Destino

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   Na volta pra casa Chaeyoung não perguntou a respeito do que Dahyun e Sana haviam conversado no quarto uma vez sequer, o que a fez acreditar fielmente que sua amiga havia dado um jeito de enviar a maldita mosca para espiona-la sem que notasse, porque essa seria a única explicação pra uma fofoqueira de carteirinha como ela estar calada.

   Elas seguiram de moto todo o percurso de volta em silencio e ao chegarem na frente do motel onde anteriormente haviam sido deixadas pelo portal, Chaeyoung enviou uma mensagem a Minho e pouco depois outra abertura surgiu vinda totalmente do nada. Ainda que com receio, Dahyun cruzou a passagem psicodélica logo atrás da amiga, viajando até o quarto do rapaz novamente. Chaeyoung permaneceu lá porque ainda devia sua parte do acordo, desenhado para o chapado algo divertido de se ver. Já Dahyun se encaminhou até seu dormitório, exausta.

   A sensação de desgaste era engraçada porque teoricamente seu corpo não se cansava, mas a mente estava tão cheia agora que quase se sentia pesar, literalmente. Havia sido um dia longo e muito para uma garota habituada a mesmice lidar. Agradeceu pelo silêncio em todo caminho de volta e por estar sozinha no dormitório, era como se sua melhor amiga soubesse que ela precisava de espaço.

   Tomou um banho quente e merecido, logo colocando seu pijama fofo favorito e se deixou cair na cama com um suspiro prolongado; seus olhos se fecharam pesados e achou que seria arrebatada para o mundo dos sonhos rapidamente, mas ao invés disso, um par de olhos bonitos surgiram em sua mente como um clarão ofuscante.

   Dahyun se ajeitou no colchão e fitou o teto. Sana a havia pedido que continuasse a visitando e garantiu que faria isso sem sequer hesitar. O que tinha na cabeça afinal? Não dava, estava proibida de frequentar o subúrbio definitivamente e só conseguiu escapar dessa vez porque teve ajuda de fora. Como pisaria naquele bairro em outros momentos sem que sua mãe soubesse? Ela estava marcando em cima, Dahyun quase sentia a respiração em sua nuca.

   Mas negar a Sana parecia ainda mais impossível.

   Não entendia porque era tão complicado assim dizer não a uma desconhecida, mas não conseguia se imaginar decepcionando ela. Talvez por conta de tudo o que aconteceu e a maneira como se conheceram, de alguma forma se sentia responsável pelo bem estar dela, como se tivesse que compensar pela situação traumática que a outra havia passado? 

   Mas a situação havia sido traumática para ambas. Bem, talvez fosse isso afinal, um laço que surgiu devido a experiência aterrorizante que enfrentaram juntas. Sana mal a conhecia, mas parecia tão genuinamente feliz em seu pedido, ela também não estava acompanhada aquela noite. Será que não possuía ninguém?

   Imagens do acidente voltaram a circular em sua mente como um tornado de angustia; o som de gritos, a fuligem e a sensação de calor faminta que a cercou. O pânico em ver uma garota tão frágil em situação de risco eminente. Sangue, ossos, sua expressão de dor. Ela não merecia nada daquilo.

   Bufou frustrada e esfregou o rosto com força. Não tinha escolha, teria de dar um jeito de escapar e ir vê-la novamente de uma maneira ou de outra.

   — Tô ferrada...

   No meio daquela frustração acabou adormecendo.

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   Alguns dias passaram desde então e Dahyun não conseguiu encontrar uma maneira de visitar Sana. Pela manhã estava ocupada com as aulas e a tarde precisava ajudar Chaeyoung a treinar para a competição final, um evento que acontecia todo ano pouco antes da graduação dos alunos do terceiro, onde interessados apresentavam suas dadivas duelando uns contra os outros na esperança de ganhar atenção dos figurões. A maioria fazia aquilo com o intuito de ser patrocinado por algum legado famoso na carreira como herói, mas Dahyun sabia que não era o caso de Chaeyoung. Sua amiga só estava interessada em calar a boca de todos que a subestimavam. A dádiva dela não era muito bem vista no meio e até ridicularizada as vezes pelos alunos tachados como "mais poderosos".

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