Capítulo 4

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Manuela

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Manuela

Saio de casa acompanhada da Luiza por voltas das onze e meia da noite, caminhando em direção a esse tal churrasco. Não curto esses lugares, não curto ter que sair de casa à noite.

— Ai Manu, desfaz essa cara, por favor. - Reviro os olhos ouvindo ela falar a mesma coisa pela milésima vez. — Você vai se divertir. Qualquer coisa, me fala que a gente volta. - Confirmo séria.

— Estamos chegando? - Pergunto, avistando algumas motos subindo.

— Logo ali na esquina. Vamos dançar, comer, beber e meter o pé. - Fala entusiasmada.

Avisto vários carros de luxo parados em frente à casa que a Luiza me arrasta. O que eu pensei que fosse um lugar com poucas pessoas tem mais de trinta. Vários bandidos e meninas dançando quase nuas.

Passo meu olhar pelo local. Sinto meu corpo arrepiar, uma energia forte atrai meu olhar para o canto da laje. Sentado em uma cadeira de plástico, fito o boné preto enterrado no seu rosto dele, dificultando que eu veja seus olhos.

Nunca o vi por aqui, mas pelo jeito que anda e pelo tanto de homem armado ao redor dele, ele deve ser alguém grande no crime. Desvio meu olhar para os meus pés, com vergonha do jeito que ele me olha. Luiza me puxa em direção ao grupinho de meninas sentada em uma mesa próxima a ele.

— Luiza? - Chamo com o coração batendo forte, sabendo que íamos nos sentar perto dele.

— Vem, Manu, por favor. Fica tranquila, só hoje. - Ela fala olhando nos meus olhos. Confirmo, acompanhando seus passos.

Tento prestar atenção na conversa das meninas da mesa, tento interagir, mas estou desconfortável nesse lugar. Se meu pai soubesse disso, ele me botaria de castigo por meses.


Tento controlar minha vontade de olhar para a mesa ao lado, mas sinto que ele está me observando. Meu Deus, queria sair correndo daqui e me trancar em casa. Depois de alguns minutos, levanto o olhar em direção a ele, que me olha de braços cruzados. Dou um sorriso fraco e desvio meu olhar para os meus pés.

— Cara esse homem é um gostoso. - Ouço uma das meninas falar, e as outras concordarem. — Não tem nem um mês que ele voltou pra comunidade.

— Voltou? - Pergunto, interessada no assunto.

— Sim, não conhece ele, né? Quando ele foi preso, a gente era muito novinha. - Escuto a risada delas, e a conversa continua fluindo.

— Onde fica o banheiro? - Pergunto, desconfortável. A todo momento sinto o olhar dele em mim.

Caminho sozinha em direção ao banheiro, sabendo que ele está olhando cada parte do meu corpo. Entro no banheiro tentando me recuperar de algo que nem sei porque me abalou tanto. Demoro uns minutos e saio com a intenção de voltar para a mesa, mas sou impedida por uma mão forte que segura meu braço.

Tento controlar minha respiração ofegante quando olho pra quem me segurava. Ele é ainda mais lindo de perto, o cheiro de homem que exala dele, o cordão de ouro cravejado no pescoço. O volume na sua cintura me traz de volta à realidade.

— Solta meu braço, por favor! - Minha voz sai baixa e amedrontada. Puxo meu braço, tentando me soltar, mas é em vão.

Seu olhar intenso analisa cada pedacinho de mim, um olhar que me causa arrepios pelo corpo, faminto, como um lobo prestes a devorar sua presa. Posso sentir o calor que emana dele, o cheiro de cigarro misturado com algo amadeirado que me entorpece os sentidos.

Ele ergue a mão e toca o meu rosto, a pele dele é quente contra a minha. Um arrepio percorre minha espinha, e eu sei que ele percebe. Seu polegar desliza pelo meu lábio inferior, e tudo dentro de mim se descontrola. Tento me manter firme, mas minhas pernas estão bambas. Nunca me senti assim.

— Tá nervosa? - Ele pergunta, com a voz rouca, sem tirar os olhos dos meus.

Eu deveria responder, mas não consigo. Ele sorri de lado, como se entendesse perfeitamente o que estou sentindo. E então, antes que eu possa processar o que está acontecendo, ele inclina a cabeça e seus lábios tocam os meus.

O beijo começa suave, como uma descoberta, mas logo se torna mais firme, mais intenso. Ele sabe o que está fazendo, enquanto eu tento acompanhar, insegura, sem saber direito como me mover. Meu corpo está em chamas, cada célula respondendo ao toque dele, e eu me perco na sensação. O gosto dele é uma mistura de cigarro e algo que não consigo identificar, mas que me deixa mais tonta.

Meu primeiro beijo, com um homem que mal conheço, e ainda assim, parece que ele tem controle de tudo. O jeito como ele me segura, como seus lábios se movem contra os meus, tudo parece tão natural para ele. É o tipo de beijo que te consome, que faz esquecer do resto do mundo.

De repente, um som agudo quebra o momento. O celular do meu bolso vibra e toca, me puxando de volta à realidade. Abro os olhos, ainda com as respiração pesada, e ele também se afasta um pouco, olhando para mim com uma expressão que não consigo decifrar.

Eu congelo por um segundo, sem saber o que fazer. O toque do celular continua, insistente, e minhas mãos tremem enquanto tento tirá-lo do bolso. Olho para a tela. Minha mãe.

Meu coração dispara ainda mais, agora de pânico. Antes mesmo de pensar em atender, já estou me afastando dele, correndo para longe. O celular ainda toca, e finalmente, quando estou a uma distância segura, atendo com as mãos trêmulas.

— Mãe? - Minha voz sai baixa, quase um sussurro, enquanto tento recuperar o fôlego.

— Vem pra casa agora! - A voz dela do outro lado da linha é firme, sem espaço para questionamentos.

Eu engulo em seco, o coração ainda batendo descompassado, e começo a andar sem olhar para trás.

Em Suas Mãos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora