Capítulo 3

106 9 0
                                    

Falcão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Falcão

A semana passou voando. Foi correria total, resolvendo as cargas, abastecendo as bocas, garantindo que o movimento do morro siga rodando do jeito que tem que ser. É essencial manter o controle total do meu império. Tava sentindo falta dessa responsa, a rotina frenética e o peso das decisões me mantiveram no corre, nem vi o tempo passar, e hoje já é dia de festa.

Tô de boa no bar, bolando um baseado enquanto observo o movimento na rua. Tudo tá daquele jeito, agitado. Saco o Kaká passando de moto com uma das puta que ele e o morro todo come. Ele para do meu lado, mostrando os dentes com aquele jeito folgado.

— Aí, chefe, o Cabeça quer trocar uma ideia contigo. - Ele avisa. — Tá lá na boca, falou que é sobre o carregamento.

Faço um sinal com a cabeça, guardo o baseado e o isqueiro no bolso, e vou na direção da minha moto sem dar muito papo pra ninguém. Não dou brecha pra vacilos ou distrações. Todo mundo sabe que aqui com meu comando, erro não rola.

Chego na boca em questão de minutos. Sento numa cadeira de plástico, observando a galera trabalhando, vendo a correria da comunidade. O carro que pedi tá demorando pra chegar. Tiro o baseado do bolso e acendo de novo, soltando a fumaça pro alto enquanto espero. A semana foi um corre pesado, resolvendo vários rolos e surgindo novos. Todo dia era uma crise diferente pra lidar, mas manter o controle firme sempre foi minha prioridade.

— O carregamento chegou, chefe. Tudo certinho. - O moleque dá o toque, me tirando dos meus pensamentos. — Já foi tudo conferido.

Aceno com a cabeça, vendo ele ajeitar o fuzil antes de sair em direção aos caras vendendo droga. Meu celular vibra no bolso, olho a tela e vejo o número da minha mãe. Travo na hora. Deixo pra ligar pra ela depois.

Levanto e vou andando, minha contenção me seguindo de perto.

Eu sempre fui assim. Frio. Calculista. Nesse corre, não dá pra ter coração mole. Cada decisão tem um preço, e eu tô aqui pra jogar no mais alto nível. Tem que ser estratégico, prever o próximo passo dos outros, e nunca mostrar fraqueza. No morro, respeito é conquistado na marra, e eu já provei mais de uma vez que não rendo pra ninguém.

Igual um falcão, que fica na surdina, observando e calculando cada lance antes de atacar, eu analiso cada detalhe com precisão. Até mesmo uma mina nova que vi dias atrás, corajosa, sustentou a minha encarada com a mesma intensidade. O olhar firme dela, e a atitude não passou despercebido, me marcaram. No meu mundo, onde sou temido, ela se destacou de um jeito que não consigo tirar da cabeça. A última semana foi a prova disso. Teve gente querendo testar meu vulgo, achando que pode crescer pra cima de mim. Aqui, eu resolvo tudo no silêncio, sem espalhar muito. Se precisar agir, eu ajo, mas sempre no momento certo. A diferença entre o amador e o profissional é que o amador se deixa levar pela emoção. Eu? Eu só jogo o jogo. No meu mundo, é preciso estar sempre um passo à frente para manter o domínio.

Hoje, tô aqui, de olho no que tá acontecendo. A festa mais tarde vai ser uma oportunidade pra ver quem tá comigo e quem tá fingindo. Sempre tem alguém querendo tomar o espaço, mas enquanto eu estiver aqui, o morro é meu.

Ninguém tem coragem de me peitar. Eu curto ver o medo no olhar das pessoas quando eu passo, gosto de ser respeitado. O crime tá no meu sangue e nem se eu quisesse eu consigo sair dele.

A favela hoje tá movimentada, final de semana chegou e à noite vai rolar uma resenha com os cara. Várias patricinha subindo o morrão pra curtir com bandido, filha de delegado ou político, todas doidas pra sentar pros cria.

— Tudo certo hoje, patrão? - Eu levanto meu olhar e observo um dos menor do corre. - Confirmo devagar, sem dar muito papo.

— A porra do meu carro vai demorar? - Pergunto sem muita paciência, olho meu relógio irritado com a demora.

— Pô, patrão, não sei te dizer não. - Passo a mão no meu maxilar tentando manter a paciência. Caralho, odeio esperar, mermão. Por isso gosto de meter a cara e fazer meus corres.

— Manda descer com a minha moto, vou pra casa tirar a porra de um cochilo. - Respondo puto, lembrando que essa noite não preguei os olhos por dez minutos.

— Jaé, patrão. - Olho de relance quando ele pega o radinho e fala com alguém.

Chego em casa, tiro a glock da cintura, boto na mesinha de canto e jogo a camiseta em cima do sofá. Ergo a tela do meu celular, aperto a lateral para ligar o aparelho. Assim que acende, vejo as mensagens que a Carol me mandou mais cedo, mas não respondo. Saio da mensagem dela, e entro na conversa com minha coroa, depois de responder, bloqueio o celular e guardo no bolso.

Subo pro meu quarto e tomo uma ducha, pensando no olhar da filha da puta que pregou na minha mente, e não saiu mais.

Saio do banho, boto minha cueca boxer, ligo o ar condicionado, me jogando na cama, viro pro lado tentando fechar os olhos por algumas horas.

Acordo com a porra do meu celular tocando. O tempo escuro entrega que já é tarde da noite. Levanto da cama passando a mão no rosto e, em seguida, pego o celular que não para de tocar. Rejeito a ligação do Kaká sabendo já que é meu carro que chegou. Me levanto, descendo em direção à cozinha atrás de algo para matar a minha fome.

Abro a geladeira e a encontro quase vazia.

— Caralho - Falo irritado. Ando até a porta, abro e encontro os dois da minha contenção sentados em frente a ela.

— Aí, manda trazer um lanche pra mim - Digo rápido e entro sem esperar a resposta deles.

O relógio bate quase onze horas da noite. Depois de comer um lanche e tomar um banho, vou em direção a essa tal resenha. Vestido com uma camisa azul, bermuda branca e um tênis caro, dirijo meu carro novo em direção ao lugar marcado.

Alguns minutos depois, estaciono minha velar em frente ao lugar onde está rolando a parada. Saio do carro e avisto as duas motos da minha contenção estacionando atrás do meu carro. O som alto do local entrega que o bagulho lá dentro tá acontecendo. Atravesso a rua em direção à entrada da casa, subindo em direção à laje. Avisto o Kaká sentado no canto com um copo de whisky na mão.

Cumprimento alguns caras com um aceno de cabeça e me dirijo para o canto da laje sem revidar o olhar para mais ninguém.

Em Suas Mãos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora