um ponto ou uma virgula

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Mendrake on

Lá estava eu, tentando manter as coisas sob controle. Eu tinha passado um bom tempo com o Pedrux, e as coisas estavam estáveis. Fiz as pazes com o pessoal, não tinha visto o Tararikku nem a Vanessa há um tempo, e as missões seguiam seu curso.

Mais um dia, mais um trabalho. Dessa vez, uma missão solo. Simples: buscar um item e voltar. Nada fora do comum, mas enquanto eu voltava, algo estava errado. Minha visão começou a ficar turva. Não era a primeira vez que isso acontecia. Já tinha passado fome em algumas missões, mas naquele dia, eu tinha comido, mais por insistência do Pedrux do que por vontade própria. Não queria preocupá-lo.

Mesmo assim... tudo ficou turvo. E então, apaguei.

Quando acordei, o choque foi imediato. Eu estava... no castelo. O lugar que eu mais odiava, com toda a intensidade possível. Aquele lugar trazia lembranças que eu preferia esquecer. Olhei para a porta e vi alguém entrar.

Pai?...

A voz dele ecoou na sala, fria e controlada, como sempre.

Olha quem acordou. Tenho uma surpresa para você ele disse, apontando uma seringa para o meu braço. Não vai doer muito...

Eu tentei reagir, mas meu corpo não respondia. A sensação de impotência me consumia, o ódio fervilhando dentro de mim, mas era inútil. A agulha perfurou minha pele, e a dor, embora sutil, foi o suficiente para me lembrar de onde eu estava. Sob o controle dele. Outra vez.

[...]

Algum tempo depois, eu estava de volta à Federação, tentando me recompor e fingindo que nada de anormal tinha acontecido. Eu sabia que não podia contar a ninguém, nem mesmo ao Pedrux. Eles não entenderiam. Eu não queria preocupar ninguém, e especialmente ele.

— Drake? Tá tudo bem? — Pedrux perguntou, seu olhar preocupado fixo em mim.

— Tô sim, só tô cansado da missão — menti, forçando um sorriso. — O lugar era meio longe.

Pedrux riu suavemente, aquele riso que sempre me fazia sentir um pouco mais leve.

— Percebi, kkkk. Bom, já quer ir dormir? — ele perguntou, seus olhos analisando os meus, como se tentasse ver além do que eu estava deixando transparecer.

Eu hesitei por um segundo, mas logo concordei.

— Pode ser, se você também quiser.

Ele assentiu, e naquele momento, eu sabia que estava seguro ao lado dele. Mesmo com todo o caos dentro de mim, eu podia, pelo menos, fingir que estava tudo bem... pelo menos por mais uma noite, ou talvez uma semana.

Eu logo adormeci no colo de Pedrux, enquanto ele fazia carinho na minha cabeça. Era um conforto que eu não sabia como agradecer, mas, ao mesmo tempo, eu sentia que estava afundando cada vez mais por dentro.

Os dias começaram a passar. Um dia se transformou em dois, depois uma semana, e de uma semana foi para um mês. Eu estava há um mês sem falar sobre o que tinha acontecido no castelo, sem mencionar a tortura silenciosa que estava carregando comigo. Tentei ignorar, fingir que estava bem, mas a verdade é que eu estava cada vez pior.

O peso do silêncio começou a me consumir, e sem perceber, voltei aos velhos hábitos. Comecei a fazer SH de novo... cada corte era uma tentativa desesperada de sentir algo, de lidar com a dor interna que eu não conseguia explicar. E o moletom voltou a ser meu escudo, cobrindo os sinais, escondendo o que eu não queria que ninguém visse.

Pedrux notava que algo estava diferente, mas ele não pressionava. Talvez ele soubesse que eu estava lutando com algo, mas estava esperando que eu confiasse nele para falar. Só que eu não sabia se conseguiria.

𝚏𝚞𝚓𝚊 𝚌𝚘𝚖𝚒𝚐𝚘 (𝙰𝚞 𝚍𝚎 𝚖𝚓!) Onde histórias criam vida. Descubra agora