Kit Kat Club

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Brian estava sentado no fundo do salão do cabaré aquela noite, sozinho e solitário, sentado numa mesa, a qual tinha um telefone em cima. As outras mesas circulares também tinham telefones, era uma forma prática de comunicação no Kit Kat Club. O local estava bem cheio, senhores ricos e gordos, e velhos burgueses bebendo, rindo e curtindo a música irritante que soava da corneta.

O simples terno preto que usava o fez se sentir medíocre comparado aos trajes de gala dos outros clientes ali.
Até mesmo Sally, sentada numa mesa do outro do salão, na companhia de Fritz Wepper, estava elegantemente vestida. Ela havia acabado de se apresentar, descerá do palco e encontrará Fritz. O que os dois eram? Brian gostaria muito de saber.

Brian estava observando curiosamente o ambiente do , cabaré, estava disperso quando, de repente, o telefone de sua mesa tocou.
Ele atendeu e ouviu os berros de Sally, que gritava por causa da música alta que tomava o salão.
— Brian, querido, olhe para frente! — pediu ela. Ele olhou e a viu fazendo um gesto com a mão livre para que ele fosse até ela. — Venha, Brian! Junte-se a nós, venha!

Ele acenou com a cabeça positivamente e finalizou a chamada. Ele se levantou, ajeitou o terno e deu a volta no salão, passando mesa por mesa.

— Oh, você está maravilhoso! — Sally se levantou de sua cadeira quando Brian chegou à mesa. — Sente-se, querido.

Ele se acomodou. Sally estava vestindo um elegante vestido preto brilhoso de mangas longas, que realçavam fortemente seus lábios vermelhos.

Fritz usava um paletó cinza-claro e uma gravata laranja.
— É bom vê-lo novamente, Sr. Roberts.

— Vocês já se conhecem? — perguntou Sally.

— Nos conhecemos ontem durante a sua dança das cadeiras — contou Fritz, e Brian riu de sua gozação à Sally. Quando ela emburrou a cara, ele apressou-se a dizer: — E você estava divina.

Brian reforçou:
— Estava mesmo

— Eu sei — ela logo assumiu uma expressão mais amigável. Se virou para Brian e lhe segurou o ombro. — Mas não sabia que estava aqui ontem, Brian, meu bem. De qualquer forma, é ótimo que já se conheçam. Fritz é um velho amigo de Berlim, um playboy divino que vai de festa em festa seduzindo todas em qualquer direção.

— Não acredite em Sally — disse Fritz. — Sou um homem muito sério, um homem de negócios. Importo e exporto máquinas.

— Olhe, Fritz adoraria melhorar seu inglês — contou Sally ao Brian.  — Para seduzir algumas gordinhas americanas divorciadas. Eu disse que você poderia dá- algumas lições — o telefone na mesa deles tocou e Sally atendeu. — Yah? Oh!

Os olhos de dela passaram pelo salão lotado e pousaram sobre a mesa na qual estava um senhor gordo de cabelos e barba branca sentado.

— Fritz, me dê um cigarro — pediu Sally afastando o telefone. O rapaz entregou e acendeu com seu isqueiro, deu uma tragada imediata e disse: — Ah, Brian, você precisa provar um desses! São absolutamente devastadores.

Sally deu umas batidinhas no vestido limpando o que quer que fosse, Fritz sorria para a amiga.
— Me fazem sentir tão sensual — disse ela quase gemendo.  — Fritz, cuide bem do Brian. Até mais.
E ela se afastou, andando animada, acenando e cumprimentando todos que via pela frente. Ela certamente era muito famosa naquele lugar.

— Ela é... quente, não acha? — disse Fritz, e ofereceu um charuto ao novo amigo. Brian recusou e não respondeu sua pergunta. — Ah, não me entenda mal, Sally e eu não dormimos um sobre o outro. É “sobre o outro”, correto?

— “Com o outro” — corrigiu-o Brian com um perfeito inglês.

— Madames e cavalheiros!
Lá estava o MC, no palco, sorrindo com todos os dentes para a plateia. Houveram alguns aplausos, que logo cessaram.

Um ringue médio estava no palco, quando havia sido colocado lá? Brian não sabia dizer. Era menor que um ringue de box, mas tinha o mesmo visual e ainda cabiam duas pessoas dentro.

— Hoje, teremos uma grande luta! — anunciou o MC, sério. Logo depois, duas mulheres gordas entraram no palco, uma vestindo rosa e a outra amarelo, mas as duas usavam shorts. — Com regras rígidas.

As duas mulheres entraram no ringue, se encarando de maneira feroz e atrativa, para convencer o público, era óbvio.
— Segurem-se firme em seu lugares! — aconselhou o MC à plateia. — Que comece a luta!

De surpresa, duas dançarinas do cabaré entraram de cada lado do palco, carregando cada uma um balde grande e pesado. Quando chegaram próximo ao ringue, lançaram o conteúdo sobre as duas lutadoras gordas. Era lama, grossa e escura.

Dessa forma, quando as duas mulheres no ringue avançaram uma contra a outra, procurando derrubar a oponente, começaram a escorrer na lama que escorria do corpo para o piso do ringue. A movimentação delas apenas piorou quando o Mestre de Cerimônias saiu brevemente do palco e voltou com um borrifador de água, lançando jatos e jatos do líquido no ringue e tornando a lama mais escorregadia.
A plateia caiu no riso imediato. Gargalhadas histéricas, gritos exagerados e risadas finas, Brian reparou. Até mesmo Fritz, sentado ao seu lado, estava rindo.
Procurou por Sally pelo salão, querendo descobrir qual era a reação dela diante aquela performance ridícula. Ele a encontrou. Não rindo ou se divertindo com aquilo que o MC chamará de “luta”, mas sim, conversando com o melhor alvo e gordo que a chamará minutos atrás.

Brian tentava se entreter com aquela apresentação, todos no local pareciam estar se divertindo muito, mas ele não conseguia dar uma risada sequer. E nem se esforçou para fazer tal coisa.
Sua atenção foi totalmente tomada para outra coisa que o intrigou. Um homem, vestido com uma jaqueta marrom simples, com uma braçadeira nazista sutil, mas reconhecível , aparecendo por baixo da manga. Ele andou com propósito, ziguezagueando entre as mesas, murmurando para os clientes, apertando mãos e coletando dinheiro.
Brian observou, com a testa franzida em confusão. O homem parou em uma mesa após a outra, inclinando-se e falando baixinho, com a mão estendida. Alguns clientes jogaram moedas e notas na mesa com relutância, enquanto outros se afastaram, sem querer encará-lo.
O homem se direcionou à mesa de Brian, ele ficou rígido, sem saber o que está acontecendo. O simpatizante nazista se aproximou estendendo a mão com um sorriso sombrio.
— Pela causa, mein Freund. Um pouco de apoio para o futuro da Alemanha.
Brian não disse nada, mantendo o corpo imóvel. Antes que ele respondesse, um estrondo alto ecoa do outro lado da sala. Um homem em uma mesa próxima se levantou abruptamente , derrubando sua cadeira, bem vestido, com uma constituição larga e uma expressão impetuosa.

O homem, sem rodeios, empurrou abruptamente o rapaz com a braçadeira nazista para fora do cabaré. Não houve tumulto da parte dos clientes, eles, em suas grande maioria estavam entretidos com o que acontecia no palco. Dando gargalhadas e risadas, como se nada estivesse acontecendo ao redor.




...




Tarde daquela noite, Sally e Brian voltavam juntos do cabaré, afinal, moravam na mesma pensão.
Estava ventando bastante aquela noite, naquela rua escura, silenciosa e sem movimento. Sally usava um casaco preto por cima do vestido preto elegante.

— Suponho que você se pergunte o que eu estou fazendo trabalhando num lugar como o Kit Kat Club.

— Bem — disse Brian, sem jeito. — Não parece um lugar muito ortodoxo.

— Essa sou eu, querido — disse-lhe Sally. —, lugares pouco ortodoxos, amores pouco ortodoxos. Sou uma pessoa extremamente estranha...

Ela continuou falando, mas Brian não prestou atenção. Nesse momento, um homem passou pedalando numa bicicleta preta, levando uma pequena bandeira com uma suástica. Ele passou na rua, bem próximo à calçada em que Sally e Brian caminhavam.

— ... E extraordinária também!

De repente sentiu o braço de Sally entrelaçar o seu, e sua atenção voltou a ela.
— Agora, me fale sobre você — pediu ela. — Quero saber tudo!

— Tudo?

— Absolutamente tudo!

— Bem — Brian não sabia o que dizer sobre ele mesmo, não se achava alguém tão interessante assim. —, não sabia nada de muito dramático para contar. Desde que partir de Cambridge...

— Ah! — Sally gritou. Ela parou de andar e olhou para um cartaz grudado na parede do prédio o qual passavam em frente. No cartaz em preto e branco havia uma mulher de rosto oval e curtos cabelos pretos cortados em formato de tigela. — Lya de Putti. — disse a jovem cantora, encantada. — Minha atriz de cinema favorita!

Brian a ignorou.
— Bem, quando deixei Cambridge...

— Eu serei uma grande estrela de cinema um dia! — afirmou Sally num tom duro, olhando Brian. — Isto é, se o cigarro e o sexo não me matarem primeiro.

Brian olhou a rua escura ao redor, alerta.

— Eu o choco, querido? — perguntou Sally, baixo.

Brian fitou-a, os olhos brilhando.
— Nem um pouco

— Não?

E ele balançou a cabeça negativamente, com um sorriso nos lábios. Sally retribuiu sorrindo também.





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⏰ Última atualização: Sep 25 ⏰

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