A fome vem,
não do estômago, mas da alma,
um vazio que não se preenche,
por mais que eu tente.
Encho a boca de promessas
e depois as despejo em lágrimas silenciosas.É um ciclo que me consome,
como as mãos que conhecem o fundo do abismo,
dedos que se tornam garras
arrancando o que restou de mim.
A comida, tão doce na chegada,
se torna amarga na saída,
e o alívio é breve, fugaz.Sinto a culpa antes mesmo do gosto,
a vergonha antes mesmo do fim.
É uma dança entre o querer e o rejeitar,
entre o engolir e o expulsar,
uma guerra interna
onde sou, ao mesmo tempo,
vítima e algoz.Corro para o espelho,
procuro um reflexo que me liberte,
mas ele me prende,
mostra um corpo que nunca é suficiente,
uma mente em constante negação.Eu vomito segredos,
medos, esperanças não ditas,
e tudo se dissolve no ralo,
junto com a parte de mim
que eu gostaria de guardar.E assim sigo,
em uma prisão invisível,
onde a comida não é o inimigo,
mas o que ela deixa para trás,
o eco de uma fome
que jamais será saciada.