O outro Lado Das Aparências

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Braelyn

Mais um assassinato foi confirmado em Riverfait; o serial killer continua à solta há cerca de um ano, desafiando todas as tentativas da polícia de capturá-lo. A comunidade vive sob constante insegurança com a presença do "Ceifador da Noite", como ele se autodenomina, deixando suas vítimas brutalmente dilaceradas, sempre com mensagens explicando seus motivos escritas em sangue: traição, gordofobia, machismo, homofobia. Nesse caso recente, a mensagem deixada foi: "Seu amor impuro foi julgado pela verdade desta cidade." A pergunta que persiste é: será que as autoridades nunca conseguirão capturar esse assassino?

- Nossa, sua mãe é tão perfeita. - diz Clarisse, assistindo à TV no meu quarto. - Quando eu crescer, quero ser como ela.
Nada fora do lugar.

Esqueci o quanto Clarisse idólatra minha mãe.

- Isso se chama edição. - respondo, revirando os olhos, enquanto assisto a alguns vídeos de pole dance em meu celular.

Desde que vi o estúdio de pole dance duas quadras do balé, fiquei impressionada com a complexidade sofisticada da dança: os movimentos livres e precisos, a maneira como transmite emoção, sensualidade e empoderamento. Não sai da minha cabeça; nunca tive tanta certeza do que quero quanto senti com o pole.

- Para de ser assim, você tem uma mãe excepcional.

- Quer que eu varra onde ela pisa para você beijar cada canto dos passos dela? - ironizo, deixando meu celular em cima da cama e olhando para ela. - Você devia ser a filha dela e não eu, pelo tanto que você a bajula.

- Ah, para de ser chata. - diz ela, indo para meu closet. - Só estou querendo dizer que você deveria valorizar mas sua mãe.

- Valorizar? Acho que você não conhece o significado dessa palavra, já que faz o oposto com seu pai.

- AFF, lá vem você de novo com esse papo.

- Dói ouvir a verdade, não é? - digo sarcasticamente. - Seu pai é uma boa pessoa e te ama, mesmo sendo a filha mimada que você é.

- Não, graças a ele, ele é um motorista, Braelyn. O seu motorista.

- Um emprego digno.

- O emprego digno é o da minha mãe, senadora. Não foi à toa que ela o deixou por algo melhor.

Por um homem barrigudo e machista que quase destruiu a carreira dela, penso.

- Oh, claro. Motivo? Só porque é rico. - murmuro. - Continue em sua bolha idealista.

- Tanto faz. - vocifera, vindo na minha direção com um sorriso travesso no rosto. - Vi você e o Marcos se pegando ontem. Tão sério? - diz, desviando do assunto, e eu acabo ficando envergonhada.

- Não, ainda não. Mas ele me chamou para almoçar na hora do lanche.

- Ai, que tudo! Vocês formam um belo casal. - diz, dando pulinhos. - Só falta eu e o Zayan. Falando nisso, você vai encontrar Marcus na festa dos Monttanari hoje?

Nem me lembrava que era hoje.

- Sim, combinamos de nos encontrar lá.

- E você vai com qual roupa? Queria ir com aquele seu vestido bordô.

- O que usei no seu aniversário? - pergunto, indo em direção ao closet.

- Não, o midi de cetim com fenda.

A única peça que meu pai se lembrou de me dar no meu aniversário de 13 anos. Vesti uma vez e acabei deixando cair um pouco de molho, o que deixou uma manchinha na lateral, próxima à alça.

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