Jogo Perigoso

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Braelyn

Depois do episódio com Marcus, vim direto para casa, sem ânimo para continuar no festival. A euforia da vitória no jogo e o encanto do festival pareciam distantes, substituídos por uma sensação esmagadora de culpa e confusão.

Cheguei em casa e, ainda inquieta com o que tinha visto no corredor, liguei para a polícia. Contei sobre o homem no macacão branco, manchado de sangue, e o facão que pingava no chão. Mas a resposta que recebi foi frustrante. Disseram que não havia relatos de desaparecimento na cidade e me advertiram a não fazer trote com algo tão sério. Aquilo me enfureceu. Era uma palhaçada que, numa cidade com tantas mortes, a polícia tratasse isso como brincadeira. Desisti de insistir e tentei convencer a mim mesma que foi apenas uma ilusão causada pelo estresse.

Deitei-me na cama, mas a noite passou lentamente. Fiquei com os olhos arregalados, como uma coruja vigilante. Não conseguia afastar o peso da culpa. Prometi a Marcus que hoje seria o dia, e acabei desapontando-o.

No dia seguinte, tudo passou como de costume: escola, balé e casa. Procurei por Marcus, mas não o encontrei. Clarisse por outro lado, me olhava como uma megera traidora. Ela era minha única “amiga”, já que nunca fui boa em fazer amizades. Nossa amizade começou mais por insistência da minha mãe, que achava que Clarisse seria uma boa companhia. Uma ironia, já que Clarisse, em segredo, era totalmente o oposto do que minha mãe pensava.

O ronco de uma moto ecoou pelo estacionamento da escola, e seu olhar se desviou de mim para Zayan, que estava estacionando sua moto R6 preta, com algumas marcas vermelhas nas rodas e no amortecedor da frente, e o nome "R6" em vermelho na lateral contrastando com o preto.

Zayan tirou o capacete, revelando um pequeno corte nos lábios e outro no maxilar do lado esquerdo. O corte parecia recente, e eu me perguntava o que teria acontecido para ele se machucar daquele jeito. Havia uma aura de mistério em torno dele que despertava curiosidade e especulação.

Meu celular apita, fazendo-me pegar e ver uma mensagem do Marcus.

MARCUS: Desculpe por ontem.

EU: Tudo bem. Por que não veio hoje?

MARCUS: Fiquei doente. Onde você está?

EU: Na escola. É muito grave?

MARCUS: Não se preocupe.

Uma ideia estúpida surge, e mordo meus lábios enquanto a adrenalina começa a percorrer meu corpo. Vou em direção ao banheiro feminino, verificando cada cabine para ver se há alguém. Certificando-me de que está vazio, fecho a porta e tranco-me em uma das cabines. Começo a tirar minha roupa, ficando apenas de lingerie. Peguei minha melhor peça de roupa íntima para continuar o que Marcus queria começar.

Eu tiro algumas fotos em poses sensuais, inspiradas em uma revista que vi uma vez. Sem revelar muito, deixo espaço suficiente para a imaginação. Examino cuidadosamente cada imagem, escolhendo a que melhor captura a tensão e o mistério que quero transmitir. Minha pressão sanguínea sobe, gerando uma sensação de euforia. Com um último toque hesitante, envio a mensagem, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias.

EU: Que pena que você ficou doente, eu estava te procurando.

Rio nervosamente, mordendo os lábios. E logo recebo uma resposta.

MARCUS: Acabei de melhorar.

Solto uma risada, sentando na tampa do vaso sanitário.

MARCUS: Você está muito gostosa. 😏

Preparada para enviar a mensagem, alguém bate à porta, fazendo meu celular cair no chão. Rapidamente pego e vejo que a tela trincou.

— Mas que merda. — Murmuro, enquanto as batidas continuam incessantes. — Já vou. — Vocifero rapidamente.

Visto minhas roupas rapidamente, dou descarga para simular o uso do banheiro e abro a porta com um sorriso nervoso no rosto.

O fim do dia chegou, e eu fui direto para o balé. O ensaio foi como sempre, um saco, exceto pelo entusiasmo de ver as garotas dançando pole hoje. Assim que terminei as aulas, corri para o vestiário para pegar minha bolsa e responder ao Marcus, a quem não tive tempo de responder.

Mas, para minha infelicidade, meu celular não liga mais, causando-me uma frustração profunda. Respirei fundo e saí do estúdio, dirigindo-me para o estúdio de pole.

No caminho de sempre, passei por um carro parecido com o da minha mãe. Quando a vi saindo de uma casa, tive certeza de que era ela. Para não ser vista indo em direção ao estúdio de pole, escondi-me atrás de um carro.

Mas o que aconteceu logo em seguida me deixou em estado de choque, meus olhos se arregalam com o que acabei de ver. Vejo minha mãe aos beijos com o prefeito.

Ela está tendo um caso com a porra do prefeito.

Vejo ela sair e ele fechar a porta.
Sem acreditar no que acabei de ver, sento-me no chão escorado em um carro. Um sorriso eufórico e fraco escapa dos meus lábios; nunca imaginei que ela teria um caso com alguém casado. Sua imagem de mulher direita era uma fachada, e agora com isso sei que seu caráter é totalmente diferente.

Alguns minutos depois, o prefeito sai e eu acabo saindo de trás do carro, começando a caminhar em direção para casa. Cansada, já que não tinha como ligar para Drake, chego em casa, deparando-me com minha mãe na sala de jantar, roupas trocadas, impecável. Nenhuma mecha de cabelo fora do lugar. Sento-me à mesa.

— Está atrasada. — ela protesta, levando a taça de vinho até a boca. — Por que está aí? Vá se trocar para o jantar.

Fico a observando, sem expressar o que acabei de presenciar. A vontade que tenho é de gritar com ela e dizer o quão hipócrita e egocêntrica ela é. Me pergunto se ela não sente remorso por estar envolvida com um homem casado que tem uma esposa doente.

—— Questiono-me como o serial killer descobre os pecados que cometemos.

— O que ? — ela pergunta, confusa.
— Será que ele os descobre por meio de comentários ou sai à noite em busca de suas vítimas?

— Por que essa pergunta agora? Já faz quase um mês que ele não aparece. — Ela diz.

— É exatamente por isso que estou pensando. Será que sua próxima vítima será uma dissimulada?

— O que deu em você? Vá logo tomar um banho e trocar de roupa para o jantar. Anda!

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