Prólogo

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O local estava cheio, como de costume e esperado. Os clientes, inexpressivos. A iluminação era péssima, o salão estava muito escuro, com exceção do palco de apresentações.

As cortinas vermelhas subiram, e o Mestre de Cerimônias estava lá, com sua habitual bengala, traje preto habitual e expressão inabalável. O rosto estava tomado de maquiagem branca, e na boca havia um contorno de batom vermelho que deixava os lábios finos. Cômico e assustador ao mesmo tempo, com aquele traje de gala preto de sempre. Então, as cortinas desceram, e ele começou:
— Willkomen — desejou em alemão com um voz muito anasalada. — Bienvenue. Wellcome. Bem vindos.

Ele andou alguns passos para frente no assoalho de madeira do palco, e sorriu para a platéia que, já estava imersa, pronta para o show de entrada tradicional.

— Fremde — disse o Mestre de Cerimônias. — Etranger. Stranger. Amigo. Damas e cavalheiros, sentem-se e acomodem-se. Estou feliz em vê-los!

Ele correu para um lado, agitado e apontou para a mesa de um cliente.
— Sinta-se à vontade, sim?

E então voltou para o centro do palco.
— Todos vocês, fiquem à vontade. Aqui é meu cabaré, seu cabaré... Nosso cabaré! — falou alto e sua voz se fez ouvida. — Eu serei seu anfitrião. A vida está te decepcionando? Deixem seus problemas lá fora. Não temos problemas aqui!

Correu para a ponta do palco, desleixado e girando a bengala.
— Aqui...! — parou de repente. Por poucos segundos se fez silêncio, e então, prosseguiu: — a vida é bela! — girou nos calcanhares como uma bailarina. — As garotas são ! E até a orquestra é linda.

Apontou para trás, a cortinas subiram e então foi revelada uma orquestra barulhenta. Não havia um homem sequer na banda, era composta apenas por mulheres; de perucas loiras e vestidos sensuais de tecidos lilás. Tocando uma música animada e dançante com o piano, trompete, bateria e violão.

— Eu te disse que a orquestra era linda — sussurrou para a platéia, ouviram-se risadinhas.

A música ficará mais baixa de repente e o Mestre de Cerimônias tomará uma postura mais formal.
— Agora, apresentando as meninas do cabaré! — entoou ele.

Quatro mulheres entraram no palco, duas vindo de cada lado da palco. Todas com roupas curtas e chamativas e grandes camadas de maquiagem espalhafatosa. Andaram lentamente, delicadas, e pararam na ponta do palco, balançando incansavelmente a cintura.

O anfitrião começou a apresentar cada uma.
— Rosie! — foi a primeira. Loira, magra e vestindo rosa com um curto short azul de tecido fino.

A que veio depois tinha cabelos castanhos grandes e corpulenta, usando verde em rendas.
— Elca! — anunciou o Mestre de Cerimônias alisando o corpo da jovem enquanto seguia para a próxima.

— Lolly! — usava apenas um biquíni azul e uma saia justa preta. O Mestre de Cerimônias logo seguiu para a última, de rosto fino e que usava um pequeno chapéu pequeno de veludo — E Texas!

O Mestre de Cerimônias ficou em frente à plateia, enquanto as meninas continuavam a balançar a cintura sem cessar.
— Todas elas são virgens! — contou ele, e a multidão de clientes riu em seus assentos. — Vocês não acreditam em mim? Vão em frente e teste qualquer uma delas.

As risadas cessara e o anfitrião, satisfeito continuou com sua introdução:
— Toda noite travamos uma batalha para nós manter com roupas na frente dessas garotas — disse, sério. — Quem sabe... Hoje percamos essa batalha, não?

Os clientes deram risos abafados.
— Agora, as atrações do cabaret! — gritou o Mestre de Cerimônias. Cada um dos funcionários foi entrando por vez e paravam logo atrás de seu chefe após sua apresentação. — Bobby, e seu boneco! Frenchie, a contorcionista! — a mulher entrou fazendo acrobacias esquisitas e sensuais, esticando as partes do corpo. — A cantora americana Sally Bowles! — a jovetm entrou tão rápido quanto saiu, mas seu vestido bufante vermelho chamou muita atenção. — E por fim, o malabarista e acrobata, Victor!

— Fiquem, permaneçam conosco essa noite! — pediu o Mestre de Cerimônias sorrindo estranhamente. — Não irão se arrepender! Sintam-se em casa e divirtam-se! Afinal, aqui é...

Todas atrações em cima do palco gritaram junto do anfitrião:
— Meu cabaré! Seu cabaré! O ca-ba-ré!

O MC sorriu satisfeito quando uma explosão de aplausos tomou o clube. Ele havia tomado a atenção daquelas pessoas. Nada mais importava, a noite estava apenas começando.

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