I - Nós não temos um relacionamento.

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NOT A RELASHIONSHIP GANHOU TIM TIM TIM

Vão ser capítulos curtitos via de regra, provavelmente não vai ter muitos capítulos, quando eu atualizar normalmente serão 2 por dia. 

Espero que gostem dessa aqui também, mais a noite eu posto outro. 

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Minha segunda assistente e eu não temos um relacionamento.

Se você me perguntar, terei que admitir que Andrea é incrivelmente competente. Ela é diligente, organizada e raramente comete erros. Não me surpreenderia se fosse promovida em breve, talvez até antes do esperado. Andrea Sachs tem talento, um daqueles raros que vejo nascer diretamente sob meu comando. Em algum momento, ela se tornará uma jornalista brilhante, e o mundo terá que reconhecer isso. Será, sem dúvida, a melhor profissional que já tive o prazer de moldar.

Há algo em sua personalidade que me intriga. Andrea tem uma gentileza natural, uma suavidade que atrai as pessoas ao seu redor como se fosse uma força invisível. Até mesmo Emily, que normalmente mantém uma distância gélida e um olhar de desdém, sucumbiu à sua presença. Os sorrisos incansáveis de Andrea, essa constante oferta de cordialidade, quebraram a barreira de hostilidade que Emily parecia carregar desde sempre. Nigel, por sua vez, foi cativado em questão de dias. Ele mal disfarça sua admiração por ela, como se já a visse como alguém de destaque, um diamante bruto.

Eu, porém, não a conheço tão bem. Ao menos, não mais do que os outros. Sei que ela é reservada quanto à própria vida, raramente revelando detalhes íntimos. Sei que prefere sabores amargos, mas paradoxalmente só bebe café quando está absurdamente doce. Sei que suas roupas largas e confortáveis são seu verdadeiro estilo, ainda que ela sempre vista grifes impecáveis para me agradar, como uma armadura contra o que ela pensa que espero dela. Cachorros grandes parecem ser sua paixão, algo que vejo refletido em sua própria lealdade silenciosa. Crianças, no entanto, a deixam desconcertada.

E também sei que ela faz um som delicioso quando atinge o clímax.

Mas isso, infelizmente, é tudo o que sei sobre Andrea. Não sei sua cor favorita, o seu nome do meio, se ela tem irmãos, ou sequer se seus pais ainda estão vivos.

Nós não temos um relacionamento.

Não há intimidade emocional. Não deitamos juntas para falar sobre nossos dias, não trocamos confidências no silêncio da noite. Não compartilhamos gentilezas, palavras sutis, ou gestos carinhosos. Ela não me convida para jantares, não elabora encontros românticos, e jamais suspira com desejo ao me ver entrar em uma sala. Eu não acelero o coração dela; ao menos, não da maneira que deveria.

Andrea e eu não temos um relacionamento. Ela simplesmente usa o meu corpo quando se sente entediada, como se fosse uma fuga temporária para sua própria solidão.

— Não vai dormir aqui? — Perguntei, embora a resposta fosse previsível. O silêncio que se seguiu apenas confirmou o que eu já sabia.

Andrea só dormia na minha casa aos sábados, como se houvesse uma regra tácita, uma fronteira invisível que ela se recusava a atravessar em outros dias.

— Não. — O murmúrio saiu de seus lábios enquanto ela deslizava a calça de linho pelas pernas pálidas, agora marcadas pelas minhas unhas e mordidas. As marcas vermelhas em contraste com sua pele clara eram quase um lembrete de tudo que tínhamos feito. Mas, como sempre, ela vestia a mesma indiferença ao redor de si, como uma segunda pele.

Andrea tinha muitas cicatrizes pelo corpo. Algumas, eu sabia que eram de minha autoria, resultado de noites intensas como esta. Porém, as outras... Nunca mencionou, nunca explicou. E eu, por algum motivo, nunca insisti. A ideia de saber mais sobre ela, de explorar o que se escondia por trás daquela fachada, era atraente. Mas também aterrorizante. Talvez, no fundo, eu preferisse o mistério.

— Vai para casa? — Outra pergunta inútil, porque ela nunca respondia.

Ela se inclinou sobre mim, seu corpo firme e dominante, a sombra do silêncio pairando entre nós. Em vez de palavras, ela usou a língua. Andrea sempre fazia isso — invadia minha boca com beijos bruscos, carregados de uma urgência quase agressiva. Sua língua deslizava sem gentileza, e o beijo terminava, como sempre, com uma mordida nos meus lábios. Uma mordida dolorosa, quase cruel. 

Era seu jeito de me mandar calar a boca. E eu sempre obedecia.

Ela se levantou sem pressa, ajeitando as roupas como se a tensão que havia entre nós fosse insignificante.

— Te vejo amanhã no trabalho. — Suas palavras saíram rápidas, desprovidas de emoção.

Eu poderia ter respondido qualquer coisa, mas apenas suspirei.

— Certo.

E foi isso. Ela saiu do quarto sem olhar para trás, sem uma última palavra. Era sempre assim. A frieza metódica de Andrea me atormentava, mas, ao mesmo tempo, eu me via atraída por isso.

Houve apenas duas ocasiões em que vi qualquer rachadura em sua impecável armadura.

A primeira foi quando um homem apareceu na Runway, alto, alguns anos mais velho do que eu, com a expressão severa de quem estava prestes a causar uma cena. Ele exigia ver Andrea. Sua voz firme ecoava pelos corredores, e todos os olhares se voltaram para aquele estranho que ousava invadir nosso santuário de perfeição e controle. Andrea, normalmente inabalável, mostrou um momento de hesitação. Seus olhos, que sempre carregavam uma confiança quase desafiadora, vacilaram por um breve instante.

Foi a primeira vez que ela recorreu ao fato de ser a amante da chefe. Com uma calma tensa, ela entrou no meu escritório e pediu para sair mais cedo naquele dia. Sem explicações, sem maiores detalhes. Apenas um pedido direto. Eu deveria ter questionado, insistido em saber mais. Mas, por alguma razão, deixei passar. Talvez fosse o tom de sua voz, ou o modo como seus olhos evitavam os meus. Algo nela, naquele momento, me fez ceder sem resistência.

A segunda vez que Andrea deixou sua fachada escorregar foi em um fim de tarde qualquer, quando a vi, por acaso, no parque. O cenário era desconcertante. Ela estava sentada em um banco, com uma criança no colo. Não parecia algo casual, muito menos alguém que ela conhecera ali. Seus braços envolviam o menino com um cuidado que eu nunca a vira demonstrar antes, como se aquele instante fosse infinitamente mais importante do que qualquer coisa que já tivesse vivido. O rosto dela, sempre controlado, tinha uma suavidade desconhecida. O sorriso que ela esboçava para a criança era genuíno, sem máscaras, sem as camadas de proteção que costumava erguer entre ela e o mundo.

Ela nunca me disse quem ele era. E eu, fiel à minha natureza, jamais perguntei.


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