À medida que Elias se aprofundava no deserto de Zhar, a realidade ao seu redor começava a se alterar de maneiras sutis, mas profundamente perturbadoras. Os dias tornavam-se mais longos, ou talvez fosse sua percepção do tempo que se distorcia, como se as horas se alongassem em um interminável vórtice de calor e luz. As noites, imersas em um silêncio quase tangível, eram interrompidas apenas pelo sussurro do vento, que parecia carregar vozes ancestrais, como ecos de uma era esquecida.
Numa tarde particularmente abrasadora, enquanto Elias se abrigava sob uma formação rochosa, ele encontrou os primeiros vestígios físicos de um culto esquecido. Eram fragmentos de cerâmica e pedaços de tecido, possivelmente parte dos paramentos rituais, espalhados entre as rochas como se deixados às pressas, ou talvez como oferendas aos deuses estelares. Cada artefato parecia impregnado com uma história não contada, ecoando a antiga reverência e temor que seus criadores sentiram.
Naquela noite, Elias anotou em seu diário:
> "Os murmúrios são mais claros aqui, sob o manto da escuridão. Não são meras ilusões trazidas pelo isolamento – há vozes entre as rajadas de vento, sussurros que me chamam pelo nome, entrelaçados com promessas de revelações e advertências de perigos iminentes. Sinto uma presença observando cada passo meu, como se os antigos adoradores de Kor'valis nunca tivessem realmente deixado este lugar."
Conforme continuava sua jornada, as alucinações tornaram-se mais frequentes e vívidas. Elias via figuras à margem de sua visão, silhuetas que se desvaneciam quando ele tentava focar nelas. Eram figuras esguias, quase etéreas, com olhos que brilhavam com a luz das estrelas. Elas não falavam, mas ele sentia suas intenções — eram emanações de Kor'valis, existências moldadas pela vontade do ser cósmico, que se manifestava através de sombras e luz.
Os sonhos de Elias também foram invadidos por visões. Em um sonho recorrente, ele caminhava por um vale envolto em névoa, seguindo um caminho de pedras flutuantes que levavam ao céu. Ao final do caminho, uma imensa abertura no cosmos se revelava, e a voz de Kor'valis ecoava, uma sinfonia de sons que nenhum ser humano deveria ouvir. A voz falava de ciclos e de destinos, de civilizações que se ergueram e caíram ao som das suas revelações, sussurrando promessas de poder e conhecimento, mas também de uma loucura inefável.
Era na "Noite das Revelações" que a conexão entre o cosmos e a terra se tornava mais palpável. Segundo as lendas locais, era uma noite de poder, quando o véu entre os mundos se afinava e as verdadeiras formas do universo podiam ser vistas. Elias sabia que essa noite estava próxima, e as estrelas pareciam alinhar-se de uma forma que ele nunca tinha visto antes. Os sussurros tornavam-se cada vez mais urgentes, uma convocação que pulsava no ar, incitando sua curiosidade e sua determinação.
Determinando-se a enfrentar o que quer que aquela noite trouxesse, Elias montou acampamento na base de uma colina que, segundo um mapa riscado em um dos manuscritos, conduzia à Caverna das Estrelas. Ali, esperava encontrar o coração do culto a Kor'valis e, talvez, a chave para compreender a verdadeira natureza da sua busca.
A noite caiu, e com ela, uma quietude sobrenatural se estabeleceu sobre o deserto. As estrelas brilhavam como faróis distantes, e o ar parecia vibrar com uma energia pulsante que prenunciava a aproximação de algo extraordinário. Elias, agora à beira do abismo entre a sanidade e a loucura, preparou-se para adentrar as profundezas do desconhecido, armado apenas com sua crescente obsessão por respostas e uma inabalável necessidade de confrontar o destino que as estrelas pareciam ter traçado para ele.
Enquanto a escuridão envolvia a paisagem, ele seguiu pela trilha que o levava à caverna, cada passo se tornando mais pesado, como se o deserto estivesse se tornando uma extensão de sua própria alma atormentada. Os ecos de seus próprios pensamentos se misturavam aos sussurros do vento, criando uma cacofonia de incertezas e revelações. Uma sensação de expectativa pairava no ar, como se o próprio universo estivesse prendendo a respiração, aguardando a interação entre o mortal e o eterno.
Finalmente, ele chegou à entrada da Caverna das Estrelas, uma fenda que se erguia na rocha, parecendo uma boca escura pronta para engoli-lo. O ar estava impregnado de uma energia quase elétrica, e a sensação de ser observado se intensificou. Elias hesitou por um momento, o coração disparando em seu peito. Mas a chamada de Kor'valis era irresistível, e com uma determinação renovada, ele adentrou a escuridão, pronto para descobrir o que o aguardava nas profundezas do desconhecido.
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