. Dois .

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Casa de Amaury Lorenzo, 9hs da noite, um mês antes

— O Enrique quer te matar. E eu não condeno ele não. Inclusive se ele precisar de ajuda, eu dou. 

Amaury rolou os olhos e secou o rosto com a toalha. Tentou entender onde sua vida tinha virado na curva errada para ter tanta gente pentelhando seu juízo. E nem era só sobre a missão. Camila tinha a chave de sua casa! Ele nem lembrava quando tinha dado uma para ela e suspeitava que ela tinha feito a cópia sem autorização (mas trocar a fechadura àquela altura do campeonato daria muito trabalho e nem se importava tanto assim com a presença dela, para ser sincero. Era só picuinha de irmão). 

— Claro, a filhinha do papai, a perfeitinha, sempre do lado dele. 

— Vai à merda, vai. Eu tô do lado certo. Não tenho culpa se você raramente está. Você podia ter seguido as instruções da missão, era só sair, não precisava sentar pra tomar café com o cara. Muito menos chamar pra repetir a dose. 

Amaury saiu do banheiro (sério, ela foi atrás dele enquanto ele escovava os dentes!) evitando o olhar dela e voltou para a sala. Camila pegava no seu pé enquanto Samuel muitas vezes botava pilha para ele fazer besteira só para rir da desgraça depois. Provavelmente ia tentar convencê-lo a começar a seguir as regras. 

— Não tem nada de mais em me aproximar dele, Camila. Eu chequei os dados da empresa, tá tudo limpo, nenhuma movimentação suspeita, eles não iam dar bandeira com isso. Se eu quiser descobrir alguma coisa, eu vou ter que partir pra uma investigação pessoal e é sempre melhor uma aproximação positiva. 

Ela o observou com os olhos apertados, como se o analisasse. Como psicóloga, era isso mesmo que devia estar fazendo. Amaury simplesmente detestava aquilo. 

— Samuel disse que você pareceu interessado… 

— Samuel é um fofoqueiro! 

— Então é verdade? 

— Claro que não! 

— Amaury! 

— Camila! 

Ficaram se encarando, num impasse. Amaury sabia que ela estava tentando convencê-lo a dizer que tinha se sentido atraído por Diego, mas não seria louco de admitir aquilo para ela nunca. Até por que não estava interessado em Diego! A conversa tinha sido ótima? Sim. Tinha achado o jeitinho tímido dele encantador? Claro. Ficou com vontade de ver aquele rostinho corado todo sorridente de novo? Óbvio! Mas isso não queria dizer que estava interessado! Camila e Samuel podiam dar as mãos e ir plantar batatas! Amaury é quem sabia dos próprios sentimentos! E. Não. Estava. Interessado. Em. Diego. Ponto. Final. 

Camila foi quem desistiu primeiro. Desviou o olhar e ergueu as mãos, se rendendo. Levantou do sofá checando a hora no relógio de pulso. 

— Você é quem sabe, Amaury. Se precisar de alguma ajuda, é só falar, tá bom? — ela estendeu os braços e ele não resistiu em dar o abraço que ela pedia. Era sempre assim entre eles: podiam se estapear e rosnar uns pros outros, mas nunca se negavam abraços. Coisa de irmãos. — E se cuida, hein! — ela acrescentou, à guisa de despedida, antes de beijar seu rosto e sair. 

Amaury suspirou e trancou o portão e a porta. Desligou as luzes a caminho do quarto e deitou na cama. Ligou a TV e abriu o aplicativo do YouTube, acessando um canal de robótica que Diego tinha mencionado mais cedo. Uma voz que parecia muito a voz irritante de Samuel sussurrou em sua mente que era interesse sim. Ele rebateu que só estava curioso com os robôs. 

💍👔💘

Enrique continuou querendo matar Amaury, mas o ímpeto foi diminuindo conforme os dias passavam. Percebeu que ele parecia mesmo focado na parte burocrática da missão e também não deixava de cumprir as obrigações do trabalho fake. Descobriu algumas movimentações financeiras suspeitas no backup de registros do antigo funcionário, cuja vaga ele ocupava, mas nada que apontasse para o esquema de lavagem de dinheiro. 

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