Capítulo 4 - O Portal

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No Domingo, logo pela manhã, Mariazinha juntou seus pertences, depois, colocou tudo dentro da sua bolsa. Em seguida, dirigiu-se até a biblioteca.

De longe, a menina já podia avistar o prédio imponente, cercado por um imenso jardim e muros de grades intransponíveis.

Quando chegou ao portão principal, notou que ele estava apenas encostado. Observou o vigia que cochilava recostado em uma velha cadeira. Em seguida, entrou sem despertar a atenção do funcionário. Caminhou pelo jardim e, finalmente, alcançou a porta de acesso ao prédio. Olhou mais uma vez ao redor e não avistou ninguém por perto.

Depois, pegou a chave em sua bolsa, mas quando a menina tocou a maçaneta para posicioná-la na fechadura percebeu que a porta estava entreaberta. Em seguida, empurrou-a lentamente, sem que deixasse fazer qualquer rangido.

Lá dentro estava escuro. Mariazinha, então, pegou sua lanterna e entrou iluminando o grande salão da biblioteca.

Depois, passou pelo balcão e, finalmente, alcançou o grande corredor. Entre uma e outra seção, ela se detinha um pouco mais, para melhor se situar entre uma e outra galeria.

Mariazinha estava visivelmente amedrontada. Não sabia ao certo o que fazer. Não podia acender as luzes do salão, muito menos chamar pelo rapaz.

Assim, ela não podia fazer nada que chamasse muito a atenção. A única coisa que Mariazinha conseguia fazer era pensar em voz alta.

_ E agora? O que eu vim fazer aqui? Onde estará este rapaz? Sussurrou.

Mas logo em seguida, sua lanterna se apagou. Mariazinha, então, buscou levar suas mãos à frente e seguir tateando pelo corredor de prateleiras. Mas a esta altura, a menina já estava em pânico e sua verdadeira intenção era de começar a gritar por socorro. Mas também lhe faltava coragem para isso.

Até que, finalmente, ela conseguiu chegar próximo à seção dos livros raros. Momento em que a luz do salão se acendeu. Por um momento, Mariazinha se sentiu aliviada, por outro lado, acreditava que agora estava muito perto de ser descoberta. Então, imaginou-se em grande apuro.

De repente, ela passou a escutar um assobio distante. Primeiro, não deu importância. Achou que era fruto da sua imaginação. Mas aquele zunido insistente ia aumentando aos poucos. Mariazinha não via outra alternativa, senão olhar para trás. Foi quando ela se deparou com o rapaz recostado a uma pilastra.

Mariazinha não resistiu a tamanho assombro e deu um sonoro grito de pavor.

_ Que diabos você está fazendo! Quem acendeu as luzes? Você quer me matar de susto? Desabafou a menina.

_ Olá minha amiga! Estava me aguardando há muito tempo? Perguntou o rapaz.

_ Que droga! Irritou-se a menina.

Em seguida, o jovem a indagou:

_ Você trouxe a chave?

_ Sim, Claro! Está bem aqui na minha bolsa!

_ Ótimo, então venha comigo! Convidou o rapaz.

Em seguida, eles se encaminharam até a seção dos livros raros, e como num passe de mágica, o rapaz suspendeu a cuba de vidro até a altura que lhes permitissem a passagem. Mariazinha acompanhava com atenção cada detalhe, mas sequer imaginava a próxima etapa daquela misteriosa aventura.

_ Você acredita no mundo da imaginação? Indagou o jovem.

_ Como assim? Você não me falou nada sobre isso! Respondeu assustada.

_ Se quer encontrar os personagens que tanto busca, você tem de acreditar. Insistiu o jovem.

_ Tudo bem! Eu acredito! Respondeu a menina.

_ Então, empurre suavemente aquela parede e coloque a chave-mestra na fechadura que surgirá no local em que vou indicar. Disse o rapaz apontando para a direção exata.

Mariazinha retirou os livros da prateleira e os entregou ao rapaz. Depois, colocou a chave na fechadura que surgiu misteriosamente na parede - tudo conforme ele havia instruído - e, finalmente, a menina fez girar a chave lentamente.

Naquele instante, eles ouviram a porta do salão ranger. Assustada, Mariazinha olhou mais uma vez para o rapaz que pediu para que ela se concentrasse, pois estavam prestes a atravessar por um portal mágico.

Em seguida, o rapaz tirou mais um objeto do seu bolso.

_ Tome! Coloque isto! Disse ele.

Mariazinha inclinou sua cabeça e percebeu que se tratava de um estranho amuleto.

_ O que é isto? Perguntou a menina.

_ Isto se chama muiraquitã. Ele deve trazer sorte. Nunca o tire do pescoço.

Em seguida, começou a surgir pequenos feixes de luz vindos do interior da parede, que aos poucos ganhavam uma forma definida. O rapaz, então, segurou as mãos da menina e, juntos, eles seguiram na direção de um pórtico que surgiu em meio àquela parede de tijolos .

Nesse meio tempo, eles ainda puderam ouvir um chamado distante, com voz baixa e reticente.

_ Ma-ri-a-zi-nha! , Ma-ri-a-zi-nha!

Em seguida, Dona Literata surgiu diante daquele cenário espetacular, a tempo de alcança-los. Logo depois, o portal foi se fechando, e eles se viram num imenso corredor, onde um ponto luminoso os guiava para uma outra extremidade de um extenso corredor.

Mariazinha mostrou-se surpresa com a chegada inesperada da amiga, mas, também, devia estar se sentido bastante aliviada por isso.

_ O que você está fazendo aqui? Perguntou a menina.

_ Eu não perderia isto por nada neste mundo! Exclamou Literata.

_ Quem é ela Mariazinha? Perguntou o rapaz.

_ Uma amiga. Ela pode vir com a gente?

_ Não sabemos o que poderá acontecer... Mas, agora, não temos outra escolha! Vamos correr antes que o portal se feche completamente! Disse o jovem.

Assim, nossos heróis seguiram rapidamente até alcançarem o outro lado do portal.

Dona Literata não estava acreditando no que estava acontecendo. De um instante a outro ela havia deixado para trás o mundo real para conhecer um mundo extraordinariamente novo, absolutamente desconhecido, e possivelmente repleto de magia e encantamento.

Mas elas não imaginavam as nuances daquela viagem fantástica que acabavam de iniciar. A única certeza que tinham era de que nada daquilo era um sonho.

Estavam bem despertas, sentiam o corpo e todos os sentidos da consciência. Talvez existisse um sentimento de medo – o que seria muito natural naquele momento, mas nada comparado a sensação de euforia que' devia acompanhar as duas amigas.

Assim, em poucos instantes, nossas aventureiras já se achavam em meio a uma clareira de uma imensa floresta.

Em seguida, fez-se um silêncio reconfortante e, logo depois, ouviu-se um cântico de pássaro inigualável.

_ O que é isto? Perguntou Mariazinha

_ Este é o canto do Uirapuru. Respondeu o rapaz.

_ Que lindo! Encantou-se Literata.

_ Isto deve ser um bom presságio! Comentou Mariazinha.

Mas por onde andariam os habitantes daquele lugar? Elas imaginaram um mundo repleto de seres encantados, de mil esquisitices.

Contudo, para a frustração das nossas heroínas, elas estavam em um lugar tão comum, bem parecido com todos os que já conheciam.

O Segredo do PortalOnde histórias criam vida. Descubra agora