013: O abismo

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O silêncio entre Ashtray e Emma na cozinha era sufocante. Os sons da festa lá fora pareciam distantes, abafados, como se eles tivessem sido isolados em um mundo à parte, um mundo onde o perigo e a tensão formavam uma linha invisível, pronta para ser rompida a qualquer momento.

Ashtray estava parado a centímetros de Emma. Ele podia sentir o calor que emanava dela, o aroma leve de cigarro e perfume misturado. Seus olhos não desviavam dos dela, como se estivesse tentando decifrar cada nuance daquele momento. Mas no fundo, ele sabia que já estava afundado demais para voltar atrás.

— Sabe... isso aqui é uma má ideia — Ashtray murmurou, quase como se tentasse convencer a si mesmo, mas a força de suas palavras já tinha sido drenada.

Emma deu um meio sorriso, inclinando a cabeça para o lado, um brilho de provocação em seus olhos.

— Provavelmente — ela concordou, mas seu tom estava longe de soar como arrependimento. Era como se ela estivesse completamente consciente do perigo, e ao mesmo tempo, atraída por ele.

Ashtray fechou os olhos por um segundo, tentando recuperar o controle. Cada fibra de seu corpo dizia para ele se afastar. Emma era território proibido, e não apenas por ser filha de Rato, seu inimigo mortal. Havia algo sobre ela que mexia com ele de uma maneira que ninguém mais conseguia. Ela o fazia se sentir vivo, mas ao mesmo tempo, pendurado sobre o abismo.

— Acha que eu sou idiota, né? — Ele sussurrou, abrindo os olhos lentamente, sua voz grave e carregada de frustração. — Porque eu não consigo me afastar de você.

Emma não disse nada. Ao invés disso, ela apenas deu mais um passo em sua direção, fechando a distância entre eles. Seus rostos agora estavam próximos o suficiente para ele sentir o leve toque de sua respiração. O silêncio, a proximidade, a expectativa de algo prestes a explodir, tudo isso deixava o ar denso, carregado.

— Não acho que você é idiota. Acho que você gosta tanto quanto eu — ela disse suavemente, sua voz cortando a tensão como uma lâmina afiada.

Ashtray sabia que, naquele momento, ele não conseguiria resistir mais. Ele já tinha cruzado uma linha, mesmo que internamente. Ele estava em uma batalha perdida, e Emma sabia disso. Ela sempre soube.

Ele se inclinou para mais perto, e os lábios dos dois se tocaram de leve, como uma faísca prestes a iniciar um incêndio. Foi suave no início, um beijo hesitante, mas logo se intensificou. Toda a frustração, o desejo reprimido, o perigo, tudo se transformou naquele momento. O beijo era urgente, cheio de uma necessidade que ele não sabia que tinha até ali.

Emma retribuiu com a mesma intensidade, como se estivesse esperando por isso há muito tempo. Suas mãos subiram até o cabelo de Ashtray, puxando-o para mais perto, enquanto ele a segurava pela cintura, a pressão de seus corpos se fundindo em uma espécie de caos silencioso.

Por um breve momento, parecia que o mundo ao redor tinha desaparecido. Não havia mais festa, não havia Rato, não havia Fezco, nem Mia. Só existia eles dois, envolvidos em um turbilhão que os levava para um lugar de onde seria difícil escapar.

Mas então, como uma corrente fria de realidade, Ashtray ouviu vozes vindo da sala ao lado. Ele se afastou rapidamente, o peito subindo e descendo em respirações pesadas. Seus olhos ainda estavam fixos nos de Emma, mas agora havia algo mais. A percepção do perigo real estava se infiltrando de novo.

Emma o olhou de volta, ainda ofegante, mas seus olhos eram de pura provocação, como se ela soubesse exatamente o que havia feito.

— A gente precisa sair daqui — Ashtray disse, sua voz firme, mas baixa. Ele sabia que qualquer um poderia entrar a qualquer momento, e se vissem os dois juntos, as coisas iriam escalar rápido. Rato não podia saber, nem ninguém. Isso era mais do que apenas um beijo, era o estopim de algo muito maior.

Emma olhou para ele por um momento, como se estivesse considerando o que ele disse. Mas então, ela sorriu.

— E para onde você vai me levar, mini traficante? — ela provocou, o mesmo tom desafiador de antes.

Ashtray sentiu seu coração bater mais forte, mas ele não tinha tempo para jogos. Ele olhou ao redor rapidamente, confirmando que ninguém ainda tinha entrado na cozinha.

— Lá fora. Por um tempo. Antes que alguém perceba. — Ele já estava se movendo em direção à porta dos fundos, gesticulando para que ela o seguisse.

Emma hesitou por um segundo, mas seguiu Ashtray. Eles saíram pela porta e se misturaram à escuridão da noite. O ar fresco do lado de fora foi como uma lufada de realidade, mas o perigo ainda estava ali, pairando sobre eles.

Ashtray parou ao lado do muro que cercava a casa, observando Emma se aproximar lentamente. Ela olhou ao redor, certificando-se de que estavam realmente sozinhos.

— E agora? — Ela perguntou, o sorriso travesso ainda presente, mas seus olhos mostravam uma faísca de seriedade.

Ashtray olhou para ela, sentindo o peso da decisão que havia tomado. Não havia mais volta.

— Agora a gente vê até onde isso vai nos levar — ele respondeu, sabendo muito bem que o caminho que estavam seguindo era o mais perigoso de todos.

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𝑨𝒑𝒂𝒊𝒙𝒐𝒏𝒂𝒅𝒐 𝒑𝒆𝒍𝒂 𝒇𝒊𝒍𝒉𝒂 𝒅𝒐 𝒊𝒏𝒊𝒎𝒊𝒈𝒐 • 𝐀𝐬𝐡𝐭𝐫𝐚𝐲 Onde histórias criam vida. Descubra agora