oito

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Marília Mendonça

Eram oito da noite, e finalmente eu estava em casa. Depois de uma semana cheia de pressões e decisões, pelo menos poderia desfrutar de uma hora extra de descanso. Sentada no carpete da sala, assistindo a um filme genérico na TV e beliscando algumas besteiras, eu me permiti relaxar. A sensação de alívio, por mais momentânea que fosse, era necessária. Enquanto o filme se desenrolava, minha mente vagava para a conversa que tive com Maraisa. Revi cada palavra e gesto, e algo me incomodava. Talvez eu tenha me equivocado em alguma parte... ou não. Pensando bem, acho que ela foi mais equivocada que eu. Sorri sozinha, um sorriso contido, enquanto balançava a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Afinal, isso não deveria me ocupar tanto.

Foi então que ouvi o celular vibrar no sofá. Estendi a mão e o peguei. O nome que aparecia na tela me fez sorrir novamente, mas dessa vez de uma maneira diferente. Era Ela.

— Por que demorou tanto pra me atender? Tem alguma mulher que esteja roubando sua atenção, Mendonça? — sua voz veio com aquele tom divertido e provocador de sempre.

Ri baixinho, encostando as costas no sofá, já sabendo que aquela troca de provocações era um jogo nosso.

— Eu não demorei nem cinco minutos — respondi, com uma voz casual. — O que é menos do que o que eu deveria demorar, considerando o que você me fez passar antes de ontem.

Do outro lado da linha, Lauana riu. Aquelas risadas que vinham de um lugar de intimidade, de uma amizade que durava anos. Ela sabia exatamente como brincar comigo, e eu sabia como responder. Nossa relação sempre foi assim — leve, descontraída, e com aquela dose de flerte que nunca passava dos limites.

— Ah, claro, me culpe agora — Lauana retrucou, com aquele tom dramático que ela adorava fingir. — Mas, sério, o que você tá fazendo? Não me diga que tá em casa sozinha, de pijama, assistindo a um filme péssimo.

— Perto disso... Mas nem cheguei no pijama ainda — respondi, olhando para as roupas confortáveis que estava usando. — Só me dei o luxo de relaxar depois de uma semana infernal.

— Ah, essas suas semanas "infernais" — Lauana suspirou, como se pudesse ver meu semblante cansado do outro lado da linha. — Trabalho, trabalho e mais trabalho. Não tem mesmo ninguém roubando seu tempo, além do expediente?

— Não — disse, com firmeza, embora soubesse que minha mente traiçoeiramente se voltava a Maraisa por breves momentos. Eu me sentia atraída por ela, mesmo não tendo essa conexão estabelecida. Mas isso não significava nada. — Não tem ninguém. Só eu, meu filme horrível, e a saudade de uma semana tranquila.

— Hum... engraçado. Sua voz não me convenceu — Lauana continuou provocando, rindo baixo. — Aposto que tem alguém te tirando do sério. Ou será que estou errada?

Revirei os olhos, mesmo sabendo que ela não podia ver.

— Lauana, você me conhece. Se tivesse alguém, você seria a primeira a saber.

— Sim, claro, porque somos melhores amigas, e você compartilha tudo comigo... — disse ela, com uma ironia suave. — Ou quase tudo. Mas, ok, vou acreditar em você dessa vez. Só me avisa se alguém começar a mexer com o seu coraçãozinho, tá?

Sorri, dessa vez um pouco mais tranquila, porque sabia que Lauana sempre conseguia me fazer rir e desviar dos pensamentos que me incomodavam.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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o destino me reservou você. - malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora