Thorgar, nos conduziu para um abrigo improvisado, enquanto o vilarejo continuava seu ritmo lento e desolador, como se a própria terra estivesse cansada do fardo da existência. Caminhávamos em silêncio pelas ruas cheias de lama, as poças refletindo a luz cinzenta do céu acima. O som abafado de nossas botas contra a terra úmida era um lembrete constante do peso da missão que nos aguardava. Ao longe, ouvia-se o som ocasional de um martelo batendo em metal, mas mesmo isso soava cansado, como se a força do vilarejo estivesse sendo sugada por algo invisível e terrível.
Entramos em uma casa de pedra simples, cujas paredes frias e austeras pareciam sussurrar histórias de tempos melhores. O salão era modesto, mas funcional, com uma mesa de madeira rude no centro, iluminada apenas por uma lamparina de óleo. As sombras dançavam nas paredes de pedra, criando formas distorcidas que pareciam ter vida própria, acompanhando cada movimento das chamas.
Thorgar entou-se à nossa frente, seu rosto marcado pela idade e pelas dificuldades. Seu olhar era sombrio, carregado de uma tristeza que parecia afundar ainda mais seu corpo já curvado. "Os goblins são cruéis e implacáveis," começou ele, sua voz grave ecoando no salão como um lamento. "Mas os hobgoblins... eles são diferentes. São organizados, inteligentes, estrategistas. Usam os goblins como ferramentas de terror, mantendo o vilarejo à mercê de seus caprichos. Nossos suprimentos estão acabando, e os poucos recursos que restam não serão suficientes por muito tempo."
O ar ao nosso redor parecia mais denso enquanto Thorgar falava, como se a própria casa estivesse impregnada pelo desespero que ele transmitia. Cada palavra era um reflexo da luta interna que ele enfrentava—um líder impotente diante de uma ameaça que não podia vencer sozinho.
Zathor, com seu olhar calculista e frio, começou a ponderar sobre uma estratégia. Ele era sempre direto, sem rodeios, mas havia uma precisão mortal em suas palavras. "Precisamos de uma estratégia que nos permita atacar quando eles estiverem despreparados," disse ele, seus olhos focados no anão.
Eu senti a adrenalina começar a pulsar nas minhas veias enquanto minha mente trabalhava rapidamente nas possibilidades. "Atacar os goblins faz sentido," acrescentei, enquanto olhava para o mapa rudimentar que Thorgar havia espalhado sobre a mesa. "Mas não podemos fazer isso sem informações precisamos saber mais sobre a fortaleza deles e, sobre sua liderança."
O anão hesitou, seu rosto refletindo a luta interna que enfrentava. Era evidente que pedir ajuda externa era uma humilhação para ele, mas a necessidade de proteger seu povo era maior. Finalmente, ele falou, sua voz cheia de resignação. "Há uma druida curandeira nas proximidades. Seu nome é Ariendel. Ela é poderosa e conhece a região melhor do que qualquer outro. Se alguém pode nos ajudar a entender melhor o inimigo, é ela."
Com a decisão tomada, partimos imediatamente, deixando para trás a resistência do anão e adentrando a trilha que nos conduziria até Ariendel. A caminhada, que a princípio parecia simples, revelou-se uma jornada repleta de mistérios e desafios. As trilhas sinuosas nos forçavam a desviar de raízes entrelaçadas e rochas cobertas de musgo, com cada passo parecendo nos arrastar mais profundamente em um mundo distante do nosso.
A floresta ao nosso redor era um emaranhado de árvores antigas, seus troncos tão grossos que cinco homens juntos não seriam capazes de envolvê-los. As copas das árvores eram densas, filtrando a luz do sol em finos feixes dourados que pareciam se perder nas sombras abaixo. As folhas, de tons verde-escuros, tremulavam ao vento suave, produzindo um som que lembrava sussurros – como se a floresta estivesse nos observando, sussurrando segredos que não poderíamos compreender. Às vezes, o vento trazia o aroma distante de ervas e flores que não conhecíamos, um perfume que parecia transportar-nos para tempos imemoriais.
Após algumas horas de caminhada, o terreno mudou gradualmente. Árvores comuns deram lugar a flora estranha e exótica, plantas que jamais tínhamos visto antes. Pequenos arbustos exibiam flores azuladas que emitiam um brilho suave, iluminando levemente o caminho. Em algumas clareiras, pedras negras e lisas formavam círculos naturais, sobre as quais cresciam fungos bioluminescentes, criando uma dança de luzes verdes e lilases ao nosso redor. O ar era diferente ali, mais denso, carregado com uma energia antiga e pulsante. Até mesmo o chão parecia mais macio, coberto por um musgo aveludado que amortecia nossos passos, tornando-os quase silenciosos.
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Vazio Primordial
FantasyEm um mundo envolto por sombras ancestrais, reinos inteiros se dobram a poderes além da compreensão. Magia e força primitiva permeiam o ar, enquanto os segredos de eras esquecidas sussurram entre as ruínas. Antigas raças, outrora majestosas, agora c...