V - Eu realmente gosto de crianças.

326 47 11
                                    

A MÃE TARDA MAS NÃO FALHA EIN, FALTA QUAL?

---------------------------------------

Eu tive duas filhas, duas pequenas coisinhas ruivas que hoje têm 13 anos de idade. Gêmeas. Eu as amo mais do que qualquer outra coisa que existe no mundo, embora às vezes me pergunte se alguém mais perceberia o quanto são absolutamente adoráveis e pegajosas. Caroline e Cassidy. Elas têm uma habilidade quase sobrenatural de preencher a casa com risos e caos. E, apesar de toda a minha pose de distanciamento, sempre amei esse barulho.

Eu teria tido mais filhos se pudesse. Cinco sempre foi meu número ideal. E, claro, eu tenho dinheiro o suficiente para isso. Mas, depois do desastre que foi meu relacionamento com o pai das meninas, esse desejo se tornou uma fantasia distante. Não arriscaria trazer outra criança ao mundo apenas para ter que lidar com outro incompetente, outro fracasso matrimonial. Com o passar dos anos, aprendi a apreciar a tranquilidade que vem com não depender de ninguém.

Admito que, de forma desconcertante, me senti absolutamente feliz ao chegar em casa naquela noite e reunir as quatro crianças na sala. O que começou como uma situação desconfortável e inesperada — Matteo e Luke sob minha responsabilidade — se transformou em algo que quase me surpreendeu. Matteo, com sua postura protetora, segurava Luke no colo, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Do outro lado do sofá, Caroline estava deitada, apoiando a cabeça no colo de Cassidy, e, por algum milagre, as gêmeas pareciam tranquilas, absorvidas em seu próprio mundo.

Era uma imagem de serenidade que eu não esperava encontrar. E, embora eu relutasse em admitir isso, até para mim mesma, senti uma estranha paz ao ver aquelas crianças juntas, sob meu teto. Por um breve instante, uma ideia desconfortável passou pela minha mente: Eu poderia viver assim.

Matteo e Luke pareciam se encaixar naquele ambiente de forma quase perfeita. Matteo, com sua maturidade forçada, era muito mais responsável do que qualquer garoto de 15 anos que eu conheci. Ele cuidava de Luke com uma ternura silenciosa que, por um momento, me lembrou de como eu era com Caroline e Cassidy quando eram mais novas. Por trás daquela fachada de adolescente durão, havia alguém que claramente fazia o melhor que podia para proteger seu irmão mais novo. E Luke, já adormecido, parecia um fardo leve em seus braços.

Caroline e Cassidy não pareciam nem um pouco incomodadas. Curiosas, claro, porque eu havia trazido dois estranhos para casa no meio da noite sem dar qualquer explicação. Mas não incomodadas.

— Esses são Luke e Matteo — eu disse, finalmente atraindo a atenção delas. Os olhares espantados das minhas filhas foram rapidamente trocados por sorrisos leves. — Eles ficarão aqui em casa por... algum tempo? Bom, até a irmã deles vir buscá-los, sabe Deus quando.

Revirei os olhos, em parte para aliviar a tensão que sentia. Minhas gêmeas riram. Elas sempre acharam graça no meu mau humor ácido, como se fosse uma performance. E, bem, talvez fosse.

— Prazer em conhecê-los — disseram, em uníssono, suas vozes carregadas de uma educação formal que, curiosamente, sempre pareciam reservar para desconhecidos.

— O prazer é todo meu — Matteo respondeu, dessa vez com uma calma inesperada. Ele era um bom garoto, isso ficou evidente. Quando não estava à beira de um colapso de nervos, havia uma maturidade impressionante nele, algo que era incomum em sua idade.

Deixei-os a sós na sala, permitindo que se conhecessem sem a minha presença pairando sobre eles. Fui até a cozinha, sentindo uma estranha alegria ao perceber que, por algum motivo, teria que cozinhar mais do que o normal naquela noite. Era um pensamento reconfortante, uma mudança de cenário que, embora inesperada, não me deixava desconfortável.

Not a RelashionshipOnde histórias criam vida. Descubra agora