cinco

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Carla Maraisa
21:35 pm.

Enquanto caminhava, apressada, minha mente ainda estava nos relatórios que precisava revisar quando chegasse em casa. Havia uma sensação de exaustão, sim, mas também de satisfação. Cada detalhe estava se encaixando conforme o planejado, e isso me trazia uma calma que poucas coisas podiam oferecer. Era como ver o resultado de um trabalho meticuloso, onde cada movimento foi cuidadosamente calculado.

Entrei no elevador e me encostei no metal frio, sentindo o contraste contra minha pele quente. Fechei os olhos por um segundo, apenas o suficiente para desligar a mente por um momento. O cansaço pesava, mas não o suficiente para me impedir de continuar. Assim que o elevador chegou no meu andar, ouvi o toque insistente do celular dentro da bolsa. Revirei os olhos, pensando que poderia ser mais algum compromisso da empresa, mas, para minha surpresa, o nome de Luiza apareceu na tela.

Luiza... fazia tanto tempo que não nos falávamos. Atendi prontamente, e do outro lado da linha, ouvi sua voz animada e cheia de energia, exatamente como eu me lembrava.

— Maraisa! — ela exclamou, sem me dar tempo de responder — Adivinha onde estou!

— Hum... deixa eu ver, Paris? Nova York? — brinquei, sabendo que Luiza sempre tinha algum destino internacional na manga.

— Não, boba! Estou na sua cidade! Em Manhattan!

Minha sobrancelha se arqueou automaticamente.

— Sério? O que está fazendo aqui?

— Eu tinha um compromisso de trabalho, mas já resolvi tudo! Agora estou livre. Pensei que podíamos nos encontrar, tomar um café, ou talvez jantar? Faz tanto tempo que não nos vemos!

Sorri, sentindo uma onda de nostalgia ao ouvir sua empolgação. Fazia anos que nossas vidas tomaram direções tão diferentes, e, apesar de mantermos contato esporádico, nos encontrar pessoalmente parecia algo distante.

— Luiza, que surpresa! — disse, tentando disfarçar o cansaço que carregava nos ombros. — Claro, podemos nos encontrar. Que tal sábado, no fim da tarde? Posso sair mais cedo do trabalho, e podemos jantar em algum lugar por aqui.

— Perfeito! Vou deixar você escolher o lugar, então. Mal posso esperar para te ver!

— Fechado — respondi, sentindo a energia dela contagiando um pouco meu cansaço. — A gente se fala sábado, então.

Desliguei o telefone e, por um breve momento, deixei-me ser tomada por uma leve nostalgia. Luiza sempre foi o oposto de mim. Extrovertida, espontânea, cheia de vida. Enquanto eu sempre fui metódica, controlada. Talvez fosse bom passar um tempo com ela, relembrar o que deixamos para trás e o quanto havíamos mudado ao longo dos anos.

Cheguei ao meu apartamento, joguei a bolsa sobre a mesa da sala e me permiti respirar um pouco antes de encarar os relatórios. A noite ainda seria longa, mas, pelo menos agora, eu tinha algo para esperar no dia seguinte.

Depois de desligar o telefone, fiquei alguns instantes parada no meio da sala, deixando o silêncio do apartamento me envolver. Aquele tipo de pausa, antes de me jogar de volta ao trabalho, era quase um ritual. Tinha acabado de voltar de um dia exaustivo, e a última coisa que meu corpo pedia era mais trabalho. Mas a mente, sempre organizada e focada, sabia que ainda havia uma montanha de relatórios esperando por mim. Isso precisava ser feito. E logo.

Fui direto para a cozinha, peguei um copo d'água e, enquanto bebia, deixei meus olhos percorrerem o ambiente. Tudo estava em perfeita ordem, como sempre. A sensação de controle e organização me acalmava. Havia uma certa paz no fato de que, ao menos em casa, tudo estava exatamente onde deveria estar. Cada coisa no seu lugar.

o destino me reservou você. - malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora