos confins mais remotos do deserto de Zhar, onde o silêncio se estendia como um tapete sob a abóbada celeste, o sacerdote mais velho da comunidade, Maelor, aguardava o evento com uma expectativa que beirava a obsessão. Ele dedicara a maior parte de sua vida ao estudo de antigos manuscritos estelares, textos empoeirados que falavam de Kor'valis, uma entidade cósmica cuja mente se entrelaçava com o tecido do próprio universo. As páginas desbotadas revelavam profecias e advertências, e o desejo de compreender o insondável pulsava dentro dele como um mantra incessante.
À medida que as estrelas começaram a se alinhar, uma luz indescritível emanava do ponto focal acima da Caverna das Estrelas, uma fenda natural que se erguia como uma cicatriz no terreno rochoso. A comunidade, vestida em mantos cerimoniais de tons azuis profundos que refletiam o céu noturno, formava um círculo ao redor da entrada da caverna, entoando cânticos que se perdiam no tempo. Cada nota vibrava com a energia do cosmos, uma sinfonia de adoração que reverberava através do espaço.
Maelor, cujos olhos agora refletiam o brilho estelar, sentiu uma conexão inquebrável se formando entre ele e o cosmos. As estrelas não apenas brilhavam; elas sussurravam segredos em uma linguagem que apenas sua alma treinada poderia decifrar. Com cada palavra cósmica absorvida, sua mente se expandia e contraía, tocando os confins de uma loucura sagrada que dançava na borda da compreensão.
Naquele momento, Kor'valis se manifestou não como uma forma, mas como uma presença avassaladora que preenchia o céu e penetrava a terra. A realidade ao redor de Maelor começou a se distorcer; as rochas pulsavam como se tivessem batimentos cardíacos, e o ar vibrava com a energia de outro mundo, carregando um perfume de algo primordial. Era uma beleza terrível, sublime em sua incompreensibilidade, como um sonho fugidio que escapa das garras do despertar.
O evento culminou quando a luz celeste atingiu seu ápice, iluminando a Caverna das Estrelas com um esplendor insuportável que parecia rasgar o véu da realidade. Maelor, agora totalmente consumido pelo êxtase cósmico, avançou sozinho para a escuridão da caverna, sua figura se desvanecendo como se engolida pelo próprio universo, um mártir da sabedoria transcendental. Ele era tanto um buscador quanto uma oferenda, um símbolo de ambição e reverência que desafiava as fronteiras do que era permitido.
Quando o amanhecer veio, Maelor não foi mais visto. A comunidade murmurava entre si, temerosa e maravilhada, sobre a verdadeira natureza da sua ascensão. Alguns acreditavam que ele havia se tornado parte do cosmos, um sacerdote eterno de Kor'valis, perdido nas vastidões estelares, enquanto outros temiam que ele tivesse sido destruído pela imensa força da entidade, um sacrifício à curiosidade insaciável da humanidade. Os rostos da comunidade refletiam um misto de espanto e horror, seus olhos fixos no horizonte, como se aguardassem uma resposta que nunca chegaria.
Assim, o mito de Kor'valis se fortaleceu, um eco eterno das estrelas que continuaria a inspirar e aterrorizar as gerações futuras. O sussurro das estrelas havia despertado, e com ele, uma nova era de conhecimento e loucura se iniciava, uma era em que a linha entre o divino e o profano se tornava cada vez mais tênue, ameaçando devorar aqueles que se atrevessem a olhar para o além.