011: Jogo perigoso

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O calor sufocante da noite se misturava com a música alta e as conversas abafadas pela fumaça que preenchia o ambiente. As festas eram sempre assim: uma cortina de fumaça e álcool disfarçando as tensões que fervilhavam logo abaixo da superfície. Para Ashtray, era apenas mais uma noite no submundo. Mais uma vez, ele precisava manter o controle, a pose, mesmo quando tudo dentro dele gritava.

Ele se encostou na parede do salão principal, observando o fluxo de pessoas indo e vindo, todos fingindo não perceber o verdadeiro propósito daquele encontro. Negócios aconteciam em todos os cantos, disfarçados por risos e flertes despretensiosos. Fezco estava por perto, mas Ashtray mal o notava. Sua atenção estava fixa em apenas uma pessoa: Emma Miller.

Ela era como uma miragem no caos. A única filha de Rato, o homem que, sem dúvida, faria qualquer coisa para proteger sua "princesinha". Para todos ao redor, Emma era intocável, inalcançável. Mas, para Ashtray, ela era algo muito mais perigoso. Ela era o proibido. E ele, que sempre manteve o controle em tudo, sentia-se cada vez mais desmoronando ao seu redor por causa dela.

Sentada no sofá do outro lado do salão, Emma parecia deslocada em meio ao caos, mas ao mesmo tempo, completamente confortável em seu próprio espaço. Ela vestia uma jaqueta de couro preta, sobrepondo um vestido simples que mostrava a sua atitude despreocupada com as opiniões dos outros. Seus cabelos caíam sobre os ombros, e, por um momento, Ashtray prendeu a respiração ao notar que ela também o observava. Seus olhares se encontraram brevemente, e ele sentiu o choque da eletricidade atravessá-lo. Emma desviou rapidamente, como se estivesse consciente demais da intensidade daquele momento.

Ashtray sabia que estar tão próximo dela era uma sentença de morte. Rato já o odiava o suficiente, e se descobrisse que havia algo acontecendo entre ele e Emma, a situação poderia explodir a qualquer momento. Mas, no fundo, Ashtray não conseguia evitar. Era como se Emma fosse a única coisa que o fazia se sentir... humano.

Maddy apareceu ao seu lado, quebrando seus pensamentos. Ela sorriu e jogou o cabelo para o lado, claramente curtindo a atenção que recebia de todos os caras ao redor, mas Ashtray mal conseguia se concentrar nela. Sua mente estava em outro lugar, focada no brilho dos olhos de Emma.

— E aí, mini traficante? — Maddy provocou, seu tom levemente sarcástico, mas amigável.

— Fala, Maddy — Ashtray respondeu, sem muito entusiasmo.

— Você parece tenso. Relaxa, cara. A festa tá só começando. — Ela se inclinou mais perto, como se quisesse sussurrar algo. — Ah, e esse aqui é meu primo, Patrick.

Ashtray olhou de relance para o tal Patrick. Um idiota qualquer, de sorriso fácil e sem noção de onde estava se metendo. E claro, ele estava olhando para Emma. Uma onda de raiva subiu pelo peito de Ashtray, mas ele manteve a calma.

— Não perguntei. — A resposta seca de Ashtray fez Maddy dar de ombros e revirar os olhos, mas ela estava acostumada com o jeito dele.

Patrick, percebendo a tensão, estendeu a mão, tentando ser amigável.

— Prazer, cara. Patrick. — Ele ofereceu a mão como se fosse fazer diferença.

Ashtray olhou para a mão estendida e depois para Patrick, ignorando-o completamente.

— Daora. — Foi tudo o que disse, sem mover um músculo. Patrick ficou desconcertado, mas Maddy o arrastou para longe antes que a situação ficasse mais desconfortável.

Assim que eles se afastaram, Ashtray relaxou, mas não por muito tempo. Do outro lado da sala, ele sentiu o olhar de Emma sobre ele novamente. Quando se virou, lá estava ela, encostada contra a parede, um beck entre os dedos e aquele sorriso travesso nos lábios. Ela sabia o efeito que causava nele, e, de algum jeito, gostava disso. Emma arqueou as sobrancelhas, como se o desafiasse a fazer algo, qualquer coisa.

Mia apareceu do nada, sentando-se despreocupadamente no colo de Ashtray, mas ele não podia tirar os olhos de Emma. Mia falava algo que ele não conseguia prestar atenção. Tudo o que ele podia sentir era a tensão crescente, o desejo de ir até Emma, mesmo sabendo que cada passo nessa direção o aproximava de um abismo sem volta.

Emma continuou a olhar para ele com aquele ar de despreocupação, mas havia algo mais. Algo não dito. Algo que Ashtray podia sentir no ar. Ele sabia que estava jogando com fogo, e Emma também sabia. A diferença é que, para ela, talvez esse fosse apenas mais um jogo. Para ele, era muito mais.

"Você vai me destruir, garota", pensou Ashtray, mas não desviou o olhar.

𝑨𝒑𝒂𝒊𝒙𝒐𝒏𝒂𝒅𝒐 𝒑𝒆𝒍𝒂 𝒇𝒊𝒍𝒉𝒂 𝒅𝒐 𝒊𝒏𝒊𝒎𝒊𝒈𝒐 • 𝐀𝐬𝐡𝐭𝐫𝐚𝐲 Onde histórias criam vida. Descubra agora