Sob o Controle do Medo

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Alerta gatilho
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...

O dia mal havia começado quando Eloise finalmente conseguiu sair de casa, após Theo sair para "resolver coisas". Com a respiração ainda trêmula, ela pegou sua bolsa e saiu apressadamente, o coração batendo mais rápido do que de costume. O caminho até a universidade parecia uma pequeno refúgio, uma pausa do inferno que era a sua casa. No campus, pelo menos, ela ainda poderia ser a professora inteligente e respeitada que sempre foi, mesmo que seu interior estivesse completamente destruído.

Ao chegar à universidade, Eloise foi recebida por sorrisos e saudações amigáveis dos alunos e colegas. A rotina ali parecia distante da vida que ela levava com Theo, e ela se agarrava aquele sentimento de normalidade como se fosse uma âncora.

Seu período passou rápido mas ela mal conseguia se concentrar. A discussão com Theo, o controle sufocante e as promessas veladas de violência ainda ecoavam em sua mente.

John, um de seus colegas de trabalho, estava lá, sentado à mesa e revisando alguns materiais. Ele era um professor de história, com um espírito curioso e amigável, que sempre tentava puxar conversa com Eloise. Hoje, no entanto, ela não tinha forças para sustentar o sorriso educado de sempre.

"Oi, Eloise! Como você está? Parece que você não dormiu muito bem".

Eloise forçou um sorriso tentando disfarçar seu cansaço.

"Estou bem, só muito trabalho. Esses últimos meses têm sido puxados."

John franziu o cenho, parecendo preocupado. Ele sempre a via como uma pessoa forte, uma profissional admirável. Ver Eloise tão abatida não passava despercebido para ele.

"Se precisar de alguma coisa sabe que pode contar comigo, não é? Você anda muito quieta ultimamente. Não sei se é só o trabalho, mas você não parece a mesma."

Eloise hesitou apertando os braços da cadeira.  Aquele era o momento perfeito para dizer algo, para pedir ajuda, mas as palavras pareciam presas na garganta, sufocadas pelo medo que Theo plantou em seu coração. Ela soltou um leve suspiro e tentou mudar de assunto.

"Eu agradeço, John, mas estou bem. Apenas um pouco sobrecarregada. Mas e você? Como estão suas aulas?"

John percebeu a mudança abrupta de tema, mas decidiu não pressioná-la. Sabia que forçar a conversa não a ajudaria, então optou por seguir o ritmo dela.

"Ah, as aulas estão boas. Alguns alunos estão me desafiando com perguntas difíceis, mas isso é o que torna o trabalho interessante, não é?"

Eloise sorriu, genuinamente desse vez, sentindo-se um pouco mais leve com a conversa descontraída.

Antes que a conversa pudesse continuar, o som de mensagem chegando chamou sua atenção. "Estou na porta da universidade" era Theo. Eloise olhou pela janela e viu o carro de seu marido estacionado perto da entrada da universidade. Seu estômago se revirou instantaneamente. Não esperava que ele fosse buscá-la tão cedo.

John seguiu o olhar de Eloise e percebeu o desconforto em seu rosto. Ele não sabia muito sobre Theo, mas o pouco que havia ouvido de Eloise sobre o marido nunca foi animador. Ainda assim, ele não fez mais perguntas, respeitando o espaço dela.

"Parece que seu transporte chegou. Nos vemos depois, Eloise. Cuide-se."

Ela apenas acenou com a cabeça, tentando parecer o mais tranquila possível enquanto se organizava para sair. Quando deixou o local e entrou no carro, sentiu o clima pesado imediatamente. Theo estava com o rosto sério, seus dedos batendo impacientemente no volante.

"Quem era aquele?"

Eloise congelou. Não precisava de mais explicações para entender o que estava por vir. Ela tentou manter a calma mas a tensão em sua voz a traiu.

"É só um colega de trabalho, John. Nós estávamos conversando sobre as aulas."

"Conversando né? Você acha que eu sou idiota, Eloise? Ele estava flertando com você, tenho certeza."

Eloise sabia que qualquer resposta poderia alimentar a raiva de Theo, mas o silêncio também não era uma opção.

"Não é nada disso, Theo. Ele é apenas um colega. Você está imaginando coisas."

Theo deu um sorriso amargo, o tipo de sorriso que Eloise já havia aprendido a temer.

"Imaginando coisas? Acha que sou estúpido? Eu sei bem quando alguém quer algo que me pertence."

A viagem de volta para casa foi um inferno de silêncios cortantes e olhares de desdém. Eloise sabia que não adiantaria tentar argumentar, mas o medo crescia em seu peito. Assim que chegaram em casa, Theo mal espertou que ela entrasse pela porta, antes de começar a descarregar suas frustrações.

"Você é uma ingrata, sabia? Eu te dou tudo, e é assim que você me retribui? Conversando com outros homens pelas minhas costas?"

"Theo, não é o que você está pensando..."

Mas antes que pudesse terminar, ele agarrou o braço dela com força, puxando-a para mais perto.

"Eu não estou pensando em nada. Estou vendo a verdade bem na minha frente! Acha que pode me trair? Ficar se fazendo de vítima? Pois bem, Eloise, se você quer ser tratado como uma vagabunda, é assim que vai ser."

As palavras cortaram como facas. Eloise tentou se soltar, mas o aperto de Theo era forte demais. Ele a empurrou contra a parede, seus olhos brilhando de raiva.

" Acha que pode escapar de mim? Eu vou te mostrar quem manda aqui."

Ela sentiu o impacto quando seu corpo bateu contra a parede, e as lágrimas que tentava segurar finalmente começaram a escorrer. A dor física era intensa, mas o terror psicológico era muito pior.

"Para Theo, por favor... Eu não fiz nada."

Antes  que ela pudesse protestar, ele a puxou violentamente em direção ao quarto, suas mãos ainda apertando seus braços. Eloise sabia o que estava por vir. As agressões físicas, os insultos e ás vezes, quando ele estava mais irado, ele a forçava a se submeter a ele de maneiras que ela não queria, que ela odiava.

Quando chegaram ao quarto, Theo a jogou na cama e começou a arrancar suas roupas com brutalidade. Eloise tentou resistir, implorando, mas ele não a ouviu. Cada palavra que saía da boca dele era uma acusação, como se sua mera existência fosse um insulto para ele.

"Theo...por favor.."

Mas ele a ignorou completamente, seu peso pressionando-a contra a cama enquanto sua respiração se tornava cada vez mais pesada e violenta. Lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto de Eloise enquanto ela fechava os olhos, tentando se distanciar mentalmente do que estava acontecendo. Aquilo era o pior tipo de dor — não apenas física, mas emocional, psicológica e acima de tudo, a sensação de impotência total.

Quando tudo terminou, Theo simplesmente se levantou como se nada tivesse acontecido, se vestiu e antes de sair se voltou para Eloise.

" Você é patética, espero que tenha entendido quem manda nessa porra aqui. Agora vai arrumar essa casa e fazer algo para almoçar. E que isso seja uma lição para você."

Eloise mal conseguia ficar em pé enquanto o via sair, seu corpo tremendo de medo e de dor. Quando finalmente conseguiu se mover, Eloise sabia que não poderia mais viver assim, mas o medo de tentar escapar era paralisante.No fundo, uma parte dela queria acreditar que ainda havia uma forma de escapar, uma esperança. Mas naquele momento tudo o que ela podia fazer era chorar em silêncio, mais uma vez, carregando o peso de um segredo que parecia esmagá-la dia após dia.

Ela sabia que precisava de forças para conseguir enfrentar aquilo. Só não sabia de onde tiraria essa força.

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