capítulo 8: O jogo e a Carta

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Na manhã seguinte, enquanto o sol iluminava o canteiro de obras, Richard se preparava para entregar a carta a Niandra. Hoje, no entanto, ele sentia algo diferente. Havia um peso sobre seus ombros, não apenas pela carta que carregava em mãos, mas pelo que estava por vir. Além do futuro incerto com Niandra, ele também se preparava para um dos jogos mais importantes de sua carreira no Palmeiras.

Ele havia passado as últimas semanas tentando mostrar a ela que estava mudando. Flores, cafés, pequenos gestos, mas a carta era seu esforço mais sincero, uma tentativa de abrir seu coração como nunca fizera antes. Ao caminhar pelo canteiro, ele avistou Maria Júlia, a melhor amiga de Niandra, uma figura sempre imponente, ao lado dela. A conversa entre as duas parecia séria, e Richard hesitou em interromper.

Maria Júlia foi a primeira a perceber sua presença, e seu olhar para Richard foi firme, mas sem hostilidade. Ela sabia do esforço que ele estava fazendo, e talvez estivesse pronta para dar a ele uma chance. Com um olhar rápido para Niandra, ela começou a se afastar, mas não sem antes lançar uma última pergunta à amiga.

— Ni, o que você vai fazer a respeito do Richard? — perguntou Maria Júlia, cruzando os braços. — Ele me disse que te escreveu uma carta. Parece que está tentando consertar as coisas. O que você sente?

Niandra suspirou, seus olhos fixos em algum ponto distante, como se procurasse uma resposta no horizonte. Ela havia notado as tentativas de Richard, os pequenos gestos e a dedicação crescente, mas algo dentro dela ainda relutava em ceder. Ele era uma figura importante no projeto, mas a conexão entre eles ia além do profissional. E isso a deixava vulnerável.

— Não sei, Maju. Ele tem se esforçado, é verdade. Mas… ainda sinto que ele não entende completamente o que este projeto significa para mim. Não é só trabalho. É a minha alma. E o medo de me magoar de novo me impede de ceder.

Maria Júlia, sempre a voz da razão e da firmeza, sorriu suavemente para a amiga.

— Ni, às vezes você precisa parar de pensar tanto e começar a sentir mais. Richard está tentando, e todos nós vemos isso. Talvez seja a hora de você dar uma chance para ele te mostrar que pode ser diferente. Ele parece mais comprometido do que nunca.

Antes que Niandra pudesse responder, Richard finalmente se aproximou, a carta cuidadosamente dobrada em suas mãos. Ele hesitou por um momento, observando a dinâmica entre as duas, mas Maria Júlia logo percebeu o que estava acontecendo.

— Acho que vou deixá-los a sós — disse Maria Júlia com um leve sorriso, se afastando.

Niandra virou-se para Richard, encontrando seus olhos. Havia algo diferente no olhar dele. Talvez fosse a mistura de nervosismo e determinação, mas ela sentiu que ele estava sendo sincero como nunca antes.

— Niandra... — Richard começou, estendendo a carta. — Eu escrevi isso para você. Sei que talvez não mude tudo de imediato, mas... eu queria que você soubesse o que estou sentindo. Não só pelo projeto, mas... por nós.

Ela pegou a carta, sentindo o peso simbólico daquele pedaço de papel, e olhou para ele com seriedade.

— Eu vou ler, Richard. Mas, como eu disse antes, o que realmente importa para mim são as suas ações daqui para frente.

Ele assentiu, sabendo que as palavras ali escritas não seriam o suficiente, mas que eram o primeiro passo.

— Eu sei, Niandra. E estou disposto a provar isso, todos os dias. Não só para você, mas para o projeto, para as crianças... e para o time.

Ela franziu a testa por um momento, confusa.

— O time?

Richard deu um pequeno sorriso, um tanto nervoso.

— Sim, sobre isso... Eu vou estar um pouco ocupado esta semana. Temos um jogo muito importante... — Ele parou, respirando fundo antes de continuar. — No Palmeiras.

Niandra piscou, surpresa. Ela sabia que Richard jogava futebol, mas não havia entendido completamente o quanto aquilo fazia parte da vida dele. Agora fazia sentido, a pressão que ele enfrentava diariamente, dividindo seu tempo entre o projeto e o esporte.

— Eu não sabia que era tão importante assim — disse Niandra, tentando processar as informações.

Richard sorriu, um tanto envergonhado.

— É. Eu nunca quis usar isso como desculpa, mas o futebol faz parte de quem eu sou. Assim como o projeto faz parte de quem você é. Eu jogo no Palmeiras, e essa semana teremos um dos jogos mais importantes do campeonato. Eu prometo que depois disso, estarei de volta, 100% focado em tudo aqui. Mas eu queria que você soubesse o quanto estou comprometido com tudo isso. Com você.

Niandra olhou para ele, seus olhos suavizando aos poucos. Ela sabia o quanto era difícil equilibrar tantas responsabilidades e, pela primeira vez, talvez estivesse vendo o verdadeiro Richard. Não apenas o homem do projeto, mas alguém que, assim como ela, tinha suas próprias paixões e desafios.

— Então você vai jogar esse jogo importante... — ela disse, com um sorriso leve surgindo nos lábios. — E depois, vai voltar aqui para continuar provando que vale a pena?

Richard riu, aliviado por ela estar levando tudo de forma mais leve do que ele esperava.

— Exatamente. Vou dar o meu melhor em campo e depois, o meu melhor aqui. Prometo.

Niandra balançou a cabeça, ainda sorrindo.

— Tudo bem, Richard. Eu entendo. Mas espero que, quando voltar, você esteja pronto para dar tudo de si aqui também. Porque este projeto precisa de você, assim como você precisa dele.

— Eu sei — disse ele, mais sério agora. — E eu vou estar pronto.

Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos, um silêncio confortável, onde ambos pareciam compreender que as palavras eram apenas o começo. O que viria a seguir dependia das ações de Richard, e Niandra estava disposta a observá-las de perto.

— Boa sorte no jogo, Richard — disse ela, finalmente.

— Obrigado, Niandra. E obrigado por me dar essa chance.

Enquanto Richard se afastava, Niandra ficou olhando para a carta em suas mãos. Algo nela dizia que aquele era o começo de algo novo, talvez mais profundo do que ela esperava. E, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que talvez estivesse pronta para ver onde isso iria dar.

Maria Júlia, que observava de longe, se aproximou novamente com um sorriso no rosto.

— E aí, Ni? O que acha de namorar um jogador do Palmeiras?

Niandra riu, balançando a cabeça.

— Vamos ver, Maju. Vamos ver...

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⏰ Última atualização: Sep 21 ⏰

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