Capítulo 3: Niandra

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Niandra Cruz acordou com o som da tempestade ainda ecoando em seus ouvidos. A noite havia sido longa e inquieta, repleta de sonhos perturbadores e lembranças vívidas do encontro com Richard. Ela se levantou lentamente, sentindo o corpo dolorido pela tensão acumulada.

No estúdio, a atmosfera era de urgência. O prazo do projeto estava cada vez mais próximo, e todos pareciam sentir a pressão. Niandra se jogou no trabalho com uma intensidade renovada, determinada a provar a si mesma que podia superar qualquer obstáculo.

"Niandra, você tem um minuto?" A voz de Carla interrompeu seus pensamentos.

Niandra suspirou, levantando os olhos dos esboços. "Claro, o que foi?"

"Eu sei que você está sob muita pressão, mas talvez precise de um tempo para si mesma. Está trabalhando sem parar."

"Estou bem, Carla. Só preciso terminar isso."

Carla assentiu, mas sua preocupação era evidente. "Se precisar de algo, estou aqui."

Niandra tentou se concentrar, mas sua mente continuava a vagar. O rosto de Richard, seus olhos cheios de raiva e, depois, de arrependimento, continuavam a assombrá-la. Ela pegou o celular, olhando para a mensagem não enviada da noite anterior. Decidiu deletá-la, afastando qualquer tentação de entrar em contato.

Durante o almoço, Niandra sentou-se sozinha, tentando aproveitar alguns minutos de paz. O estúdio estava silencioso, exceto pelo som distante de teclados e canetas rabiscando.

"Ei, Niandra, quer sair para comer algo diferente hoje?" perguntou Julia, outra colega de trabalho.

"Não, obrigada. Vou só comer algo rápido aqui mesmo."

Julia hesitou por um momento antes de sair. Niandra sabia que seus colegas estavam preocupados, mas ela não podia se dar ao luxo de distrair-se. O trabalho era sua prioridade, e nada podia interferir nisso.

A tarde passou em um borrão de esboços e revisões. Niandra se perdeu no fluxo criativo, esquecendo temporariamente seus problemas pessoais. Quando finalmente levantou a cabeça, percebeu que o estúdio estava quase vazio. A noite já caía, e a cidade começava a se iluminar lá fora.

Niandra decidiu fazer uma caminhada para clarear a mente, tal como havia feito na noite anterior. Pegou seu casaco e saiu, sentindo o ar frio e úmido contra sua pele. As ruas estavam molhadas pela tempestade recente, e as luzes refletiam nas poças d'água, criando um efeito hipnótico.

Enquanto caminhava, seus pensamentos voltaram a Richard. Ela tentou afastá-los, mas era inútil. A raiva e a frustração ainda estavam ali, mas havia algo mais profundo que ela não conseguia identificar.

Ao passar por uma livraria, Niandra decidiu entrar. Adorava perder-se entre os livros, e talvez isso a ajudasse a distrair-se. Caminhou pelas prateleiras, passando os dedos pelas lombadas, sentindo a textura familiar do papel.

"Posso ajudar com algo?" perguntou o atendente, um jovem de sorriso amigável.

"Não, só estou olhando. Obrigada."

Ela continuou a explorar, até que um livro sobre meditação chamou sua atenção. Niandra nunca havia considerado meditação, mas talvez fosse o que precisava para acalmar sua mente turbulenta. Pegou o livro e dirigiu-se ao caixa.

De volta ao apartamento, Niandra preparou uma xícara de chá e sentou-se no sofá, abrindo o livro de meditação. As primeiras páginas falavam sobre a importância de encontrar um equilíbrio interno e de como a meditação podia ajudar a clarear a mente e reduzir o estresse.

Ela decidiu tentar. Sentou-se no chão, fechou os olhos e começou a seguir as instruções do livro. Respirou fundo, tentando focar apenas na respiração e deixar os pensamentos passarem sem se prender a eles.

Foi mais difícil do que esperava. A imagem de Richard continuava a surgir, e Niandra lutava para afastá-la. Após alguns minutos, desistiu e abriu os olhos, frustrada. Mas decidiu que não desistiria tão facilmente. Precisava encontrar uma maneira de lidar com suas emoções.

Nos dias seguintes, Niandra fez da meditação uma parte de sua rotina. Embora não fosse uma solução imediata, ajudava a acalmar sua mente e a lidar melhor com a pressão do trabalho. Gradualmente, começou a sentir-se mais no controle de suas emoções, embora soubesse que ainda havia um longo caminho pela frente.

Uma noite, enquanto estava no estúdio trabalhando até tarde, recebeu uma mensagem de Carla. "Vamos sair para uma bebida? Acho que você precisa de uma pausa."

Niandra hesitou, mas sabia que Carla estava certa. Talvez uma noite fora ajudasse a espairecer. Respondeu afirmativamente e desligou o computador, pronta para uma pausa necessária.

Elas se encontraram em um bar acolhedor no centro da cidade. O ambiente era descontraído, com uma música suave tocando ao fundo. Carla já estava lá, com duas bebidas na mesa.

"Precisamos brindar ao fim desse projeto," disse Carla, entregando uma bebida a Niandra.

Niandra sorriu pela primeira vez em dias. "Com certeza. Ao fim do projeto e ao começo de uma nova fase."

Enquanto brindavam, Niandra sentiu um peso sair de seus ombros. Talvez, com o tempo, ela e Richard pudessem encontrar um jeito de resolver suas diferenças. Mas, por enquanto, ela estava focada em encontrar seu próprio equilíbrio e continuar a seguir em frente.

E assim, no meio da agitação incessante da cidade, Niandra começava a encontrar sua paz interior, um passo de cada vez.

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