Vivendo com a dor (Parte II)

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Olhei assustada pra ela, isso foi o suficiente para Andrew, que estava entre nós duas pegar a minha nuca, todos em volta pensariam que seria apenas um aperto casual, mas eu que senti seu toque, estava muito além disso. Ele inclinou a cabeça até ficar na altura da minha, pensei que ele me beijaria na bochecha, fechei meus olhos e senti quando ele respirou fundo ali, eu engoli em seco, sentindo seu cheiro sempre tão embriagante. Ele também estava me cheirando, seu nariz subindo a minha pele, até que ficou na altura da minha cabeça, deixando um beijo demorado ali.

Depois disso ele soltou e virou para Sofia novamente, parecendo entretido na conversa que era só dos dois, como se nada tivesse acontecido, e tudo que ele fez fosse normal, dada a nossa situação. Eu senti que não teria que falar nada, por isso eu levantei e pedi um café e um leite quando cheguei no balcão. Não demorou muito quanto eu necessitava, Andrew ainda estava lá, rindo com Sofia, e quando cheguei com nossos pedidos, eu pude reparar no quanto Andrew fazia bem a ela. Fiquei hipnotizada com a visão.

- Essa é a Josephina? - Ele arregalou os olhos, sentado na minha cadeira, olhando para a pequena na sua frente enquanto ela gargalhava.

- Papai, é a moninha.

- Mas ela não tem cara de Moninha Sossô. Eu acho que ela tem cara de Josephina, o que você acha Nega? - Ele virou um pouquinho seu corpo, dando acesso a boneca deitada em seu colo. Ele estava duro, mas não de vergonha por estar brincando com Sofia, mas sim por não se sentir confortável com um ser inanimado em seu colo.

Os dois olharam para mim. Eu não parei para pensar em como ele me chamou, de como ele remetia isso ao passado. Não lembrei de nada, apenas dele ali, brincando com a filha que era nossa. Por um momento eu não precisei ser amiga da dor, a dor não existia. Éramos a família únida que se amava novamente.

- Eu acho que você perdeu o jeito. Vai ter que treinar muito para ficar experiente. - Falei ainda rindo, mas ele fechou a cara na hora, concertando a sua postura. Então eu percebi o que tinha falado. Eu sabia que tinha saído demais. Não foi por mal, eu nunca tinha travas para falar com ele, e agora era tudo diferente, eu só não tinha me acostumado com isso ainda.

- Nossa, ela começou a chorar Sofia. Toma ela. - Ele deu a bonequinha para Sofia, e depois olhou para mim.

- Sofia, trouxe um leite pra você. - Coloquei na sua frente, desviando meus olhos dos de Andrew e olhando para Sofia.

- Mas vo comer panqueca lá na nossa casinha mamãe. - ela enrugou sua testa, retorceu a boca.

- Toma pelo menos o leite, o papai espera. - Andrew disse, e depois olhou para baixo.

- Desculpa Andrew, eu não queria falar... - Comecei a falar mas eu não sabia como terminar, aquilo estava muito confuso na minha cabeça.

- Está tudo bem Liz. - Ele Sorriu triste, eu o acompanhei, pegando apenas a xícara que estava o café, tomei tudo em um gole, a queimadura na minha língua poderia me fazer esquecer do olhar que Andrew estava me dando, não adiantou.

Respirei fundo, querendo arrumar uma desculpa para sair dali. Então sua mão quente, como sempre, cobriu a minha, ficou por um momento assim, olhando para ela, depois voltou seu olhar para o meu rosto.

- Ela esta vazia. - Seu olhar era triste, e não tinha nada do homem que estava brincando com Sofia agora mesmo. Fechei meus olhos, tentando tirar minha mão de debaixo da sua, mas não adiantou.

Eu sei do que ele está falando, eu tinha tirado a minha aliança, com muito pesar e sofrimento antes de ontem. Mas ela ainda carregava um peso no meu chaveiro, aquele que ele mesmo me deu, aonde eu carregava uma lembrança de todos, para me dar sorte e força nos piores momentos da minha vida. Ele tinha que me ajudar agora, eu estava vivendo uma catástrofe. Andrew não precisava saber disso, porém.

Não Vá embora (COMPLETA ATÉ 05/08)Onde histórias criam vida. Descubra agora