Felicidade Passageira

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Braelyn

A etiqueta de mesa não apenas embeleza a experiência culinária, mas também distingue a verdadeira sofisticação dos ricos; sem ela, seriam apenas pessoas com dinheiro.

Já sei de cor e salteado o que deve ser feito: de onde pegar o primeiro talher, em que posição deixar os talheres após a refeição, ou como usar o guardanapo, seja ele inteiro ou dobrado.

Perfeição é algo que nem todos podem alcançar, minha mãe sempre repete essa frase, embora o olhar dela sugira que, na verdade, acredita que a perfeição é inatingível para todos, exceto para ela mesma.

- Taças são sofisticadas; devem saber em qual ocasião usá-las e como usá-las. - diz a professora de etiqueta, com várias taças dispostas à sua frente. - Vamos começar pela taça de espumante...

Meu pé bate incessantemente no chão, revelando meu nervosismo, enquanto meus dedos doem de tanto arrancar a pele. Ela continua a falar, mas suas palavras se perdem em meio aos meus pensamentos, focados na fuga planejada para o aniversário de Alessandra.

Desde ontem, essa ideia não saiu da minha cabeça, decidi que vou à festa, escondida.

Uma eletrizante adrenalina corre pelo meu corpo, semelhante a elétrons atravessando um condutor, deixando-me excitada pelo perigo que me espera.

Assim que cheguei em casa, coloquei meu plano em ação. Informei que estava cansada e iria dormir cedo. Isso agradou minha mãe, já que ela sempre me quer no quarto às 19h30.

Meu coração bate acelerado, meu corpo aquece com o aumento do fluxo sanguíneo, e minha respiração se torna pesada. Nada pode sair do controle que planejei. Dinheiro para o táxi em mãos, endereço anotado em um papel.

Toda essa situação me deixa completamente eufórica.

Olho para o relógio: 22h00. A essa hora, a festa já deve estar a todo vapor. Dou mais uma olhada no espelho: vestida com um vestido de seda de cor preta de alcinhas, solto da cintura para baixo, jaqueta de couro, e coturno de salto alto preta. Meus cabelos soltos, volumosos, exibe meus cachos 3B.

Vou em direção à janela, deixando-a com o trinco aberto. Depois, me dirijo à porta, abrindo-a suavemente, segurando a respiração como se qualquer som pudesse arruinar tudo. Saio na ponta dos pés, com os coturnos nas mãos, pisando nas partes firmes do piso de madeira. Um passo errado, e a madeira rangiria como um tigre preso em um cômodo vazio.

Já fora de casa, respiro aliviada por ter conseguido sair sem ser vista. Agora, tenho que chegar antes que minha mãe acorde.

Ao chegar em frente à casa do Delegado, vejo as luzes piscando em diversas cores, o som alto ressoando pelas ruas de Riverfait, fazendo o chão tremer como um leve terremoto.

Passando pelo portão de entrada, observo pessoas com copos nas mãos, algumas se beijando de forma abertamente imoral.

É impressionante como os adolescentes mudam suas atitudes em festas, parecendo um bando à beira da loucura.

- Você veio. - Vocifera Clarisse assim que entro na casa.

- Pois é... Não foi fácil, mas aqui estou eu. - Digo, esboçando um sorriso tímido.

- Achei estranho ver você aqui. A tia Margareth deve ter se arrependido logo depois de te liberar. - Diz ela, rindo.

- Tem uma primeira vez pra tudo, não é? - Respondo, olhando ao redor do cômodo.

- Toma. - Ela me oferece um copo.

- O que é isso? - Pergunto, pegando o copo e cheirando. O aroma forte de álcool é inconfundível.

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