11- Sussurros

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A escuridão da caverna se estendia à nossa frente, mais densa e impenetrável do que a própria noite. O odor fétido de podridão e fezes ainda enchia o ar, mas agora estava misturado com um cheiro ainda mais perturbador: o metálico odor de sangue e carne morta. Cada respiração era uma luta, o ar saturado com a promessa de morte e horror. Sabíamos o que nos aguardava, mas a brutalidade que encontraríamos lá dentro estava além de qualquer expectativa.

Ariendel avançava ao meu lado, seus passos leves e quase silenciosos, como uma brisa sobre folhas caídas. A druida, com sua conexão ancestral à natureza, parecia se mover pelas raízes e pedras da caverna como se fossem as veias de uma entidade viva. Seu cabelo brilhava fracamente com as luzes azuladas das pedras mágicas embutidas nas paredes, e seus olhos verdes brilhavam com uma determinação feroz, implacável. Sabíamos que havia mulheres ali dentro—vítimas de um tráfico cruel, prisioneiras dos goblins e de algo ainda mais sombrio. O peso dessa missão era palpável, o ar carregado de tensão.

"Isaac," sua voz soou baixa, mas firme, cortando o silêncio. "Eles estão perto. Sinto as vibrações na terra... estão nos esperando."

Assenti, sentindo o peso psíquico se acumular na parte de trás da minha mente, como uma tempestade prestes a se formar. Eu podia sentir as mentes dos goblins ao nosso redor, distorcidas e primitivas. Seus pensamentos eram fragmentos de crueldade e violência, um reflexo grotesco de suas naturezas bestiais. Eram chamas fracas e vacilantes, mas juntas formavam uma presença ameaçadora, um miasma de sadismo coletivo que permeava a caverna.

Então, ouvimos o primeiro grunhido.

Goblins surgiram das sombras, suas formas deformadas e grotescas iluminadas pelas tochas trêmulas. Pequenos e malcheirosos, com peles esverdeadas e escamosas, dentes afiados e olhos amarelos que brilhavam com uma excitação sádica, eles avançaram. Empunhavam armas rudimentares—lâminas enferrujadas, ossos pontiagudos—e seus gritos animalescos ecoaram pelas paredes da caverna. O ódio e a sede de sangue pulsavam em seus movimentos.

Ariendel não hesitou. Com um movimento fluido, estendeu as mãos, e as raízes do chão se ergueram como serpentes famintas, chicoteando e agarrando os goblins mais próximos. Eles eram rápidos e astutos, esquivando-se e atacando com uma agilidade assustadora. Seus gritos de batalha eram acompanhados pelo som das raízes quebrando e do impacto de metal contra pedra. A batalha se intensificava rapidamente.

Eu me concentrei, mergulhando na mente deles, sentindo o medo que tentavam esconder. Suas mentes, embora primitivas, eram difíceis de penetrar por completo. Cada vez que tentava desestabilizá-los, eles resistiam ferozmente, lutando como animais acuados. A luta arrastava-se por corredores estreitos e sinuosos, com os ecos dos nossos movimentos e os gritos dos goblins criando um ambiente caótico e opressivo.

Com o menor impulso de minha vontade, mergulhei suas mentes em um abismo de escuridão sufocante. O terror tomou conta deles, suas percepções distorcidas, fazendo-os tropeçar, cambalear e gritar em desespero. Alguns, incapazes de suportar o horror que eu implantava em suas consciências, arrancaram seus próprios olhos, tentando escapar da dor mental que os consumia. Outros simplesmente caíam, os corações parando de bater antes mesmo de seus corpos tocarem o solo. Mas a luta não cessava, e com cada inimigo abatido, eu sentia o preço psíquico se acumular, uma drenagem lenta, mas constante, da minha própria energia.

Ainda assim, mais goblins surgiam das sombras, como um enxame interminável. Eu sabia que não poderia continuar assim por muito mais tempo.

A batalha se estendia pelos corredores sinuosos da caverna, o som das armas e dos gritos reverberando por todas as direções. Cada novo grupo de goblins parecia mais agressivo e desesperado, como se sentissem a proximidade da derrota. Lutamos como animais encurralados, Ariendel manipulando as raízes e a vegetação ao nosso redor, enquanto eu mantinha minha mente focada em derrubar nossos inimigos, um a um, distorcendo suas realidades até que sucumbissem à própria loucura.

Finalmente, chegamos à câmara principal.

O ambiente que nos recebeu era grotesco e macabro. A câmara era vasta, com tetos altos que se erguiam como uma abóbada de terror. No centro, uma pilha de ossos humanos formava um altar improvisado, uma construção doentia de crânios e costelas empilhados de maneira caótica. O chão estava coberto por uma mistura de sangue seco e lama, criando um pântano de podridão que enchia o ar com um cheiro insuportável. As paredes da câmara estavam cobertas de runas antigas, brilhando com uma luz pálida e doentia, emanando uma aura de magia negra que impregnava cada canto daquele lugar.

No centro da câmara, cercado por um círculo de crânios e ossos, estava o xamã goblin.

Ele era diferente dos outros goblins. Sua pele era negra como carvão, adornada com tatuagens ritualísticas que pulsavam com um brilho vermelho, como se a própria escuridão tivesse marcado seu corpo. Vestia uma túnica esfarrapada coberta de sangue seco, e em sua mão segurava um cajado feito de osso humano, a ponta envolta em uma chama sinistra. Seus olhos, de um amarelo pálido, fixaram-se em mim com uma inteligência maligna.

"Vocês são tolos de vir aqui!", ele rosnou, sua voz ecoando como o atrito de lâminas enferrujadas. "O sangue delas já pertence a mim. E o seu também!"

No canto da câmara, vi as mulheres. Elas estavam presas, exaustas e cobertas de feridas, os olhos cheios de terror e desespero. Eu sabia que não podíamos falhar. Não agora.

O xamã começou a entoar um cântico antigo, e o ar ao nosso redor tornou-se denso, opressivo. A magia de sangue que ele invocava era poderosa e terrível, alimentada pelo sofrimento e pela morte. Garras etéreas de sangue começaram a se formar ao seu redor, estendendo-se como braços de uma entidade invisível. Elas atacaram minha mente diretamente, uma dor indescritível que me consumiu por dentro, rasgando minha energia vital. As garras não apenas causavam dor física, mas também tentavam quebrar minha mente, distorcendo minhas percepções e drenando minha força com uma brutalidade implacável.

Caí de joelhos, minha mente inundada de agonia. Era como se o xamã estivesse sugando minha vida, transformando cada segundo de dor em mais poder para si. O cântico dele reverberava nas profundezas do meu ser, enquanto ele utilizava o sofrimento das mulheres e minha própria dor para fortalecer seus feitiços. Eu me via afundando em sua magia sombria, sem escapatória.

Mas então, algo dentro de mim se revoltou.

Uma lembrança confusa de Draco, injetando algo em mim. Isso me fez despertar uma fúria profunda, uma força que eu não sabia possuir. Alimentado pela injustiça e pelo horror do que presenciei, liberei uma força psíquica maior e mais sombria do que eu jamais havia usado antes. Com um esforço monumental, rompi as correntes invisíveis da magia do xamã e me conectei diretamente à sua mente, invadindo seus pensamentos com uma onda avassaladora de terror puro. Eu o arrastei para os recantos mais profundos de sua psique, onde seus piores pesadelos habitavam.

Ele tentou resistir, mas minha força mental o esmagou. Sua própria escuridão se voltou contra ele, transformando-o em uma criatura pequena e patética. Sua magia de sangue começou a desvanecer-se, e o poder que ele havia acumulado se dissipou como fumaça ao vento. O xamã, agora uma sombra do que era, caiu diante de mim, tremendo.

"Seu maldito..." ele sussurrou, sua voz patética.

Não havia espaço para misericórdia. Com um pensamento, apaguei sua vida. O xamã goblin estava morto, e o ar na câmara ficou imediatamente mais leve.

Ariendel correu até as mulheres, libertando-as de suas amarras. Eu me levantei, o corpo exausto, sentindo o peso do que acabara de acontecer. Mais uma vez, eu tinha vencido—mas a que custo?

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